– Amor! – cuspiu – O que é o amor, senão palavra que representa o gesto efêmero de dar-se? – Gerard disse, atordoado. Olhava os lados, procurando por resposta, mas pareceu não encontrar alguma boa o suficiente. – Não há como dar-te inteiro a alguém, sem perder a ti mesmo. E é loucura dar-se! Não me peça por amor, Roma, não me tenho para dar-me a ti.
A tal Roma, uma segundanista que na verdade se chamava Alicia, piscou algumas vezes antes de começar a chorar. Os dois abraçaram-se, e Gerard permanecia impassível.
– Por que não dá-me aquilo de que preciso, Júpiter? Por que me dás apenas o que queres que eu tenha?
– Dou-te o que posso, dou-te o que é necessário, Roma, mas… não posso dar-me todo. Não tenho-me todo.
– E quem tem teu ser, pois? O que falta em ti, com quem anda esta tua parte à qual não tenho acesso?
Gerard respirou fundo, e fechou os olhos. Dramático. Tocou o rosto de Roma, enxugou-lhe uma lágrima, e disse num quase sussurro:
– É de Adão. Dei-me todo a Adão. Não resta nada. Não resta para mim, para ti, para nenhum que nos conheça. É tudo de Adão.
E assim a peça terminava. Obviamente, eu não entendi nada. Alguma até se levantavam ao aplaudir Gerard e Alicia fervorosamente, mas eu nem entendia. Conseguia compreender que Roma não era amada por Júpiter, mas por quê? Eu não compreendia. Céus, teatro faz eu me sentir tão lerdo.
Não há como perguntar para Gerard. Ele te chamaria de insensível, burro e até de sem cultura se falasse que não entendia sua brilhante atuação. Mikey me contou que a avó deles manjava dessas coisas artísticas, e por passar muito tempo com ela Gerard também se sentia entendido.
Eu não bati palmas. Como esperado, no Ensino Médio as tarefas do rádio tornaram-se mais pesadas, assim como as dos estudos, e eu precisava entrevistar os atores e os envolvidos para compreender sobre isso e comentar pelos microfones. Os professores ouviam o rádio pelas notícias internas. Os alunos ouviam por notícias em específico, e pelas músicas que eu tentava selecionar sem conteúdo satanista.
Eu não era um mau radialista.
Assim que acabaram as ovações e as reclamações ou elogios do professo de teatro, um padre que parecia meio biruta, eu peguei minha prancheta e caminhei até o pequeno grupo de artistas.
– Boa tarde, integrantes do grupo de teatro. – disse.
– Boa tarde, garoto Iero. – disse o padre.
– E aí, Fronks. – disse Alicia.
– Olá. – disse Gerard, nada animado, colocando seus óculos escuros.
Anotei na folha da prancheta um Gerard se apresentou arrogante, como sempre, mas o resto do grupo pareceu empolgado pelo registro.
– Eu queria saber de vocês… o nome da peça é "Um Pedaço de Mim" e fala sobre um casal que não pode ficar junto depois de um comportamento culpado de Júpiter, que parece arrependido de algo durante toda a trama. Sobre o que é seu arrependimento? No fim, ele diz que não pode doar-se pois está com Adão, mas o que exatamente isso significa?
– Que ele é gay e não gosta de dar entrevistas? – Gerard tenta. Quase enfio o lápis por seu cu acima; que custa ele me ajudar a fazer o meu trabalho?
– Na verdade, é uma ambiguidade. – diz Alicia, rapidamente. – Quando Júpiter diz que está com Adão, pode ser tanto o Adão bíblico quanto a imagem de um outro homem. A peça pode ser vista de muitas maneiras; como se a culpa que Júpiter sentisse fosse pelo pecado original ou por estar traindo Roma com um homem que ele amasse.
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The Radio Guy Hates The Actor
FanficTinha esse garoto que estudava no colégio católico que o meu, o Gerard Way. E eu não gostava dele. Até aí comum, eu não gosto de muita gente. Mas aconteceu uma coisa. E essa coisa gerou muitas outras coisas diferentes que explicam por que acontece o...