Depois da autópsia o médico revelou que em seu organismo foram encontradas substâncias que se disfarçavam com as normais pela mínima quantidade. Era um veneno leve que fazia adoecer a pessoa na quantidade que era ministrado, fazendo cair a sua imunidade. Foi descoberto uma substância que se chama tálio, um metal raro do planeta usado muito como veneno de ratos e insetos. Pelo diagnóstico foi constatado uma grande dose nessa última semana. Ele se confunde muito com sintomas de uma doença normal, evidenciando—se por vezes pela queda de cabelo, sintoma que ele apresentou principalmente nesse último mês, fazendo o novo médico, que estava cuidando dele, pedir um exame de urina. O resultado saiu tarde demais: ele estava mesmo com a substância no corpo, mas agora era um corpo sem vida.
A principal suspeita foi sua empregada doméstica que por vezes fazia sua comida. Ela fugira assim que constataram a morte de seu patrão, ficando desaparecida e procurada pela polícia.
Alberto soube da notícia e não acreditou. Um grave pesar lhe sobreveio. Todo o assombro que sentiu quando morri quis voltar e ele lutava. A visita de Rômulo, a ligação de Estéphane quando ele ficou mal a primeira vez, a morte de Renato, tudo fazia vir à tona um temor e uma vontade de se entregar a espíritos maléficos que por vezes o atormentavam.
— Não é possível, Luiza. Envenenamento!? Quem iria querer fazer isso com ele? E por quê? Temo que Estéphane tenha algo a ver com isso. Sim, ela quer me atingir — sua cabeça viajava em ilusões tormentórias — por que ela faz isso? Que merda! — bradou enquanto deu um soco na parede.
— Acalme—se Alberto. Não sabe se ela tem algo a ver. Renato, pobre homem de Deus, o que poderia ter feito para morte tão dolorosa? — a voz de Luiza era chorosa.
— Não sei o que fazer, Luiza. — Alberto contou da visita de Rômulo enquanto sua mão doía.
— A principal suspeita era sua empregada. Parece que era ela mesmo, ela fugiu, está sumida.
— Quando será seu funeral?
— Daqui há dois dias.
— Infelizmente não dará para eu ir, mas vou assim que possível.
— Fica bem, Alberto. Renato está bem.
Alberto relembrou cada momento vivido com Renato, suas atitudes e a recomendação que ele dera a última vez que foi visita-lo:
"Cuide de Luiza, caso algo aconteça a mim."
Ele levaria essa recomendação a sério.
— Vamos ao Rio mês que vem? — perguntou Alberto à Luciana.
Luciana disse não poder, estava sem dinheiro.
— Eu preciso ir. Luiza está precisando de mim.
— Não tem problema, pode ir.
E foi. Alberto foi olhar o projeto que agora, sem Renato, voltou a parar. Os colaboradores ajudavam, mas era ele quem tocava o barco, e agora o barco estava ancorado.
Alberto abraçou Luiza por muito tempo. Ela chorou, disse sentir muita falta.
Passou três dias lá e reparou, em duas vezes que Raphael fora visitar Luiza, o quanto diferente ele estava. Parecia forçar a barra e Luiza já demonstrava impaciência.
Passeou bastante com Ricardo e sempre falava de mim, o que me acalmou muito, já que eu estava mesmo preocupado com o meu menino.
— Seu pai era um homem incrível, Ricardo.
— Como ele era com o senhor, tio?— Perguntou Ricardo a Alberto.
Alberto tentava disfarçar a situação em que se encontrara. Estava furioso pela morte de Renato. Na verdade, estava nervoso pelo modo como foi morto: assassinado. Tinha convicções de que Estéphane e Rômulo estavam por trás disso, talvez para chamar atenção ou algo assim. Estava também querendo voltar com o projeto de moradores de rua e sentia-se incapaz. "Essa guerra não é sua" — dizia para si mesmo. Mas não adiantava, sentia-se culpado por muitas coisas. Ele tinha necessidade de resolver problemas. Esse era um dos que não conseguia resolver.
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A HISTÓRIA DE UM OUTRO ALGUÉM
SpiritualQuantos de nós não chegamos ao ponto de sentirmo-nos cheios? Isso mesmo, cheios, saturados, cansados, sem tempo, dinheiro ou ideias? Existe um momento em nossas vidas que estamos buscando nossa base, nossa estrutura e é exatamente neste momento que...