14. Hey, your dumbass

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Gerard era um dramático. Sinceramente.

Eu estava mal após ficar chapado pela primeira vez e foder com Patrick Stump, mas não podia dizer que me arrependia de tudo. Eu havia me dado conta de que gostava de Gerard, e aquilo me deixava mal também. E ainda havia Smith, que estava triste por eu não ter contado a ele que tinha fodido com Patrick Stump. Digo, nós não tínhamos nada sério, mas compartilhávamos coisas. E Pat ainda era amigo de Jonas. E eu também estava mal porque Mikey estava chateado comigo por ter deixado seu irmão chateado, e apenas Jamia me apoiava em minhas decisões. Okay, ela também me xingou bastante, mas não parou de falar comigo, como Gerard ou Alicia (que queria namorar Mikey e ele fingia que não via); ela apenas me protegia. Ser a bicha Iero podia ser importante para os gays que estavam no armário e tinham alguém para se espelhar, lhes dar coragem e vontade de existir e tudo o mais, mas no St. Jude eu ainda sofria com piadinhas e peças que me pregavam, isso quando eu não era assediado pelos corredores. E Jamia sempre estava ali comigo. Eu amava aquela garota.

A mesa havia praticamente me expulsado dali, e como eu já não me alimentava muito bem, eu evitava de me aproximar deles. Depois de um tempo (uns 4 dias, aproximadamente), criei coragem/ódio para falar com Gerard, e fui com raiva pará-lo num corredor por onde ele passava com Lindsey.

– Ei, seu imbecil! – comecei, e a maquiadora se afastou de nós. – Você acha isso justo? Parou de falar comigo de repente, e finge que eu não existo… quem você pensa que é?

– Quem você pensa que é, seu babaca?!

Era tudo o que eu precisava.

– O cara que gosta de você. Chega mais perto. – e eu tinha duas mãos. Agarrei a lapela do paletó de seu uniforme, puxando Gerard para baixo, e beijei-o naquele corredor exposto, ouvindo palmas de alguns e vaias de outros. Não fazia diferença, eu parei de ouvir tudo quando Way retribuiu.

Céus, tudo fazia sentido. De sua mão na minha cintura, suas unhas curtas em meu pescoço a sua língua na minha boca. Eu gemi com aquele contato, e era tão bom que eu não pensei em nenhuma das coisas que me impediram de fazer aquilo durante anos. Porque eu gostava de Gerard há muito e não tinha me dado conta. E aquele beijo teria durado pra sempre se não fosse o sinal indicando o fim do intervalo.

– Você é ridículo. – Gerard riu quando nos afastamos.

– Vai negar que gostou, Richard Gere?

– Nunca, garoto do rádio. Eu sou o cara que gosta de você, não sou?

•••

Aquele dia foi comprido demais. Todas as aulas que tive que assistir, pensando em como Gerard estava contente por eu tê-lo beijado quando eu sentia pouco mais que nada. Eu me sentia insuficiente. Ou talvez eu gostasse demais de Gerard pra pensar nele daquele jeito, não sei bem. Passamos um ano juntos sendo quase amigos, mais o início desse ano letivo sem nenhuma briga ou porradaria, e ainda havia os episódios no auditório e encostados no muro do colégio, quando meu coração quase saiu pela boca pela expectativa de beijá-lo. Merda, eu quis beijar Gerard.

Então, porque eu me sentia tão vazio depois de fazer o que eu quis?

Eu não me entendia. Fiquei batucando com meus lápis em meu caderno durante aulas inteiras, ouvindo músicas na minha cabeça. Nada fazia sentido; as letras eram como hieróglifos e as falas dos professores eram em sueco. Desisti de tentar entender na metade da última aula, quando saí de sala e corri para o dormitório de Mikey, no mesmo pavilhão que o meu.

