O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]

Capítulo 32 - Crepúsculo dos Irmãos

O movimento no salão tornou-se intenso quando o jantar fora anunciado. Lado a lado, os internos sentavam-se ao redor das mesas a fim de servir-se de sopa, e temerosos, conversavam baixinho sobre os acontecimentos recentes. Lá fora o vento sussurrava balançando os portões, e do lado de dentro, o medo era perceptível na expressão de todos.

Ajeitando-se na lateral da mesa, Dan Mason encarou Jeremy por um momento, mas o garoto sequer ergueu os olhos para demonstrar se o havia perdoado ou não, deixando claro com sua atitude, que não superara a ignorância do irmão. Aquilo corroia Dan, fazendo-o lembrar-se de tudo pelo que passaram, para chegando àquele momento, quando mais precisava que estivessem unidos, Jeremy pôr-se a evitá-lo.

Respirando fundo, desviou os olhos de sua silhueta e fixou a porta. Por ela, o padre-diretor acompanhado pelo bispo e Alex Cotton entrou caminhando em direção ao elevado. Ele ficou a observar o movimento dos clérigos, e na mente, o questionamento alfinetava: Teriam eles feito algo a Marlon Gayler?

Era estranho, muito estranho. Ninguém desaparecia assim, e agora, sabia que não podia ter fugido com Beterrabas, uma vez que a charrete e todos os cavalos permaneciam no estábulo, do mesmo jeito que o frei Mamute os deixara na tarde anterior. A única resposta era estarem juntos em algum lugar do prédio, trancados. Talvez se esconderam em algum armário no momento em que os freis começaram a acordar, e a porta houvesse travado, ou talvez... — ele olhou para o elevado, e percebeu Alex Cotton fixando-o com o olhar de rapina, então se virou novamente para frente — Ou talvez o frei Monitor e o diretor tivessem algo a ver com aquilo.

Afinal, teria Alex Cotton pego Marlon e Beterrabas quando se preparavam para fugir? Estaria o padre-diretor e o frei escondendo os dois como fizera há poucos dias com ele a fim de não gerar balburdias que despertassem a atenção do bispo?

Uma coisa era fato, o padre temia o superior de Palência, e desde que seu nome fora anunciado às porta de Saint-Michel, o velho agia com uma máscara de bom servo de Deus.

Com a mente cheia de dúvidas respirou fundo e voltou os olhos a Jeremy. Quando o menor percebeu que estava sendo encarado, disfarçou outra vez. Sua atitude fez Dan respirar mais fundo, desfazendo o laço que prendia a garganta. Ao menos sentiu aquilo como um gesto positivo, como se indicando que Jeremy não o odiava tanto como imaginou.

Ora, se ao menos o menor facilitasse. Dan queria apenas o melhor para ele, por que era tão difícil para Jeremy superar todos os murmúrios, todas aquelas histórias ridículas sobre fantasmas e garotos suicidas?

Sentindo-se cansado Mason olhou novamente para o elevado e percebeu Alex Cotton cochichando algo ao ouvido do padre. Ao seu lado, o bispo comia tranquilamente conversando com os demais velhotes, e uma espécie de sexto sentido alertava a Dan que aquele cochicho todo não era algo positivo. Desta forma, respirando fundo, voltou a observar Jeremy, buscando coragem para cutucá-lo.

— Hey Jer. Por favor, fale comigo — disse baixinho, de forma a somente ele ouvir. Jeremy Mason, no entanto, continuou calado, sem querer dialogar, remexendo as verduras que boiavam no caldo esverdeado — Jer — Dan prosseguiu, olhando rapidamente para os freis, e então tornando a ele — Eu estou com um mau pressentimento Jer, precisamos mais que nunca ficarmos unidos.

— Um mau pressentimento? — o garoto enfim rompeu o silêncio, virando-se rapidamente para ele com o olhar repreensivo — Ora céus. Que novidade não é mesmo Dan Mason? Um mau pressentimento. Aliás, ninguém aqui está com "maus pressentimentos" está noite, certo? — retrucou repreensivo e estranhamente houve um falhar das luzes. Assustados, todos olharam ao redor, mas aquilo parecera apenas uma falha passageira, já que a neve devia ter alcançado os geradores. Após um breve instante Jeremy voltou a cochichar: — Olhe ao redor grande bobalhão, todos estão assustados, todos sentem "maus pressentimentos", porém, diferente de como vem agindo, há um consenso de que algo anormal está acontecendo aqui.