Capítulo 17 - A Vila

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O coração batia agitado porque o cheiro dele era bastante agradável. A proximidade de Dan Mason transmitia segurança e calor.

Marlon estava rente a suas costas, os corpos colados, as mãos envoltas à sua cintura sentindo a égua galopar rapidamente, transportando-os pela estrada que cortava a densa floresta.

Para proteger o rosto das fortes rajadas de vento que vinham do norte, Gayler precisara apoiar a cabeça quase que dentro dos agasalhos do garoto, e assim, também podia ouvir as batidas frenéticas do seu coração. O vento zumbia em seus ouvidos e a neblina se espalhava pela colina como a fumaça de um incêndio gelado.

Eles cavalgaram por aproximadamente uma hora após deixarem Saint-Michel, em trotes contínuos sem pausas para respirar. As faces estavam congeladas, e Dan, parecia já não sentir as mãos fixas aos arreios. Ele virou-se um instante para conferir se Marlon estava bem, e foi aí que para seu alívio os cascos da égua enfim bateram com força nas primeiras pedras soltas, e reduzindo a velocidade, percebeu erguendo-se para além das folhagens os primeiros sinais de civilização.

— O que houve? — às costas Marlon retrucou. Agora podia observar postes que clareavam as ruas distantes e prediozinhos construídos em tijolinhos de barro. A nova imagem de alguma forma fê-lo sentir-se diferente, e um sorriso emoldurou os lábios — Chegamos?

Acho que sim — Mason tremulava quando fez a égua parar às margens da mata, e observando-o descer de mau jeito, seguiu seu exemplo — Eu não me lembrava de como as noites podiam ser tão frias — levara as mãos ao rosto tentando aquecer as bochechas e percebeu que Gayler também batia os dentes.

— Bastante — o rapaz murmurou, dando meia volta a observar as ruas silenciosas. Era tarde da noite — Espero que encontremos um lugar fechado para nos aquecer, o mais rápido possível — Olhava para todos os lados, a floresta ainda os rodeava, e à frente, a cidade parecia dormir.

— Um lugar para nos aquecer? — Mason zombou postando-se ao lado, passando a bolsa com os objetos que dele surrupiara — Você acha mesmo que a cidade receberia numa boa dois internos de Saint-Michel?

— E por que não? — Marlon retrucou confuso, observando a neblina dançar pelas avenidas, envolvendo os postes e as casas. As luzinhas de natal piscavam distantes, nas árvores escondidas além das janelinhas fechadas.

— Não está mais que na cara Gayler? Para o vilarejo, não importa que história inventemos. Eles acreditam que o monastério não passa de um reformatório para rapazes delinquentes.

— Mas isto não é verdade — o garoto protestou olhando para ele.

— Verdade ou não, para os moradores tanto faz. A eles basta o que os freis contam há anos.

Marlon bufou sentindo-se contrariado, mas no fundo o que Dan disse fazia algum sentido, do contrário, qualquer um fugiria de Saint-Michel. Foi então que se recordou de Jeremy, e quando percebeu, outra vez estava fazendo perguntas pessoais. Era inevitável.

— Quando vocês tentaram fugir da primeira vez, digo, você e o Jeremy, o que houve? — Dan virou-se a observá-lo, e Marlon precisou esclarecer — Perdão, ficar trancado tanto tempo faz-nos ouvir histórias.

Mason meneou a cabeça voltando a conferir o caminho adiante.

— Jeremy passou muito mal — explicou por fim, parecendo recordar-se daquela ocasião — Não foi por causa dos moradores, como a maioria diz, mas também... — Ajeitou melhor os agasalhos, e indicou a avenida para onde seguiram — Este não é um assunto para discutirmos aqui. Vamos.

Deixaram a floresta e atravessaram pela intensa neblina que tudo ocultava, correndo para proteger-se abaixo das marquises. O vento continuava a zumbir, balançando os pinheiros e espalhando o som que vinha da mata. O coração de Gayler palpitava acelerado.

O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora