Capítulo 57 - Traição

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Parecia uma caçada. Ele ali, diante de sua presa, apreciando a mais caricata expressão de pânico desenhada no olhar. Jeremy Mason estava parado rente à escrivaninha de Beterrabas, e a cama impedia que pudesse correr para um lado ou outro do quarto.

Fixando-o com maior furor, Cotton trancou a porta questionando-se como eles podiam ser tão resistentes, como a família Mason podia ser tão relutante em desaparecer, e percebendo-o trêmulo a proteger algumas pastas com firmeza, umedeceu os lábios e se aproximou.

— Jeremy Mason. Posso saber o que você está fazendo aqui? — questionou secamente, fixando-o com furor. Mesmo com o punho enfaixado, o monitor sentia a força transmitida pelo ódio diluindo-se pelas veias, despertando cada pequena ligação nervosa em sua pele — Eu não o havia ordenado que ficasse lá embaixo? Diga-me, quem o soltou sem minha autorização?

Jeremy apenas tremia, as pastas que trouxera consigo agarradas com força, e os olhos arregalados, desenhados em temor.

— Professor, eu...

— Era escuro demais para você, garoto mijão? Você não tem vergonha de passar a vida inteira agindo como coitadinho? Ocultando-se à sombra do seu irmão?

Houve silêncio, Jeremy não sabia o que responder. Envergonhado, apenas curvou a cabeça.

— O que foi? Vai chorar? — resmungou, a fúria destilada em cada palavra — Não sei quem é mais patético nesta família. Se Daniel e sua prepotência, Dan e sua arrogância, ou você, fraco e passivo.

— Professor, o senhor não entende, estamos todos em perigo — Mesmo assustado Jeremy procurou a voz. Sabia que o tempo era precioso, e que a cada minuto o mal se enraizava pelas paredes — Tem algo muito ruim acontecendo aqui. Charles Widmore...

— Oh céus, como você é insistente — Cotton revirou os olhos, caminhando para mais perto — Outra vez esta maldita história? Será que estão mesmo dispostos a levar esta encenação adiante? Será que não percebem o mal que podem fazer mexendo em um assunto que desconhecem? — sua sombra caiu sobre o menor e ele se encolheu — Toda vez que lidamos com aquilo que desconhecemos Jeremy, nos arriscamos a sofrer graves consequências.

O rapaz gaguejou, tentando controlar a respiração. Então Cotton fitou seus braços uma segunda vez, e as pastas por ele protegidas.

— E o que temos aqui? — questionou puxando-as, então fixou sua face apreensiva, abrindo-as em seguida — Então, realmente conseguiram juntar algumas peças — sorriu, meneando a cabeça sem desviar os olhos da documentação — Muito bem... Vocês foram mais longe do que eu imaginei. Mas agora, diga-me Jeremy, se são realmente tão espertos, chegaram a alguma conclusão quanto a tudo o que desenterraram?

— Professor, eu não...

— Vamos lá. Sem medo — ele o empurrou, fazendo com que se sentasse na cadeira. Agora, dando alguns passos em direção à cama, prosseguia em folhear os registros, surpreso por revê-los após tantos anos — Diga-me como os encontrou. Suponho que nas masmorras, certo? Antigos registros acadêmicos: um de Beterrabas, que certamente foi quem o disse para se esconder aqui; outro meu — ergueu os olhos e meneou a cabeça — e oh, este do seu querido titio Mason.

Jeremy apenas tremia, observando-o mostrar a fotografia. Foi quando Cotton abriu a pasta, deslizando os olhos pelas linhas desgastadas. Em seguida esboçou um sorriso.

— Eu jurava ter destruído estes registros anos atrás, isto é o que dá confiar certas tarefas a internos.

Houve um momento de silêncio, então o rapaz procurou a voz.

— Então, ele... é mesmo nosso parente?

— Quem? Daniel? Ora, e ainda restam dúvidas? — Cotton sorriu debochado, dando um passo até onde estava — Se o sobrenome não é suficiente para atestar o parentesco com os Mason, ter os mesmos traços de seu irmão ainda o deixaria cético? — ofegou — Pelo Arcanjo Jeremy, você é mais esperto que isto. Se Dan tivesse achado estes documentos já teria compreendido porque desde sempre tenho aversão à sua existência — jogou as pastas na escrivaninha, e Jeremy as aparou desajeitado. — O seu titio realmente estudou em Saint-Michel anos antes de vocês — deu de costas, refletindo sobre o passado — Eu e seu tio éramos "amigos", melhores amigos, diga-se de passagem, ao menos até a chegada... Dele.

O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora