O grande dia havia chegado. 18 de dezembro de 2020, Alberto, com 30 anos de idade, estava nervoso. O evento começaria oito da manhã e só acabaria 20 horas. Era uma apresentação do local que fora reformulado, mas levava algo a mais. Tinha um significado mais puro, uma esperança para as pessoas de miséria. Um alento para quem está entregue às drogas. Era um socorro estruturado, bem planejado e sério para as pessoas na pior condição material da vida humana. Os que ninguém queria mexer iriam para lá. Era um grito de amor, um amor que não cobra nada. Um amor como deve ser, um amor voluntário.
Com esse evento, Alberto, Felipe e Luiza queriam acordar a sociedade mostrando-lhes que existe um problema enorme e que há uma solução, independente do governo.
Para todos aqueles que passam na rua e veem os mendigos, sentem um aperto no coração por reconhecerem neles um irmão ou irmã, mas na mesma hora sentem o bloqueio da impotência por não poderem fazer nada, esse era um alívio, um projeto que incluía a participação do mais humilde e sem tempo, até o mais rico.
Alberto viu com bons olhos aquele dia. Seria o início de sua grande obra, "minha não", pensava ele, "obra de todos, começando por Hugo".
Lembrou como Luiza manteve o projeto em andamento, mesmo com dificuldade, sem tempo e com pouco dinheiro e se alegrou ao ver o que se tornaria agora.
O dia começou cedo. Às 5 horas da manhã, Alberto levantou e acordou Isabel, que dormira com ele. Acordou também Mariana e Júlio César.
Mariana foi um problema no início de relacionamento. Isabel não entendia porque ela morava com eles dois, mas sem ser ciumenta, ficou bem quando ele contou sua história. Ela já conhecia a índole do rapaz desde Brasília e ficou em paz ao saber que era mais uma ajuda que ele dava.
Mariana já morava sozinha numa kitnet em praça seca, mas estava dormindo ali na noite anterior, assim como Isabel e Jason para irem todos juntos.
O lugar onde eu primeiramente construí o projeto e agora foi reformado era longe. Ficava em Campo Grande e toda vez que íamos visitar, era uma viagem.
Tomaram um café da manhã rápido, arrumaram tudo dentro dos dois carros e foram até Luiza.
— Já estou pronta, só o Huguinho que está terminando de comer. — disse ela.
Eles se sentaram no sofá da aconchegante sala e ficaram conversando. Era um dia bom, um dia diferente.
— Engraçado — refletiu Júlio César — como um dia nosso pode ser tão diferente do outro. Cada dia é uma construção, um pequeno tijolo para um grande dia como hoje.
— É verdade — comentou Alberto — tem dias que parecem não servirem de nada né. A gente nem lembra e é claro, não podemos fazer um evento desse ou algo super legal todos os dias.
— É por isso que temos que reconhecer cada dia como importante, Alberto. — era Luiza quem falava — É realmente uma construção. Temos que nos acostumar com uma rotina, melhorá—la e sermos felizes, mesmo que não tenhamos uma rotina, que a variemos. Todo dia é especial porque faz parte da construção de nossas histórias. E veja, esse evento somos nós que fazemos por vontade própria. Nós tornamos este dia ainda mais especial. Se não fizéssemos nada, seria só mais um dia rotineiro, bom também, mas sem nada tão diferente.
— O importante é estarmos construindo. Se vivermos sem um propósito, a vida não anda. — completou Júlio César.
Alberto guardou aquelas palavras.
Chegaram no novo espaço. Luiza sentiu uma lágrima escorrer ao ver o lugar totalmente renovado. A paz que dali saía era incrível. O lugar tinha uma entrada alegre que transmitia um renovo, esperança e segurança que tudo iria dar certo.
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A HISTÓRIA DE UM OUTRO ALGUÉM
SpiritualQuantos de nós não chegamos ao ponto de sentirmo-nos cheios? Isso mesmo, cheios, saturados, cansados, sem tempo, dinheiro ou ideias? Existe um momento em nossas vidas que estamos buscando nossa base, nossa estrutura e é exatamente neste momento que...