Acordei no domingo com a cabeça encostada no ombro de Gerard e pensei no quão dormente ele estaria quando acordasse. Era uma cama de solteiro, aquela. E eu esmaguei o coitado contra a parede. Levantei com cuidado e peguei caderno e caneta na minha mesa para deixar uma nota dizendo:
Bom dia, meu amor. Saí para fazer umas coisas talvez menos divertidas do que te olhar dormindo. Estou te deixando sozinho no meu quarto e depois sozinho com a minha família — tente sobreviver até o fim da tarde. Qualquer mínima coisa, me ligue e eu volto.
x, F.Saí do quarto em silêncio, levando roupas e tênis para o andar de baixo. Subi novamente para lavar o rosto, depois saí. A casa inteira ainda dormia quando tomei o ônibus para longe.
•••
Circulei pelo quintal. Andei silenciosamente pelo gramado e voltei para a rua. Achei uma pedra de bom tamanho. Fui na janela. Atirei.
Silêncio. Merda. Pequei mais uma pedra, menor que a primeira. Atirei. Esperei. Uma cabeça apareceu. Descabelado e confuso, Michael Way abriu a janela de seu quarto.
– Caralho. – ele murmurou, sem raiva ou alegria.
– Oi. Você pode descer?
– Eu não quero.
– A gente precisa conversar.
– Eu sei.
– Eu... prometi uma coisa e não cumpri.
– Você sabe como eu me sinto. O que quer que eu diga? Você veio buscar por perdão? Não posso dar isso.
– Alicia disse uma vez que você tinha medo de amar, mas--– E meu irmão claramente não tem medo suficiente. Olha, – ele saiu da janela por um instante e eu achei que ele fosse me deixar ali sozinho, mas Mikey desceu. Ele abriu a porta de entrada da casa com um cigarro na mão. – Só me diz o que você quer.
– Eu quero conversar. Amigavelmente.
– Você não quer. Você pode até achar isso, mas não.
– Nós vamos morar juntos e é muito importante pra mim que você--
– Te perdoe. – ele completou, soltando fumaça pelas ventas. Mikey parecia distraído. Não parecia distante como se estivesse tão certo de que eu mereço danação eterna que nem precisava me ouvir; parecia apenas distante.
– O que aconteceu?
Ele me encarou como quem sai de um transe.
– Como assim?
– Você não parece bem.
– Você não tem o direito de fazer isso, Frank.
– O quê? Perguntar como você está?
– Estar com Gerard. Você não tem ideia de como foi, Frank. Eu não posso confiar em você mais.
– Há poucos anos atrás você era meu melhor amigo e quando eu tava na pior você não veio perguntar como eu estava, cara.
– Ah sim, lamento muito, Frank, mil perdões se um dia eu me preocupei com meu irmão! – ele disse, e riu. nãoas que bom que você levantou esse tópico, porque eu queria falar contigo sobre isso. O que você faz ou deixa de fazer com o Gerard é problema meu. Toda vez que algo ruim aconteceu com ele eu estive lá. E da próxima vez que acontecer eu ainda estarei lá. Você simplesmente não faz ideia de como é lidar com uma pessoa suicida e eu não te odeio ou te acho um amigo merda, você só não é mais meu amigo mem é qualificado pra cuidar do Gerard agora.
Ergui uma sobrancelha. – Eu não cuido dele. Ele é meu namorado, não meu paciente.
Silêncio.
– Eu vivo preocupado, Frank. Lindsey sempre me dizia como ele estava pelo telefone, e isso deixava meus dias mais tranquilos. Toda vez que a gente ficou separado por muito tempo foi porque Gerard tava se tratando, e eu associo ele estar longe com ele estar doente. Ele sempre foi essa pessoa que precisa de ajuda, e quando eu me tornei seu amigo finalmente eu não precisava me preocupar o tempo todo. Você perguntou como eu estava. Não estou bem. Muitas coisas aconteceram, tudo veio pras minhas costas, minha família não é das melhores e eu não tenho ninguém pra conversar sobre isso. Se mais alguma coisa acontecer com meu irmão, eu juro…
Interrompi Michael com um abraço. Eu não sabia como era. Nunca saberia. E se era justificado ou não não me interessava, o sentimento era real e eu era desprezado por arruinar chorar. Ele soltou o cigarro, quase acabando àquela altura, e me abraçou de volta, chorando. Era a primeira vez que eu via Mikey chorar.
– Ele está bem em Nova Iorque. Eu sei que você não acredita, mas nada de ruim vai acontecer conosco. Lamento quebrar a promessa que eu fiz, mas a gente se ama e é difícil lutar contra isso.
Silêncio.
– E você sempre pode nos visitar e conferir com os próprios olhos, sabe. Eu não quero que você me perdoe. Eu quero que você me dê uma chance.
Mikey me soltou e olhou em meus olhos firmemente. Segurou meu rosto com as mãos e eu podia notar, de olhar para ele, que eu não era desprezado. Senti-me como quando o conheci, aquela conexão instantânea, aquela fraternidade e intimidade. Olhando pra ele daquele jeito, cabelos bagunçados e rosto molhado por lágrimas, percebi que Alicia estava errada: Mikey não tinha medo de amar. Ele tinha medo de se mostrar vulnerável. Mesmo assim, ali ele estava.
– Eu quero confiar em você. – ele disse, e não precisou completar para eu entender.
– Ok. Você ainda pode nos visitar.
– Eu sei. – suspirou, e se recompôs. Apagou a guimba com o dedão descalço e foi andando até a porta. Era minha última chance de dizer o que eu tinha ido dizer.
– Michael.
– Sim?
– Desculpa por tudo.
– Tudo bem, Iero. – ele respondeu, acenando com a cabeça, e entrou em casa.
Aquela foi a última vez que nos vimos.
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The Radio Guy Hates The Actor
FanfictionTinha esse garoto que estudava no colégio católico que o meu, o Gerard Way. E eu não gostava dele. Até aí comum, eu não gosto de muita gente. Mas aconteceu uma coisa. E essa coisa gerou muitas outras coisas diferentes que explicam por que acontece o...