Capítulo 44 - Reencontro

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Perplexo, o bispo observava a imagem angustiante à sua frente. Nunca vira algo assim na vida, e vivera muito tempo. Não sabia bem como aconteceu, mas em um instante tentava acalmar o garoto em surto, e no outro, ele estava sobre Alex Cotton, estraçalhando seu pulso com os dentes.

Fora uma imagem animalesca, aterrorizante. Ainda se perguntava como conseguira tirá-lo de cima do monitor, como conseguira, com a força do próprio corpo, remover Marlon Gayler de sobre o homem e então, com ajuda de um padre-diretor assustado, puxar o ferido para fora, até poder trancar a porta.

As imagens de Cotton se contorcendo de dor não iriam sair da cabeça, e agora compreendia que aquilo era real, não se tratava de um surto, o interno Marlon Gayler estava possuído por algo ruim.

Enquanto refletia, ouviu a voz do padre retrucar:

— Ora, seja forte Cotton, é preciso dar pontos ou não vai parar de sangrar.

— Aquele maldito garoto. Eu o quero trancafiado nas masmorras, eu o quero punido com severidade.

A manga do hábito de Alex Cotton estava ensopada de sangue. Marlon o ferira com os dentes, e por pouco não acertara uma veia importante. Era um milagre o que ocorrera, mas ainda assim temia que algo pior acontecesse. O rapaz ficara sozinho, e embora trancado, não havia garantias de que não pudesse causar algum estrago.

— Frei Inácio — ele gritou por um dos homens que estava ali, aquele que viera da lavanderia há pouco tempo — O que houve com o frei Jardineiro? Diga-me que ele já chegou com o médico, estamos com um grave problema esta noite.

O frei estava trêmulo, tudo aquilo era muita coisa para sua cabeça. De todos os anos que vivera em Saint-Michel, aquela madrugada estava sendo a mais sombria.

— Ainda não há notícias padre. Devido à nevasca as estradas estão bastante congeladas, então, temo que não consiga retornar antes do amanhecer.

— Deus nos ajude — o bispo respirou fundo, olhando ao redor. Vários velhos curiosos observavam Alex Cotton recebendo os pontos no local da mordida — Precisamos fazer algo, eu... quero que alguém, um frei mais jovem, suba até o segundo andar e faça vigília frente ao quarto do interno Marlon Gayler — ele os encarou, e então engoliu em seco — E quem não deseja ter uma noite de dor como ocorre aos três últimos irmãos que foram trazidos para este corredor, aconselho que mantenha-se longe daquelas portas, e em preces contínuas a Deus.

— Mas, o que de fato está acontecendo bispo? Ainda não sabemos com o que estamos lidando, e os menores...

— Acredito que com algo muito sério frei. Por anos achei que coisa assim já não acontecesse facilmente, mas, tudo indica que estamos lidando com um caso de possessão demoníaca.

— Possessão demoníaca? — Vozes de surpresa ecoaram, e os freis mais velhos fizeram o sinal da cruz. O bispo prosseguiu:

— No entanto não devemos temer. Se Deus está ao nosso lado, quem será contra nós?

O padre-diretor auxiliava o frei que fazia o curativo em Alex Cotton. Ele ouvia o bispo revelar o que ocorria no segundo andar, e sentia-se perder as rédeas da situação cada vez mais. Por dentro estava em fúria, e mesmo não tendo explicações para tudo o que vira acontecer, recusava-se a acreditar em possessões. Este tipo de coisas acontecia apenas em locais onde Deus não estava, e Saint-Michel era sua morada.

A voz do bispo prosseguiu:

— Quero que os internos sejam removidos do salão comum para a sala da capela. Esta será uma noite de preces pelo garoto Marlon Gayler e pelos feridos. Ninguém deve sair da capela até segunda ordem. Entendido?

O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora