Capítulo 58 - Tensão

825 100 47
                                    

Dan foi conduzido para fora do quarto, e o bispo tremia tentando imobilizá-lo. O clérigo não entendia o quê acontecia ali, mas sabia que algo muito grande envolvia todos aqueles personagens e mais um, o suposto espírito em Marlon Gayler. Tentara juntar as peças para chegar a uma solução que beneficiasse a todos, mas simplesmente não conseguia, as coisas evoluíam muito rapidamente, e agora, havia um diretor morto no corredor distante, uma criança sob a mira de um punhal, um monitor visivelmente descontrolado, e um jovem que queria a todo custo livrar o irmão com violência.

Tentou acalmá-lo.

— Dan, por favor, me ouça — ele o soltou, observando que estava trêmulo, ofegante, e se o bispo não tivesse se colocado entre eles naquele exato momento, uma desgraça teria acontecido aos três — Sei que não nos conhecemos, e sequer tivemos tempo para isso, mas... você precisa entender que este é um momento de maior cautela, e precisamos nos acalmar.

O garoto fixou seu olhar, o velho demonstrava verdade nas palavras, e ele tinha o coração acelerado.

— Marlon não está fingindo, você não percebe? Ele não prosseguiria com isto, não, sabendo que Jeremy está em risco. E aquele maldito do Alex Cotton, ele está ferindo meu irmão.

— Sim meu rapaz, eu percebo tudo isto — olhou para a porta, então tornou a ele, tomando-o pelo ombro, conduzindo para longe dos ruidosos freis que se aglomeravam ali — Por isso, compreendo que já não podemos continuar tratando o caso como algo que se resolverá apenas com preces, eu... pensei que imobilizando seu colega, teríamos tempo para descobrir o que fazer, mas como vê, o poder daquilo que o domina é mais astuto do que prevíamos. Aquilo matou um diretor, Aquilo está deixando Cotton louco, e se não for controlado, Aquilo vai ferir o seu irmão.

Dan sentia fúria dentro de si. Ódio daquele lugar, daquela situação, daquela história. Ódio daquele bispo cego, daquela religião preconceituosa, que a tudo dificultava, e em nada via beleza.

Virou-se para ele, cerrando os punhos.

Aquilo tem nome bispo, não se faça de idiota — ele praguejou, não se contendo — Há quinze anos Charles Widmore foi traído por aqueles que você chama de servos de Deus, e quando negou-se a colaborar com eles, para proteger a reputação de sua ordem, desencadeou em Saint-Michel os eventos que culminariam neste momento.

— Mas, do que está falando? — o bispo umedeceu os lábios. Pelo visto, Dan sabia mais do que pudera supor. Ele o puxou para uma região um pouco mais afastada. — Meu rapaz, por favor, conte-me tudo o que sabe. Eu... bem, você pode não confiar em mim, mas precisa saber que tenho tentado juntar as peças de tudo o que ouço para chegar a uma saída. Eu — ele olhou para o fim do corredor, e então voltou a Dan, engolindo em seco — Eu sei o quanto o diretor de Saint-Michel era corrupto, sei sobre o acordo dele com madame Beauvoir, sei do pecado de Widmore e do real parentesco dele com a criança. Mas, ainda não entendo como chegamos a isto. Se você tem algo a me dizer, o faça agora, por favor.

— Esta resposta deveria ter sido dada por seu padre, não? Por seu padre e por seus conservos.

— Sim, mas... o diretor morreu sem contar-me o que houve, e os meus "conservos", como bem observou, insistem em manter seus segredos.

— O diretor não morreu bispo — Dan dissera-lhe, preocupado com Jeremy, ouvindo as risadas de Marlon e o diálogo aquecido de Cotton e Daniel — Ainda não entendeu o que ele quis dizer? O diretor foi assassinado.

Assassinado? — o homem levou a mão ao coração, tocando o pequeno crucifixo que pendia ali. Então, perplexo, deu um passo para trás — Céus. Mas, isto é uma acusação muito grave.

O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora