Em casa, Gerard ouvia música com Bruno. Algum rock gótico. Não é meu tipo de música. Mamãe preparava o almoço, e por uns instantes eu apenas observei a cena pela janela da sala. Linda sorrindo e falando enquanto mexia nas panelas, mostrando fitas cassete um ao outro e conversando amigavelmente enquanto alguma fita rodava no aparelho de som. Quase chorei enquanto os observava. Talvez Mikey tinha o direito de se preocupar, mas minha vida era boa. Eu tive, por uns segundos, medo de abrir a porta e tudo acabar, como se eu fosse a fonte de todo o mal do mundo. Mas eu não era. Abri a porta, e tudo ficou bem. Tudo ficou bem.
Eu gostaria de encerrar aqui; narrar que me formei, que Gerard, Lindsey e eu abrimos a ONG legalmente e que, com os contatos que ela tinha, empregamos muita gente. Narrar que voltei a comer carne porque a rotina era estressante e muitas vezes eu só podia comprar junk food, mas que não era tão horrível quanto eu sabia que vida podia ser. Narrar que minha família adora Gerard, que os visitávamos às vezes, que meu emprego não era dos piores e ele estava trabalhando em uma peça que, segundo seu orientador, seria grande. Que somos felizes. Queria poder encher páginas disso. E você merece, por ter me acompanhado até aqui minha agonia agridoce. Mas eu sou trágico; não consigo discorrer sobre notícias boas. Tudo que acabei de dizer é verdade. Estamos felizes. No final de 2000 eu e um colega de trabalho, Henry, começamos um programa de rádio de baixa frequência onde tocamos punk e hardcore, principalmente de Nova Iorque. Temos uns poucos e dedicados ouvintes. Ser corretor júnior de imóveis é cansativo e paga meio mal, mas o aluguel ainda é pago e já é melhor que ser office boy. Gerard vendeu a moto, então tínhamos um dinheiro guardado caso as coisas apertassem. Moramos juntos há pouco mais de um ano e eu não me vejo fora da fase "lua de mel" tão cedo. Eu lamento pelas minhas palavras, mas não há como descrever felicidade. Eu sou feliz, finalmente, e não consigo expressar o quão bom isso é. Espero que entenda. Um dia você vai experimentar esse tipo de felicidade e será surreal. Eu sei disso.
•••
Abro os olhos. Sinto novamente novamente dedos cutucar gentilmente meu ombro.
– Ei.
– Eu acordei antes de você dessa vez. Você não ouviu o despertador. – Gerard diz, baixo. – Já fiz o café. Não tinha bacon.
Ovos com bacon são uma coisa minha agora. Porcos ainda são animais surpreendentemente inteligentes e sinto muito por eles, mas puta merda é gostoso.
– Ok. Que horas são?
– Seis e trinta e oito. Você não perdeu muito do dia.
– Não mesmo. – sento-me na cama, um sorriso preguiçoso no rosto. Hoje há uma suave perturbação na ordem, pois geralmente eu acordo, pego o jornal com o porteiro, leio um pouco, olho Gerard dormir e daí o acordo às seis e quarenta com um beijo. Eu tomo banho, ele prepara o café, escovamos os dentes juntos e saímos de casa. Eu entro no ônibus para o trabalho e ele caminha até a estação de metrô. E eu sou uma pessoa diferente agora, tão diferente que sempre dou bom dia para o motorista. Às 8:15, sem atraso, chego no escritório com um sorriso no rosto. Meus colegas não sabem que minha esposa se chama Gerard Way, o que me incomoda parcialmente considerando meu ensino médio, mas aceito que a manutenção do meu emprego depende da omissão desse fato. E já passou a ser parte da rotina também — e ter isso é uma bênção. Ter uma rotina. É o que penso.
– Bom dia, meu amor. – Gerard diz, e beija o canto da minha boca.
Preciso de mais. Depois que parei de trabalhar à noite, passei a me sentir muito mais disposto pela manhã — em todos os aspectos. Ponho minhas mãos em seu rosto e beijo-o de verdade, ansioso. Meus dedos alcançam seu cabelo. Tão macio. Ele geme em minha boca, mas me impede quando me ponho sentado sobre suas coxas.
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The Radio Guy Hates The Actor
FanficTinha esse garoto que estudava no colégio católico que o meu, o Gerard Way. E eu não gostava dele. Até aí comum, eu não gosto de muita gente. Mas aconteceu uma coisa. E essa coisa gerou muitas outras coisas diferentes que explicam por que acontece o...