15.

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Gerard e eu tivemos tempo para ficar sozinhos, mas demorou. Não sei, parecia que tudo estava demorando mais naquele dia. Depois do toque de recolher, cada um para seu quarto e o inspetor pelos corredores, Gerard acendeu um cigarro no banheiro masculino. Pelo barulho do isqueiro, eu soube que era ele, porque eu também estava ali, mas trancado numa cabine.

– Gee? – eu sussurrei.

– Quem mais seria? – ele falou, um pouco mais alto. Quase ri. Filho da puta.

– Então, precisamos conversar.

– Foi o que você disse.

Eu escancarei a porta da cabine, ainda sentado no vaso. Gerard estava escorado na pia com uma mão, o cigarro preso entre os dedos da outra. Seus cabelos estavam meio bagunçados, e ele vestia uma camiseta com estampa de unicórnio e calças curtas. Unicórnios! Esse cara é uma figura. Como ele conseguia ficar sensual com a porra de uma camiseta com estampa de unicórnio? Talvez fosse a fumaça. Gerard ficava tão bem fumando. Ou talvez, como ele dizia, fosse apenas a morte mostrando que vestia bem nele.

Foi pensando nisso que eu decidi falar de morte primeiro:

– Eu gosto pra caralho de você.

O aspirante a ator pareceu confuso.

– Okay?

– É por isso que você precisa saber umas coisas. Acho que, primeiro, eu não sou virgem.

– É Escorpião.

– Transei com Jonas Smith e Patrick Stump. Fui ativo com um e passivo com outro. Não vou te contar com quem fui o quê.

Gerard ergueu uma sobrancelha.

– …okay?

– Eu gosto bastante da nossa amizade, e da minha amizade com seu irmão também. Tenho medo de parar de frequentar sua casa se a gente tentar alguma coisa e der errado.

– Mas, Frank…

– Eu não vou negar que você foi babaca comigo nos primeiros anos. Eu ainda te acho meio babaca, na verdade. Mas acho que o tempo que você passou fora da escola te deu uma nova perspectiva e… quer saber? Eu posso lidar com a sua babaquice. Eu também sou bem babaquinha às vezes.

– Eu não…

– Você está apaixonado por mim e não faz muita questão de esconder isso, mas eu? Merda, eu não sou gay e você sabe. Eu minto pra todo mundo sobre isso por conta de Bob. Não sei muito bem o que sou, mas tenho absoluta certeza de que não sou gay. Mas gosto de você pra caralho.

– Certo, então…

– Ah, e eu também não gosto muito quando você chama a si mesmo de "ator". Sei lá, um artista, talvez, mas fazer parte do clube de teatro no Ensino Médio não te torna um membro da Academia.

– Sério? Mas…

– Eu não quero pouca coisa com você. Eu não quero só te beijar e foder como eu fiz com Stump, ou ser um amigo que de vez em quando paga um boquete, como eu fiz com Smith. É sério, eu quero olhar para trás na minha trajetória e ver você nela. Não me importa se isso te assusta ou não; eu já disse que gosto de você pra caralho duas vezes e você ainda não saiu correndo.

– Entend…

– Gerard. Eu preciso terminar.

Eu devia parecer uma coisinha estúpida, sentado naquele vaso tampado, me confessando e provavelmente assustando o rapaz de quem eu gostava, com um pijama não muito bonito e com os cabelos ainda molhados do meu banho mal tomado, com os olhos cheios de lágrimas. Mas eu precisava daquilo. Precisava falar.

Gerard suspirou, soltando muita fumaça tóxica de uma só vez, e enquanto tragava fez um gesto com a mão, me incentivando a continuar. Ele sorria com os olhos. Ele gostava de mim pra caralho.

– Eu não sei se você já percebeu, mas eu tenho umas tendências autodestrutivas. – estiquei os braços descobertos, mostrando os pulsos cortados e os dedos esfolados. Também mostraria os cortes em minhas coxas, mas pensei comigo mesmo que seria demais. – Eu tenho uma bagagem comigo, cara, e é bom você não se esquecer disso. Eu tenho a porra de um pai abusivo, uma escola onde eu tive que mentir pra ganhar um quase respeito e, caralho, sabe quantas vezes eu simplesmente pensei em pular do último andar desse inferno e acabar com tudo de uma vez? Muitas vezes.

– Frank, eu não…

– E eu não pulei até hoje porque eu sentia que ainda precisava realizar algo. Eu tô tentando evitar me machucar porque ainda sinto isso. É sério, não me machuca.

– Frank…

– Eu não tô te pedindo isso, é só o mínino que eu espero. Eu não aguento mais dramas na minha vida. Eu quero ficar com você porque você me parece algo muito próximo da alegria.

Gerard não sabia se chorava ou ria. Ele lacrimejava, mas sorria abertamente com seus dentinhos. O cigarro havia apagado em seus dedos, mas ele parecia não ter visto.

– Caralho, eu… nem sei o que dizer.

– Só me beija até minha boca ficar dormente, por favor.

Ele riu. Aquele riso estranho de quem está pensando merda, e entrou na cabina onde eu estava. Gerard beijou meu pescoço, e ao chegar no pé de minha orelha, murmurou:

– Eu não vou machucar você nunca.

Não sei bem como saímos daquela cabine e ele acabou preso entre minhas pernas, me beijando. Eu estava eufórico, sentado naquela pia e, merda, eu era só um adolescente. Óbvio que meu corpo queria desesperadamente foder com Gerard, até tive uma ereção que apontou forte contra a barriga dele, mas fizemos apenas o que estava na sugestão inicial: beijar até a boca ficar dormente. Porque eu não queria fazer aquilo naquela hora. Eu queria olhar para trás na minha história e ver Gerard Way me fodendo na pia de um colégio católico? Provavelmente não.

E essa, companheiros, foi a primeira vez que me vi romanticamente atraído por alguém.

The Radio Guy Hates The ActorOnde histórias criam vida. Descubra agora