Capítulo 13 - Murmúrios

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Horas depois, Marlon estava novamente sentado em seu lugar, na mesa localizada na lateral do salão comum, era o jantar. Sem dúvidas, aquela noite estava mais agitada que o normal, talvez devido ao frio.

Reunidos no elevado, os freis não se importavam com os murmúrios que vinham das mesas mais abaixo, e uma coisa era certa, assim como os internos, discutiam sobre os acontecimentos no monastério.

Os velhotes estavam bastante apreensivos para saber o quê havia mexido com a paz do lugar, pois, de algumas semanas para cá, Saint-Michel estava diferente. Deixara de ser um ambiente silencioso, para encher-se de murmúrios e fofocas pelos corredores: Internos que tentavam agredir professores, outros que perturbavam o descanso de anciões. Desrespeito ao toque de recolher, ridículas histórias sobre fantasmas, e uma maldita infestação de ratos, que por mais que fossem abatidos diariamente, pareciam se multiplicar como peste.

Marlon podia recordar os olhares tortos de Alex Cotton na diretoria, e lembrou-se da manhã que se encontrara com Dan no jardim a fim de pedir de volta o celular, e então de dias depois, quando o impediu de agredir o monitor. Agora podia compreender os motivos do superior. Por mais que não andasse com os irmãos, acabara associado a eles indiretamente.

"Tenho certeza que é cúmplice de Mason".

No fim Gurkievicz tinha razão ao aconselhá-lo manter-se longe do garoto problemático, mas é claro que Marlon nunca daria ouvidos àquilo, afinal, não comparava Saint-Michel a uma colônia de férias. Fora parar ali contra a vontade, e se encontrara em Dan alguém que pensava de igual forma, por que se afastaria? Portanto, se colocar fogo naquelas paredes fizesse parte do plano do garoto de orelhas pontudas, este podia contar com sua ajuda.

Pensar nas orelhas dele fez Marlon perder-se por um momento. Estava remexendo o cozido enquanto recordava a conversa lá embaixo. Seu desejo era visitá-lo novamente quando a madrugada caísse, levar algo para se alimentar e tentar sondar algo mais sobre o plano. Todavia, precisava se controlar, fazer como aconselhado.

Iria evitar voltar ao subsolo ao menos por uma noite. Manter-se-ia nas dependências atento aos murmúrios, desejando que Mason fosse solto o mais rápido possível.

Dan podia até ser um idiota misterioso, mas devia saber o que estava fazendo. Se ele dissera que informações faziam parte do plano, restava a Gayler lutar contra seus impulsos, e confiar.

Com os pensamentos distantes ele percebeu os murmúrios cessarem aos poucos. Ergueu a cabeça para ver o que acontecia, e acompanhando o vulto do hábito escuro a seguir pelo corredor, observou o padre-diretor alcançar o elevado onde os freis se viraram a observá-lo.

O homem estava sério, trazia nas mãos um mediano envelope e Alex Cotton o seguia pelas costas, com a mesma feição dura daquela manhã. Marlon ajeitou-se no banco, e assim como os demais, empurrou o prato para o centro da mesa.

O padre-diretor subiu a escadinha auxiliado por um dos freis, e cumprimentando-os, posicionou-se à frente.

— Boa noite rapazes — disse, mas não aguardou respostas — Acredito que todos estejam ansiosos pelo fim de semana que se aproxima, correto? — ele fez uma pausa, então continuou — É de se esperar. Muitos aqui não veem os familiares há meses, e alguns, posso assim dizer, há anos — outra pausa — Mas o motivo de ter solicitado atenção, no entanto, não é o de deixá-los ainda mais ansiosos, e sim, o de compartilhar uma decisão que tomei há pouco. Decisão esta, que será motivo de alegria para alguns — ele virou-se um instante — e acredito que de descontentamento para outros. — completou encarando Alex Cotton, então, ajeitando os óculos, voltou a olhar para as fileiras de internos.

"Diferente do que ocorre anualmente em Saint-Michel, como todos já devem estar familiarizados, neste inverno decidi por abrir uma exceção nos costumes, e permitir que após bastante tempo, a antiga celebração de natal volte a ser realizada em nossas dependências".

O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora