11. Halloween

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TRIGGER WARNING: Automutilação, violência doméstica. Não se sentindo bem com isso, pule as partes em itálico. Não prejudica a compreensão da história não ler as lembranças.

Todos os anos, desde meus 3 anos de idade, meu pai se fantasiava de Dr. Frankenstein e eu me fantasiava d'A Criatura. Mas, naquele ano, Bruno seria a Criatura. Eu não gostei muito daquilo, parecia que eu estava sendo substituído por meu escroto caçula, e eu não podia fazer nada. Na verdade, sentia que minha substituição era inevitável, porque eu não passava muito tempo em casa mesmo.

Eu tinha 16 anos e tocava minha guitarra, Pansy, enquanto chorava. Sentia meus dedos arder e ia tocando mais rápido, dedilhando notas mais agressivas, o amplificador desligado. Não fazia pouco barulho, de qualquer maneira, mas minimizava um pouco. A porta do quarto trancada, o piso de madeira empoeirada, meus pés descalços e um casaco fechado esquentando meu corpo enquanto as lágrimas esquentavam meu rosto. E a guitarra fazendo barulho. Mais rápido, mais rápido. Até que perdi noção de tempo e espaço.

Por que você não me o tênis? – perguntei, os braços cruzados. – Você deu coisas novas pro Bruno!

Ele tem 5 anos, Junior. É diferente.

Uma cama é mais cara que um tênis! – acusei. Eu nem sabia, mas devia ser.

Justamente. Ele está devendo, não podemos comprar o tênis. – mamãe interviu. Não aguentava mais ir de chinelos para a escola. Tudo porque papai não queria me comprar um tênis. Eu não queria muito, não pedia o mais caro. Apenas queria um bonito.

Frank quer me ver na merda. – sentei no sofá. Não era mentira.

Nessa hora, meu pai se irritou. Os olhos quase verdes esbugalhados quando acertou meu rosto com um forte tapa. Doía, mas eu não podia chorar. Quando eu chorava, ele batia mais. Então eu me encolhi.

The Radio Guy Hates The ActorOnde histórias criam vida. Descubra agora