Capítulo 56

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No início de 2022, Alberto começou a morar sozinho. Seus livros faziam grande sucesso e o terceiro tinha acabado de ser lançado.

Sua vida era uma loucura. Apoiava muitos projetos, participava de um monte, ainda tinha que olhar o Aristolátes, já que Luiza morreu e Raphael estava preso.

Colocou Ricardo para tomar conta dos negócios com Heitor, meu irmão.

Ricardo e Hugo foram morar na casa de Alberto, casa essa que ele estava comprando com o dinheiro de seus livros e ele ficou sendo como um irmão mais velho ou até pai para eles.

A casa de apoio funcionava a mil maravilhas, ajudando muitas famílias, agora com Pastor Felipe e Alberto à frente, tinha muitos apoiadores e voluntários. o sucesso e recuperação de famílias em situação de rua era enorme e isso dava a eles grande reconhecimento. Felipe atuava diretamente com ele, feliz, por ver seu projeto realizado, mesclado com minha ideia e com a força de vontade de Alberto, Luiza e Renato que não deixaram morrer o sonho.

Muitos partidos o chamavam para a política. Ele não quis nenhum.

Mas o povo pedia. Uma noite, enquanto ele dava uma entrevista, a platéia do talkshow gritou: "Alberto para Prefeito", em coro, quando ele expunha as irregularidades que a Prefeitura fazia.

O negócio pegou e aonde ele ia ouvia o coro.

Ele estava pensativo. Política? Fazer parte de uma coisa que ele estava criticando tanto? Ele queria fazer parte de fora.

— O que está pensando? — perguntou Fabiano Ferro.

Ele estava num local, no interior do Ceará, vendo um lixão e muitas famílias arriscando sua saúde para catar qualquer coisa que valesse um trocado. Nessa ocasião só foram os dois. Fabiano Ferro estava de férias e atuava diretamente com ele agora.

— Toda essa gente. Olha só, isso pode e deve mudar.

— Se você entrasse para a política...

— Até onde a corrupção chega? Até onde o dinheiro muda as pessoas? Até onde o sistema se instala?

— Você acha que, se entrasse, seria como eles? Vou te dizer uma coisa: na política precisamos de pessoas boas. Se nós nos acovardamos, deixaremos os ruins governarem.

Ele refletiu e pensava. Olhava à frente, viu as crianças no meio daquele lixo...

— Até onde o sistema vai? — pensava alto.

— Está com medo de se tornar como eles?

— Você não acha que tinham pessoas como nós lá no início? Você não acha que têm pessoas lá dentro assim, sem voz?

— O que acho é que precisamos ser firmes. A maioria honesto lá dentro deve começar por um honesto. O que você fez, tudo o que começou, tudo isso foi original. Você se motivou a fazer e, apesar de todas as dificuldades, você fez. Sabe, quando eu fui fazer sua história, eu achei que veria alguém mais velho, alguém como tantos outros que já vi que fazem um trabalho bom e bonito, mas que são manipulados pelo medo. Se um bandido falasse algo ele voltava atrás e fazia.

"Mas não. Eu vi você. Um jovem que enfrentou e lutou. Não teve medo. Vai ter medo de uns engravatados? Qual o seu maior medo?"

— O medo de mim mesmo.

Voltou para o Rio de Janeiro e ia mostrar o que viu no Ceará, no teatro, para mais de mil pessoas. Sendo gravado e reproduzido ao vivo na internet para todo o país.

— Essas crianças estavam no lixo. No lixo! — dizia ele com força — Não dá mais para ficar como está. Precisamos mudar. E hoje, oficialmente, eu aceito a proposta de um partido para me candidatar a Prefeito do Rio de Janeiro. Será meu primeiro passo.

O coro foi geral. Todos aplaudiram de pé e ele deu um grande sorriso. 

A HISTÓRIA DE UM OUTRO ALGUÉMOnde histórias criam vida. Descubra agora