36. I broke my promise

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Acordei no domingo com a cabeça encostada no ombro de Gerard e pensei no quão dormente ele estaria quando acordasse. Era uma cama de solteiro, aquela. E eu esmaguei o coitado contra a parede. Levantei com cuidado e peguei caderno e caneta na minha mesa para deixar uma nota dizendo:

Bom dia, meu amor. Saí para fazer umas coisas talvez menos divertidas do que te olhar dormindo. Estou te deixando sozinho no meu quarto e depois sozinho com a minha famíliatente sobreviver até o fim da tarde. Qualquer mínima coisa, me ligue e eu volto.
x, F.

Saí do quarto em silêncio, levando roupas e tênis para o andar de baixo. Subi novamente para lavar o rosto, depois saí. A casa inteira ainda dormia quando tomei o ônibus para longe.

•••

Circulei pelo quintal. Andei silenciosamente pelo gramado e voltei para a rua. Achei uma pedra de bom tamanho. Fui na janela. Atirei.

Silêncio. Merda. Pequei mais uma pedra, menor que a primeira. Atirei. Esperei. Uma cabeça apareceu. Descabelado e confuso, Michael Way abriu a janela de seu quarto.

Caralho. – ele murmurou, sem raiva ou alegria.

– Oi. Você pode descer?

– Eu não quero.

– A gente precisa conversar.

– Eu sei.

– Eu... prometi uma coisa e não cumpri.

– Você sabe como eu me sinto. O que quer que eu diga? Você veio buscar por perdão? Não posso dar isso.


– Alicia disse uma vez que você tinha medo de amar, mas--

– E meu irmão claramente não tem medo suficiente. Olha, – ele saiu da janela por um instante e eu achei que ele fosse me deixar ali sozinho, mas Mikey desceu. Ele abriu a porta de entrada da casa com um cigarro na mão. – Só me diz o que você quer.

– Eu quero conversar. Amigavelmente.

– Você não quer. Você pode até achar isso, mas não.

– Nós vamos morar juntos e é muito importante pra mim que você--

– Te perdoe. – ele completou, soltando fumaça pelas ventas. Mikey parecia distraído. Não parecia distante como se estivesse tão certo de que eu mereço danação eterna que nem precisava me ouvir; parecia apenas distante.

– O que aconteceu?

Ele me encarou como quem sai de um transe.

– Como assim?

– Você não parece bem.

– Você não tem o direito de fazer isso, Frank.

– O quê? Perguntar como você está?

– Estar com Gerard. Você não tem ideia de como foi, Frank. Eu não posso confiar em você mais.

– Há poucos anos atrás você era meu melhor amigo e quando eu tava na pior você não veio perguntar como eu estava, cara.

– Ah sim, lamento muito, Frank, mil perdões se um dia eu me preocupei com meu irmão! – ele disse, e riu. nãoas que bom que você levantou esse tópico, porque eu queria falar contigo sobre isso. O que você faz ou deixa de fazer com o Gerard é problema meu. Toda vez que algo ruim aconteceu com ele eu estive lá. E da próxima vez que acontecer eu ainda estarei lá. Você simplesmente não faz ideia de como é lidar com uma pessoa suicida e eu não te odeio ou te acho um amigo merda, você só não é mais meu amigo mem é qualificado pra cuidar do Gerard agora.

Ergui uma sobrancelha. – Eu não cuido dele. Ele é meu namorado, não meu paciente.

Silêncio.

– Eu vivo preocupado, Frank. Lindsey sempre me dizia como ele estava pelo telefone, e isso deixava meus dias mais tranquilos. Toda vez que a gente ficou separado por muito tempo foi porque Gerard tava se tratando, e eu associo ele estar longe com ele estar doente. Ele sempre foi essa pessoa que precisa de ajuda, e quando eu me tornei seu amigo finalmente eu não precisava me preocupar o tempo todo. Você perguntou como eu estava. Não estou bem. Muitas coisas aconteceram, tudo veio pras minhas costas, minha família não é das melhores e eu não tenho ninguém pra conversar sobre isso. Se mais alguma coisa acontecer com meu irmão, eu juro…

Interrompi Michael com um abraço. Eu não sabia como era. Nunca saberia. E se era justificado ou não não me interessava, o sentimento era real e eu era desprezado por arruinar chorar. Ele soltou o cigarro, quase acabando àquela altura, e me abraçou de volta, chorando. Era a primeira vez que eu via Mikey chorar.

– Ele está bem em Nova Iorque. Eu sei que você não acredita, mas nada de ruim vai acontecer conosco. Lamento quebrar a promessa que eu fiz, mas a gente se ama e é difícil lutar contra isso. 

Silêncio.

– E você sempre pode nos visitar e conferir com os próprios olhos, sabe. Eu não quero que você me perdoe. Eu quero que você me dê uma chance.

Mikey me soltou e olhou em meus olhos firmemente. Segurou meu rosto com as mãos e eu podia notar, de olhar para ele, que eu não era desprezado. Senti-me como quando o conheci, aquela conexão instantânea, aquela fraternidade e intimidade. Olhando pra ele daquele jeito, cabelos bagunçados e rosto molhado por lágrimas, percebi que Alicia estava errada: Mikey não tinha medo de amar. Ele tinha medo de se mostrar vulnerável. Mesmo assim, ali ele estava.

  – Eu quero confiar em você. – ele disse, e não precisou completar para eu entender.

– Ok. Você ainda pode nos visitar. 

    – Eu sei. – suspirou, e se recompôs. Apagou a guimba com o dedão descalço e foi andando até a porta. Era minha última chance de dizer o que eu tinha ido dizer.

– Michael.

– Sim?

– Desculpa por tudo.

– Tudo bem, Iero. – ele respondeu, acenando com a cabeça, e entrou em casa.

Aquela foi a última vez que nos vimos.



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