O ano era 2018 e Alberto já estava mais firme no Rio de Janeiro. Desde que chegou foi o braço direito de Luiza. Aprendia com ela coisas que eu não pude ensinar. A primeira coisa que fez foi procurar um emprego de técnico administrativo, jurando ter condições de sair um dia. A faculdade ele viu que tinha vários impeditivos para transferir de novo, então largou prometendo concluir em uma particular quando desse. Tentava implementar os projetos de Brasília no Rio de Janeiro, mas viu que a dificuldade era maior. Primeiro que os problemas do Rio eram maiores e segundo que o governo do Rio de Janeiro estava um caos, tendo os políticos do Estado quase todos entrado na cadeia. Uma verdadeira vergonha nacional. Mas o projeto com o pessoal de rua estava firme. Nesse um ano e alguns meses que estava no Rio, praticamente a mesma época em que Luiza retomava o projeto, já haviam reabilitado e mudado completamente a vida de nove pessoas. Duas famílias ( marido, mulher, uma com um filho, a outra com dois filhos) e mais dois homens, que hoje apoiavam o projeto, dando palestras, indo às ruas e motivando as novas pessoas que frequentavam a casa.
Alberto buscava apoio de todos os lados, já que o governo, na crise que estava, não apoiava e também havia fechado diversas outras casas de reabilitação onde, por vezes, Luiza, Alberto e companhia, mandavam as pessoas e continuavam o acompanhamento.
No momento a casa contava com o apoio de uma casa espírita que mandava mantimentos e profissionais para fazerem lá mesmo a reabilitação. Tinham 8 pessoas na casa, apenas, sendo uma família (4 pessoas) e mais 3 homens e uma mulher. A casa e o terreno eram enormes e estava novamente se acabando com a falta de reparos. Eles sentiram que precisavam de uma reformulação. Com o apoio da casa espírita, a maioria das igrejas não ajudavam. Algumas às vezes davam cestas básicas. Um grupo ateu de voluntários se organizou e, conhecendo—os por intermédio de Alberto que os procurou, juntaram-se a eles para poder receber mais gente de rua. Ali tinham profissionais de diversos tipos, mas ainda era pouca gente, quatro pessoas que se juntaram para fazerem a diferença.
Alberto contou à Luiza sobre a carta psicografada. Ela não duvidou e se empolgou ainda mais com a vinda de Alberto para o Rio, sentiu mais confiança. Depois de seis meses o rapaz alugou um quarto para ele em Sulacap, morando junto de Júlio César num velho sobrado de frente para a estrada. Júlio César e o repórter contaram a história das pessoas recuperadas pelo projeto e por vezes ajudavam em alguma coisa. Eles tinham diversos arquivos de vários projetos, inclusive os de Alberto em Brasília. Sua página na internet já contava com 400 mil pessoas e muitas se motivaram a ajudar depois de verem seus vídeos. Muitas vezes vinha um ou outro voluntário que seguia a página de Jason e Júlio para ajudarem no projeto de Alberto, mas poucos os que ficavam mais de um mês ajudando. No entanto, Alberto não se importava com o pouco tempo que permaneciam, sabia que a semente neles havia sido plantada.
Alberto também tinha terminado um de seus livros . Lançou no meio de 2017, em contrato com uma editora carioca. Até o final do ano havia vendido apenas 150 exemplares, sendo para amigos, parentes e amigos de amigos. O lançamento foi no Sebinho, lugar onde eu fazia as reuniões com Raphael.
Seus pais e alguns amigos vieram de Brasília para prestigiarem o grande evento, ou melhor, simples evento.
O livro contava um pouco da história dele, disfarçada e realçada por eventos maiores do que tinha realmente acontecido a ele. O foco era passar uma mensagem. Contava mais todo o ensinamento que o personagem tinha adquirido com um mestre, um monge que vivia no alto de uma colina, e todo o uso desse ensinamento em sua vida.
Entre os amigos que vieram de Brasília, estavam Reinaldo que se impressionou com o projeto e com a posterior leitura do livro.
Alberto já escrevia o segundo livro, a história real de todas suas conversas com os moradores de rua, contando suas histórias. Algumas eram de insucesso, como no caso de Eduardo, um jovem que mostrou—se muito disposto a sair da rua, procurava Alberto várias vezes em sua casa, mas no fundo só queria seu dinheiro, já que toda vez que ia a Alberto, ele emprestava uma grana. Alberto percebeu a maldade, parou de emprestar e o menino nunca mais apareceu.
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A HISTÓRIA DE UM OUTRO ALGUÉM
SpiritualQuantos de nós não chegamos ao ponto de sentirmo-nos cheios? Isso mesmo, cheios, saturados, cansados, sem tempo, dinheiro ou ideias? Existe um momento em nossas vidas que estamos buscando nossa base, nossa estrutura e é exatamente neste momento que...