Eram ele, Gerard, um garoto que entrara há pouco no time de hóquei e um outro que eu sabia apenas que chamavam de Rob. Encontrei a cama de Gerard por conta dos desenhos elaborados no beliche, e dois pares de all star praticamente destruídos embaixo da cama, e então me deitei, encolhido como uma bola. Mas não chorei; apenas fiquei ali, sentindo o cheiro dele nos lençóis e pensando na vida. Eu era uma vadia estúpida.

Até que começou a me faltar ar e, juro, eu achei que fosse morrer.

O primeiro a entrar no quatro, ainda durante minha crise de pânico totalmente sem sentido, foi Mikey. Ele não entendeu (nem eu, na verdade), e apenas me abraçou enquanto eu quase cuspia minha alma, falando palavras tranquilizantes.

Caralho, eu amava meu amigo. Ele estava ali, calmo e quase silencioso, sempre. Eu sabia que podia confiar nele, Ray ou Jamia para qualquer coisa. Qualquer maldita coisa. E, enquanto eu me acalmava lentamente e Michael me oferecia metade de uma barra de chocolate, uma pergunta me veio à mente: eu podia confiar em Gerard?

E aquela questão me assustava. Eu havia beijado alguém e eu não sabia se podia contar com ele. Céus, tudo estava perdido. Eu estava sem senso. E triste. Sim, triste; porque eu havia beijado Gerard e, merda, talvez eu realmente gostasse dele.

  – No que você tá pensando, Frank?

– Gerard.

– O que houve? Ele me contou que vocês se beijaram. Ele está feliz. Por que você não está?

Demorei um pouquinho a responder.

– Eu não sei.

Ficamos em silêncio durante uns instantes, eu mastigando lentamente o chocolate que derretia na minha boca.

– Por que você carrega chocolate no bolso?

– Gerard também tem esses… an… ataques. E chocolate ajuda quando isso passa. Por isso eu fico perto dele.

– Ah. – eu não sabia daquilo. Havia tanto que eu não sabia sobre Gerard. Será que aquele era meu medo? Não conhecer o garoto que eu gostava?

– Ele não quer te esconder esse tipo de coisa. – disse Michael, respondendo alguma pergunta interna minha. – O Gerard… ele só não vê como contar.

– Tem muita coisa que eu estou perdendo?

– Eu não quero mentir; tem sim. Ele já te falou sobre o Bert?

– Não.

– Sobre Janeiro de 94?

– Não. – repeti. Por que Mikey fazia aquilo? Doía, porra.

– Sobre arte?

– Não.

– Sobre as agulhas?

– Ele tem medo de agulhas. Disse que se sente invadido, e que na maioria das vezes não acha necessário que o injetem alguma coisa.

– Então, quando você souber responder todas as perguntas que eu te fiz, aí sim você não vai estar perdendo nada. Mas não o pressione muito. Eu estou ficando sem chocolate.

Era incrível como Michael Way conseguia ir de amigo camarada para filho da puta com poucas frases. Em momentos como aquele que eu me lembrava que ele e Gerard eram irmãos.

– Mikey.

– Diga.

– Eu te odeio.

Ele riu. – Eu sei que odeia. Agora vamos jantar, você não comeu nada hoje. Ou nos últimos dias.

– Eu estava triste.

– Tudo bem, mas precisamos nos alimentar. Vamos, levanta.

Eu segui Mikey até a mesa que havia me expulsado (é, parecia que eles haviam me perdoado), e comemos um prato de alguma coisa salgada que eu não me lembro bem o que era. Comi porque estava contente com meus amigos e com o sorriso aberto de Gerard toda vez que nossos olhares se encontravam.

– Eu senti sua falta, idiota. – ele disse, e segurou minha mão.

Foi a primeira vez que ficamos de mãos dadas naquele colégio. E, graças a Deus, não foi a última.

– Eu preciso te falar umas coisas. – eu disse a ele. – Depois. É sério.

Eu não queria que Gerard perdesse algo sobre mim.

The Radio Guy Hates The ActorOnde histórias criam vida. Descubra agora