O trabalho de Literatura de Gerard havia sido bem fácil, se eu fosse ignorar as falas do seminarista Ray enquanto ele me ajudava.
– Então, você gosta desse garoto.
– Eu odeio ele. – murmurei. – Posso continuar o trabalho?
– Você gosta dele e não admite isso para si mesmo. – Ray concluiu sozinho, e passou as mãos por seus cabelos cheios. Fez um rabo de cavalo e continuou, calmo. – Por quê? Tem medo do que sente? Tem medo dele ou algo parecido?
– "Companhia" tem h? – perguntei, alheio. Toro fez que sim com a cabeça. – Eu não tenho medo de nada, okay? Nem gosto dele.
– Aham. Mas você sabe, às vezes eu fico mal por Gerard. Ele está no terceiro ano com 20 anos, todos que estudam são crianças para ele! Deve ser difícil não ter com quem conversar.
– Ele tem amigos.
– Não, ele não tem. Ele tem alguns companheiros para fazer coisas ruins, mas não tem um amigo além de Mikey.
Encarei Ray, curioso.
– Como pode afirmar isso?
– Ele me contou. – deu de ombros. – Às vezes ele fica triste pensando que seus amigos se formaram e estão em universidades, e ele não sai do St. Jude. Mas tanto faz, não é? Você não se importa. Aliás, você o acha burro e arrogante.
Se o objetivo de Toro era me deixar culpado, ele conseguiu. Dei de ombros, começando a ficar com raiva daquele cara.
– Só Deus pode me julgar.
– E só Deus pode julgar Gerard, também. – lembrou Ray. Terminei o manuscrito e pus a caneta atrás da orelha, saindo da presença do seminarista o mais rápido possível. Ele estava errado: eu não gostava de Gerard.
Nada contra, mas eu não gostava dele. Na verdade, eu não gostava de caras… não, na verdade, eu não gostava de Gerard. Não, não gostava. Ele não fazia o meu tipo.
Eu já gostava de alguém, na verdade. Gostava de um garoto e, merda, ele era tudo que alguém poderia sonhar. Ele tinha uma sombra de barba, e usava brinco, e tinha os cabelos loiros cortados curtos por baixo do capacete de hóquei… ele era o zagueiro do time. E, quando eu ia aos jogos, ele sempre sorria para mim na saída, com aqueles dentes quase certos e os olhos brilhando. Bob Bryar. Até seu nome era sonoro.
Ele andava com as pessoas erradas, o Bob. Tinha uns amigos no grupo de teatro e uns outros do time de hóquei, e todos eram bonitos, populares, e babacas. Para mim, no entanto, Bob não parecia tão babaca quanto os outros. Ele tinha um sorriso cativante e era bom em História, e ajudava pessoas dos primeiros anos com algumas coisas. Um dos poucos erros que Bryar cometera foi filmar um dos jogadores do time de hóquei vomitando, bêbado, ao invés de ajudar. Mas eu achava aquele deslize aceitável, porque gostava tanto dele… merda.
Obviamente, eu sabia que era errado. Sabia que ele não gostava de mim, e que ele era um cara importante do terceiro ano enquanto eu era o garoto do rádio. Eu devia odiá-lo, e falar mal dele no microfone, mas não era o que eu fazia. Às vezes eu até queria, mas aí ele sorria e a vontade ia embora.
Era estranho gostar de alguém.
Depois de entregar o trabalho para Gerard, no corredor do pavilhão onde ficava meu dormitório, e ouvi-lo agradecer com um sorriso tímido no rosto, eu ia me sentar no chão quando vi uma figura grande vindo, e paralisei.
– Iero! Eu posso falar contigo por um instante? – chamou uma voz que eu conhecia. Olhei para o cara; era um Bob sorrindo de lado vestido com um uniforme que ficava com as calças apertadas nele. Bem, não seria eu quem avisaria.
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The Radio Guy Hates The Actor
Fiksi PenggemarTinha esse garoto que estudava no colégio católico que o meu, o Gerard Way. E eu não gostava dele. Até aí comum, eu não gosto de muita gente. Mas aconteceu uma coisa. E essa coisa gerou muitas outras coisas diferentes que explicam por que acontece o...