Capítulo 61 - Onde o choro não pode ser ouvido

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Subidas e descidas, altos e baixos. A trajetória de Dan Mason fora a mais confusa desde o dia que nascera. Cresceu tendo que reprimir seus impulsos, envolvera-se na morte dos pais, prejudicara a vida do irmão condenando-o a crescer em um internato.

Enquanto descia o corredor frio que conduzia para a escuridão, sentia como se vozes deixassem aquelas paredes, sussurrando sobre o passado, tentando fazê-lo intimidar. Mas, ele não podia simplesmente parar, pois não havia do que se envergonhar, ele assumia seus erros, e sempre que possível, tentava compensá-los.

Diferente de Daniel Mason que tudo buscou esquecer, ele voltara por Marlon Gayler. Diferente de Cotton, que tudo tentou ocultar, ele assumira sua parcela de culpa na morte dos pais. Portanto não, aquela escuridão estava errada quanto a seu caráter. Ele era uma boa pessoa, e aquela masmorra não iria dizer o contrário.

Com uma lamparina em mãos, alcançou a escadaria que conduzia para o segundo subsolo. Dirigira-se a ela tantas vezes, pois lá no fundo, nas entranhas da colina era onde as lideranças tinham o prazer de fazer calar os mais problemáticos. Dirigira-se àqueles degraus circulares tantas vezes, que imaginara serem eles a própria garganta do dragão, condenado pelo Arcanjo, e que agora, fundido às entranhas da terra, conduzia os condenados para a tormenta.

Quando a claridade revelou o andar mais baixo do monastério, largo e obscuro, Mason olhou outra vez para o breu e ratos se afastavam assustados. Ele foi passando em frente às portinhas, uma a uma, e parando diante daquela onde sempre era aprisionado, recordou-se da noite em que Marlon descera ali para fazer-lhe companhia.

Estava tão faminto, e mesmo tendo sido várias vezes rude, Marlon descera ali para ver se estava bem. Ele não se arrependia de nada, não se arrependia de ter ficado com ele, de ter incluído-o a seus planos, adotando-o como se fosse parte da família. Marlon agora já não era Marlon Gayler apenas, Marlon era um Mason, e seria um Mason se conseguissem sair dali.

Ele caminhou, o coração palpitava acelerado e de repente sentiu arrepios gélidos subindo pelas costas. Sentiu olhos postos sobre si, então se virou de supetão, procurando algo no escuro. Tudo cheirava a mofo, e pó caía vagarosamente, pintando o chão de branco.

— Beterrabas? — sua voz ecoou no breu, e tateando a testa, percebeu a poeira cobrindo-o imperceptivelmente. Havia algum problema nas estruturas do lugar — Beterrabas, apareça. Não adianta se esconder, eu sei que está aqui.

Todavia não houve ruídos, apenas ratos correndo dos cantos das paredes, rumo à saída, e o som de água gotejando no distante. Ele tornou a olhar novamente para o caminho, e erguendo a lamparina, lançou a claridade adiante.

— Frei Beterrabas, apareça de uma vez. Eu sei o que aconteceu, e sei que você está escondido aqui embaixo.

— Se sabe o que aconteceu, não deveria estar aqui Dan Mason — De repente, assustou-se, e erguendo a lamparina fez seu brilho alcançar a região mais escura, vendo no centro dela uma silhueta se projetando, vinda de algum lugar — Se sabe o que aconteceu, também sabe que deveria estar longe deste lugar — Beterrabas aproximou-se em passos cansados, completamente sujo, e parou frente a frente do rapaz. Estava mais magro, os olhos fundos e sensíveis à claridade. A exemplo dele, carregava uma lamparina — Eu disse a Jeremy que o tempo estava acabando, por que não me ouviram?

— Gayler está sob domínio de Charles Widmore. Gayler precisa de sua ajuda, do contrário...

— Não Dan, você não compreende. Eu não posso fazer mais nada por vocês — ele fixou-o, e Dan percebeu seus olhos assustados — Desde aquela noite venho tentando ajudá-los, mas nada que fiz deu certo... então, agora já não há nada a ser feito.

O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora