Capítulo 12

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Luciana era uma menina inteligente e culta. Tinha 19 anos, morava com os pais e sua maior ocupação era ler.

Adquiriu o hábito depois do incidente contado. Lia livros principalmente internacionais. Romances melancólicos, história de superação e biografias. Mas no dia em que entrou novamente nesta livraria ela se interessou por uma seção pouco visitada. Ao ver de longe o livro "A Profecia Celestina", pensou: "Não acredito nessas profecias. Que livro será esse?". Foi então olhar e viu que já fora de alguém: Alberto Lopes. Folheou as páginas e algo a fez querer levar. Na mesma hora resolveu dar mais uma olhada e viu o "Paulo e Estêvão", na seção do lado: "livros espíritas". Achou curioso numa seção de livros espíritas ter um livro com o nome de dois grandes personagens da Bíblia. Olhou a capa e viu que era psicografado. O médium? Ninguém menos que Chico Xavier. A curiosidade falou mais alto e ela, abrindo o livro, vê que também já tinha dono: Alberto Lopes. Achou muito curioso, deu uma risada e folheou o livro. Cada vez mais ela se interessava, já que o livro estava bem rabiscado, ou como o próprio Alberto falava, sublinhado e comentado.

Estava num momento ruim, com pensamentos negativos e, depois de ler a anotação de Alberto sobre perdao, ela não tinha dúvidas, iria levar os dois.

— Conta-me filha, como ele é?

— Incrível. Parece história de cinema. Era para nós nos encontrarmos mesmo. Ele veio até mim.

E Luciana contou todo o desenrolar para sua mãe.

— É tão bom ver você assim, filha — falou com olhos marinados — ,depois de tudo o que aconteceu.

— O que passou, passou, mãe.

Eles iriam se encontrar no Taguapark e Alberto estava animado. Pegou sua bicicleta e foi indo. No caminho viu um grupo de quatro moradores de rua. Foi nesse ponto que ele percebeu. Foi aí que se tocou que estava realmente diferente. Os moradores de rua, um casal e dois filhos de aproximadamente 10 e 6 anos, estavam sentados no chão, as crianças chorando e Alberto passava direto olhando. Não teve vontade de ajudá-los. Não teve qualquer sentimento, achou normal. Sentiu-se impotente: "é muito difícil arrumar emprego para eles. O que posso fazer?", falava com sua própria consciência e seguia rumo.

Aquele pensamento latejava em sua cabeça. Ele estava se acostumando com as injustiças. Estava rendendo-se à burocracia, à dificuldade de fazer algo.

Encontrou Luciana que percebeu que algo não estava bem com ele.

— Oi, tudo bem? — perguntou ela preocupada.

— Tudo sim. — disfarçou um sorriso.

Iam fazer um piquenique. Arrumaram uma sombra debaixo de uma árvore e arrumaram uma toalha. O cardápio era frutas, um bolo, queijos e sucos.

Deram-se um beijo e toda a chama da paixão ardia em seus corações. Alberto estava ainda pensando e Luciana perguntou:

— Aconteceu alguma coisa? Você não está bem.

Alberto guardava os sentimentos. Fazia isso em relação a muitos assuntos. Fazia com a mãe, pai e outras pessoas. Mas pensava ultimamente em ser mais aberto. Não tinha nada a esconder se seguisse o caminho correto. Cada um tinha seus sentimentos e as divergências eram comuns a todos. Tentaria ser sempre um livro aberto em relação a seus sentimentos e também falhas.

— Eu estou indiferente a algumas coisas que antes eu não era. Sei lá.

— Indiferente? Em relação a quê?

Ele não queria falar longamente sobre tudo. Mal conhecera Luciana.

— Quer saber, não é nada demais não. — ele riu.

— Não, fale. Quero conhecer melhor você. Aliás, posso te perguntar uma coisa?

— Claro, pode sim.

— Essa cicatriz em seu rosto, o que foi que houve?

Alberto lembrou-se do dia em que ajudou um morador de rua que estava sendo espancado e levou um corte que ia desde sua sobrancelha até a altura do lábio esquerdo.

— É sobre isso que eu estava falando – ele riu –, eu consegui isso ajudando um morador de rua que estava sendo espancado.

Ele contou sobre o projeto, sobre sua ida ao RJ, sobre mim, Luiza e sobre o fracasso depois de minha morte. Luciana ouvia tudo atenta. A história dele era inspiradora, apesar de agora estar parado.

A história dela era mais comum, tirando a parte já contada e sua superação, não tinha nada muito fora do normal. Ela olhava-o admirada. Sabia que ali existia alguém diferente, alguém que se importava.

Eles comiam e viam as pessoas passeando.

— Você é uma pessoa diferente, Alberto. Em essência, o que exatamente você aprendeu com Hugo? Em poucas palavras – ela riu.

— Aprendi a forma de viver adequadamente. Respeitar a todos. Amar. Na verdade, amar não se aprende e isso realmente ainda não aprendi. Mas estou buscando.

O clima foi esquentando e Alberto começou a se encontrar com Luciana mais vezes. Também foi lendo mais livros de Paulo Coelho: "O Aleph", "Verônica decide morrer", "O Monte Cinco" e foi motivando-se ao descobrimento do desconhecido, à viajar, sentir a natureza e tudo mais. Ele tinha o espírito livre. Não era de se amarrar ou apegar-se a qualquer coisa. Mas estava mesmo gostando de Luciana.

— Eu gosto muito de literatura. Gosto de ler bastante e ultimamente também de escrever. – falou Luciana.

— Sério!? O que tem escrito?

— Apenas uns poemas. Comecei um conto recentemente.

— Que legal! Quero ouvir ou ler algum.

— Qualquer dia eu te mostro. E como funciona essa sua página na internet? Esses seus debates são sobre o quê?

— Vários assuntos. Assuntos polêmicos e também religiosos.

— Ah tá. Depois você me passa para eu dar uma olhada.

Um mês passou até Alberto pedir Luciana em namoro. Não foi nada tão grande, mas bem romântico. Um pedido à beira lago.

Luciana ou "Lu", como Alberto a chamava, era uma menina concentrada, inteligente e incrivelmente linda. Chamava muito a atenção por sua beleza simples e intelectual. Alberto fazia planos de viagens, curtia o namoro, saía com ela e alguns amigos dela; vivia uma vida normal, esquecendo-se de todos os projetos aos quais fora destinado. Falou pouco em sua página que já estava bem bagunçada pelo abandono. Cada um falava o que queria e os ânimos estavam inflamados. Muitas brigas fizeram os participantes do grupo, antes formado por mim, saírem de lá.

A HISTÓRIA DE UM OUTRO ALGUÉMOnde histórias criam vida. Descubra agora