Daniel observava pela janela a vasta floresta coberta de gelo. Com o escurecer, os cristaizinhos iam se unindo ao negrume, e logo o horizonte já era uma coisa só. Ele pressionava o nó dos dedos enquanto observava a noite chegar, e com os pensamentos distantes, não conseguia esquecer o nome com o qual o espírito maligno se apresentara.
Charles Widmore.
O sorriso do garoto ainda estava marcado em sua memória, a feição cálida e divertida, o jeitinho despojado e arrebatador. Quando o beijara pela primeira vez, viu naquela feição o espanto e pensou que havia feito algo terrível, até que tomando seu pescoço, ele retribuiu.
Fora naquela mesma floresta, mas em um dia claro de outono. As folhas cobriam os caminhos, tudo estava verde, e onde agora havia apenas o sussurro do vento, corvos grasnavam por todos os lados.
Talvez se não tivesse cedido àquele desejo, nada do que houve teria ocorrido. Talvez se não tivesse dado vazão aos sentimentos, ele ainda estaria ali, com aquele mesmo jeitinho acolhedor. Sentia-se culpado de alguma forma.
Virou-se, observando o recinto. O quarto era pequeno, mas aconchegante, simples como todos que ocupara ao longo da vida. A mobília era exatamente a mesma dos demais, e a única coisa que causava desagrado era a feição rude de Alex Cotton fitando-o, parado à porta. Ele ofegou, caminhando à cama.
— E então padre, confortável?
— Por que me odeia tanto Alex? O que fiz para que ao longo dos anos nossa amizade se transmutasse de parceria para rivalidade? — Daniel questionou.
— O que você fez? — Cotton zombou, era covarde demais para admitir a verdade — Você apenas demonstrou ser alguém hipócrita e arrogante, isto é o que fez.
— Hipócrita e arrogante? — Daniel meneou a cabeça, desfazendo a mala. Precisava passar água no rosto, sentia a pele imunda — Acho que nada diferente de você.
Cotton engoliu em seco ainda a observá-lo. Ao mesmo tempo em que queria dar o fora dali, tinha a necessidade de provocá-lo, de tirá-lo do sério. Deu um passo para próximo da cômoda.
— Você sabe que ele contará a verdade, não sabe? Que em um momento ou outro, contará tudo o que esconde.
Daniel ergueu os olhos fixando a parede à frente, e então o ignorou, voltando à mala.
— Verdade? Eu... eu não sei do que está falando.
— Não haja como um desmemoriado Mason, você sabe exatamente sobre o que estou falando — aproximou-se de supetão, e tomou seu braço. O exorcista se virou assustado, fixando a região pressionada, então se livrou dele.
— Mas o que você está fazendo? Perdeu o juízo?
— Eu não sei como seus sobrinhos descobriram, mas o que descobriram, compartilharam com Marlon Gayler. E, eu já não consigo imaginar onde tudo isso pode chegar.
Ele caminhou para a outra parte do quarto. Lá fora a neve voltara a cair mansamente. Respirou fundo.
— Quando vai entender Cotton, que aquilo no outro bloco, não é um garoto normal? — umedeceu os lábios, sentia a garganta arder — Aquilo é um demônio, você não tem noção do que são capazes, do quão astutos e persuasivos podem se apresentar — virou-se novamente — Em Palência vi exorcistas cuja carreira fora completamente prejudicada por estes seres, ouvi histórias de famílias destruídas por suas mentiras. Eles parecem donos da razão, mas em tudo o que falam, acrescentam destruição.
— Demônio ou não, ele tem objetivos — Cotton tornou a resmungar, observando-o silencioso — E você sabe quais são. Por anos eu e o diretor tentamos encobrir a verdade, e devo confessar que por muito tempo obtivemos sucesso, até que... — fixou-o de cima a baixo com ar de desprezo, e deu de costas, voltando à porta — Até que seu "eu" do passado resolveu aparecer em forma de Dan Mason.
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O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]
Romance"Internado contra a vontade em um colégio religioso liderado por freis, Marlon Gayler precisará unir-se a Dan Mason se quiser fugir. Dan é um rapaz igualmente problemático, arrogante e envolto por mistérios. É no curso do plano de fuga que um sentim...