O nome da garota era Jamia Nestor. Ela estava no primeiro ano do Médio e pelo segundo ano no St. Jude, e entrara para a equipe de teatro por uma recomendação de Ray, que disse que ela era boa. Ela tinha um sorriso engraçado, e ficou comigo durante o resto daquele sábado caótico, na sala comunal depois de sair da ala médica (tive uma concussão no ombro, mas ao menos não era uma costela quebrada. Eles colocaram o osso no lugar e eu fiquei bem, depois da dor que veio), conversando sobre o mundo e as pessoas e músicas e, é claro, sexualidade.
Ela me perguntou se eu era mesmo gay ("não, não; na verdade eu não sei o que sou", respondi), se eu era virgem ("quase isso. Não 100% virgem, mas um bocado", disse) e se eu gostava de Bryar ("eu já cheguei a gostar, mas… não, quando eu saí com ele já tinha passado", menti). Ela disse que entenderia se eu quisesse me deitar em posição fetal na cama e apenas chorar, mas que também entenderia se eu quisesse fazer algo para superar aquilo tudo. Ela sugeriu, para início das coisas, sacanear Bob depois da missa de domingo. Até porque, depois de chorar em posição fetal (sim, eu fiz isso durante 30 minutos na tarde de sábado, engasgado com baba e desesperado pela traição), meus olhos vermelhos com o lápis de olho preto escorrendo me deram uma ótima ideia quanto ao que fazer.
"Seu pai vai adorar saber que você é um viadinho magrelo e fraco", ele disse. Cerrei os punhos e decidi mudar aquilo. Quando contei minha ideia (modéstia à parte, genial) para Jamia enquanto ela fazia cafuné em um Frank ainda meio choroso, ela sorriu maldosamente, e eu também. Através das lágrimas, eu sorria. Eu seria mais quem eles queriam que eu fosse; aquele carinha fino e pacifista que nem carne come e costuma apanhar tanto do pai quanto dos colegas. Eu seria alguém que todos odiariam e respeitariam na mesma intensidade, quase como o ódio que sentem por Gerard.
Porque eu não seria um viadinho magrelo e fraco.
Eu seria um viadinho magrelo e forte.
Seria a bichinha maldita que eles não esperavam.
No domingo, meu ódio se sobrepunha à maioria das coisas enquanto o padre e diretor Patrick falava sobre amar. Por estarmos no colégio no dua, era recomendado/obrigatório que fôssemos à missa. Chegando lá, depois de duas horas me arrumando com Jamia no dormitório dela (onde apenas ela havia ficado durante o fim de semana) com umas coisas pertencentes à equipe de teatro, eu estava pronto para ser o assunto do dia.
Calças pretas apertadas e rasgadas nos joelhos, cinto de spikes e uma camiseta rosa colada no corpo com SASSY escrito com purpurina roxa. Batom vermelho nos lábios, delineador nos olhos, um sorriso de lado digno de um filho da puta, ou até mesmo da própria puta. Eu era um bichinha sapeca, e sabia que aquilo iria render. Entrei com Jamia, fiz o sinal da cruz e sentei-me ao lado de Bob num dos bancos da capela.
– Oi, chuchu. – mostrei os dentes a ele, e pisquei um olho.
– Recuperado de ontem? Tá querendo mais porrada, é? – sussurrou de volta o zagueiro.
– Apenas de você, querido. – joguei um beijinho para ele e atentei à missa, focado no que Patrick dizia. Era uma passagem onde Jesus dizia algo que, depois, pairou em minha mente durante a semana:
"Se sua mão direita lhe é motivo de escândalo, então corte-a e jogue-a fora, pois é melhor adentrar sem um membro no reino dos Céus do que ter todo seu corpo queimado no Inferno."
Jesus ainda seguia:
"Se seu olho direito lhe é motivo de escândalo, então corte-o e jogue-o fora, pois é melhor adentrar cego no reino dos Céus do que ter um corpo completo queimado no Inferno."
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The Radio Guy Hates The Actor
FanfictionTinha esse garoto que estudava no colégio católico que o meu, o Gerard Way. E eu não gostava dele. Até aí comum, eu não gosto de muita gente. Mas aconteceu uma coisa. E essa coisa gerou muitas outras coisas diferentes que explicam por que acontece o...