Que alegria, o MCR voltou
Agora vamos de tristeza? Beleza------------
Eu e Ray estávamos estudando a matéria de História, porque eu não queria ficar mal na prova que ele corrigiria junto com o professor. Falávamos da Guerra de Secessão. Sinceramente?, aquilo em nada me interessava ou acrescentava. Mas o rádio já estava suspenso para a programação de Natal, e eu provavelmente não tinha nada de melhor pra fazer, então estávamos nós dois sentados na minha beliche do dormitório lendo. Novembro. Logo as provas e as férias de fim de ano. E logo um novo ano. E logo eu poderia ver Gerard na casa dele… a ideia de nós dois na cama me dava arrepios.
Falando de acordos antes da guerra em si, a porta se abre e entra no quarto um Pablo Williams desesperado. Sua respiração estava ofegante, e ele torcia o terço entre os dedos de modo afobado.
— Frank! Vem comigo.
— O que houve? — perguntei enquanto levantava da cama. Os livros podiam ficar pra depois. Ray se levantou também, e pediu para que Williams se sentasse e respirasse. — Me diga, porra!
— O Smith… ele… o auditório. Vai pro auditório. — contou, e começou a chorar. Corri na direção do auditório, mas dos quartos até lá eram uma porrada de escadas. Desci correndo muito, o mais rápido que podia. Jonas estava fragilizado emocionalmente, ele podia ter feito qualquer merda grande. Ou seus pais, meu deus, eu precisava saber! Afinal, ele era meu amigo, não era?
Chegando no auditório, tinha gente na porta, aglomerada, tentando ver o que havia ali dentro. Eu era um dos menores em altura, então decidi passar na base da porrada. Fodam-se todos eles. Com muito esforço, consegui passar e entrar por baixo do braço de um padre que controlava a pequena multidão. Meus olhos esquadrinharam o espaço rapidamente, e quando vi o que buscava engoli em seco. Mas não pude impedir meus pés de correr na direção daquilo.
Juro que se pudesse voltar no tempo e me impedir de ver aquilo, eu faria isso. Se eu pudesse apenas ter ficado estudando História e depois ter escutado a fofoca pelos corredores, seria tão bom. Jonas estava no palco, caído como um saco de batatas ao chão, uma pistola caída não muito longe de sua mão aberta. Dedos compridos e levemente encolhidos, brancos, braços cobertos por sua camisa de flanela preferida. Os óculos estavam tortos, quase caindo de seu rosto molhado por lágrimas, e a boca estava aberta, babando. Ele não ficava bonito daquele jeito, com sangue grudado em seus cabelos, com aquela poça de sangue sob sua cabeça. Em sua mão esquerda, fechada, parecia ter algo. Encostei nele; não havia ficado gelado ainda. Era estranho. Abri sua mão, havia um papel dobrado. Pus aquele papel no bolso da calça; seria a minha lembrança dele. E, depois de um tempo segurando aquela mão morna, percebi que
Jonas Smith estava morto. Havia se matado.
Foi a única vez que a Morte olhou dentro dos meus olhos e riu. Não esperava que fosse daquele jeito, pelo menos não para Jonas, mas não podia fingir que era tão surpreendente assim. Eu também já senti vontade de morrer, eu também tenho uma família difícil, eu também era chamado de viado em casa, mas ainda assim era totalmente diferente. Eu sabia e acreditava que nos meus piores momentos meus amigos estariam lá; eu era cercado de amor fraternal. Jonas não. Pelo que ele dizia, não havia ninguém além de mim. Ele não conseguia se sustentar sozinho nem se apoiar em mim, então caiu. Era compreensível.
Não vou ser hipócrita e dizer que ele foi fraco. Muito menos que ele esteve certo em fazer essa merda. Mas ele poderia ter procurado ajuda. Um psicólogo, eu ou até mesmo a porra de um padre para desabafar. Eu sabia sobre Jonas apenas o que ele me contara, e era só a ponta do iceberg. Eu sei que com o que eu sabia eu poderia ter feito algo, ter feito mais do que o nada que eu fiz. Ele deu sinais, e eu ignorei! Será que estar com Gerard me fez cego? Será que eu fui um dos muitos inomináveis assassinos do enxadrista? Terça feira, 18 de Novembro.
Mamãe, eu acabei de matar um homem.
Eu me senti doente, eu me senti podre e sujo. Sabia que queria ser uma boa pessoa, e não parecia estar sendo o suficiente. Okay, ninguém vive com apenas um pilar pra se apoiar, mas se eu fosse esse pilar de um modo mais decente Jonas podia ter tentado durante mais tempo. Talvez, se eu fosse um bom amigo e não pensasse em me agarrar com Gerard por aí, essa merda toda podia ter sido impedida. Dentro do colégio! Os pais dele provavelmente fingiriam que era por conta do sistema de ensino e não porque o filho deles era um viado rejeitado. É sempre assim, as pessoas põe a culpa nas outras pelo que acontece. Eu também.
Aquela foi uma das poucas vezes em que assumi totalmente a culpa sobre algo.
Não sei quando comecei a chorar. Não sei quando me deitei do lado do morto e chorei em seu ombro, nem quando os padres me tiraram do auditório. Foi um daqueles ataques, porque eu tremi muito e depois disso não me lembro de nada. Absolutamente.
•••
Acordei na enfermaria, com um Mikey sentado na poltrona do lado da cama dormindo de boca aberta. Meu corpo estava dormente, então imagino que me sedaram. Não quis nunca mais sair daquele lugar e encarar o mundo, quis morar na enfermaria. Sem fantasmas. Sem ninguém. Apenas eu sedado e Michael ressonando idiotamente. Não queria encarar o mundo novamente, apenas dormir e acordar e comer sem nunca ir para casa ou estudar.
Estava com aquela bata de hospital, então provavelmente tinham lavado minhas roupas. Elas estavam sujas de sangue? O que eu não estava lembrando? Havia algo de importante nas minhas roupas que eu estava deixando passar?
Provavelmente.
Não consegui me lembrar. E caí dormindo novamente.
Quando abri os olhos de novo, Gerard estava sentado na cama, segurando minha mão. Ele tinha os cabelos bagunçados e o casaco de moletom verde sujo de não sei o quê.
— Tudo bem, garoto do rádio?
— Não sei. Tô meio grogue ainda. — respondi, e senti a garganta arder. Que merda.
— Melhor assim. O colégio tá uma bagunça. Parece que vão adiantar as férias. Tô matando uma reunião de representantes estudantis pra ficar aqui com você.
— Eu não quero voltar pra lá. Não deixa eles me levarem.
— Pra onde?
— Qualquer lugar. Só me deixa com você. Tem tanta coisa rolando… eu não tenho peito pra encarar nenhuma delas.
— Relaxa, Frank. Tudo vai ficar bem, okay? Você não precisa sair daqui agora.
Eu quase sorri, mas ouvi batidas na porta e um padre entrou, com aquele sorrisinho de padre no rosto. E disse:
– Frank Iero? Seus pais estão lá fora.
Os meus pedidos nunca são atendidos.
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The Radio Guy Hates The Actor
FanficTinha esse garoto que estudava no colégio católico que o meu, o Gerard Way. E eu não gostava dele. Até aí comum, eu não gosto de muita gente. Mas aconteceu uma coisa. E essa coisa gerou muitas outras coisas diferentes que explicam por que acontece o...