"Alberto continuou indo às reuniões que aconteciam bem menos. Ninguém tomou a frente. Renato assumiu as palestras no centro que você costumava fazer e Raphael era cada vez menos visto nas poucas reuniões que a 'fé raciocinada' fazia."
— Alberto, eu não tenho mais condições de assumir essas reuniões. Também não tenho como continuar com o projeto de Hugo para moradores de rua. Raphael está distante desses assuntos em virtude de ter assumido o controle total das 3 lojas, tendo que, talvez, até fechar uma delas. Sei que você gostava muito de Hugo e ele de você. Também sei que tem aptidão para a caridade. Preciso de sua ajuda no controle dessas duas coisas. — disse Luiza — Preciso saber sua disponibilidade.
"Ele tentou, mas era jovem e tinha muitas outras obrigações. A faculdade estava longe de acabar, os debates na sua página eram constantes e o trabalho na loja estava tomando muito tempo. A sua falta também era um motivo de dor para ele. Apesar de todo o ensinamento, ele sente muito sua falta para orientá-lo. Ele marcava as reuniões, debatia fervorosamente, porém, não tinha a mesma calma que você, o mesmo controle. Com cinco meses ele já estava esgotado. O projeto era desgastante. Muitas pessoas o ajudavam, mas ele não conseguia tomar a frente. Renato assumiu o projeto que andava bem devagar, mesmo com o lugar praticamente pronto (faltavam apenas uns detalhes ou outros, não na obra, mas na estrutura de materiais). Júlio César também ajudou bastante, mas não era suficiente.
Tempos difíceis que foram amenizados pela presença de uma nova criança."
Nesse momento veio toda a imagem para mim. Eu vivi esse dia como se estivesse mesmo lá. Era uma sensação que eu precisava ter. Enquanto Leonardo falava eu viajei para o momento exato do nascimento de meu outro filho e ele, Leonardo, ia narrando a história que eu via em alta resolução.
"Luiza estava em casa com Ricardo e Alberto quando sua bolsa estourou. Raphael imediatamente foi contactado e, chegando bem rápido, os levou ao hospital:
— Aaaahh! Não estou aguentando — falou Luiza no carro ainda.
— Segura, a gente já está chegando — gritou Raphael.
"Alberto segurava a mão dela enquanto ela apertava firme."
Chegando no hospital, já foi imediatamente levada para a sala de parto. Era a hora. E eu estava vendo tudo. Não ao vivo, não na mesma hora, mas eu vivi depois a cena que era para mim, fabulosa. Meu filho saía para a vida. Seu choro era sinal de saúde, o da mãe, felicidade. Tudo correra bem. Ela sentia que eu pensava neles. Ela sabia.
Pegando ele no colo, já com Ricardo ao lado, Luiza olhou-o nos olhos e, com os dela lacrimejantes e um sorriso no rosto, disse:
— Será Hugo! O renascimento da alegria na minha vida. Olhou para o céu que aparecia na janela de seu quarto e falou:
— Olhe por nós, meu amor — e o apertou firmemente.
Eu caí em lágrimas ao ver aquela cena tão linda. O amor estava ali. Meu filho, lindo e forte estava ali.
— Huguinho, Huguinho — brincava com ele Ricardo, seu irmão mais velho.
"É, Hugo, uma data especial. Alberto e Raphael ali estavam equilibrando forças como o bem e o mal fazem todos os dias. Raphael invejara o momento e Alberto exaltava sua felicidade."
— Meus parabéns, lindo nome, realmente uma criança linda. — dizia Alberto.
Eu tentava apertar sua mão, sentir seu calor. Era ilusão, mas eu sentia. Leonardo me trouxe de volta.
"Luiza ficou totalmente ocupada com os dois filhos. Sua mãe e a dela ajudaram-na demais.
Renato ficou responsável pelo centro e pelo projeto. Seu pai o ajudava com as buscas por emprego ao pessoal de rua. Alberto ficou com o projeto também e as reuniões. Raphael com as lojas e Luiza apenas coordenava tudo de longe. Todos ajudavam em tudo. Seus pais, outros amigos e por aí vai."
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A HISTÓRIA DE UM OUTRO ALGUÉM
SpiritualQuantos de nós não chegamos ao ponto de sentirmo-nos cheios? Isso mesmo, cheios, saturados, cansados, sem tempo, dinheiro ou ideias? Existe um momento em nossas vidas que estamos buscando nossa base, nossa estrutura e é exatamente neste momento que...