30. My dick won't get hard (or Almost sex and almost therapy)

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Sexo. A urgência do corpo, o cheiro de suor e feromônios, os gemidos e palavras murmuradas. Tudo aquilo fazia sentido. E minha vida precisava de um movimento lógico — a ordenação de Ray e a confusão gerada pelo evento me tiraram dos eixos. Não que minha cabeça fosse boa antes. Mas aquilo havia doído.

O novo Frank — eu, o novaiorquino simpático que foi pra Nova Jérsei de avião ao invés de fazer como qualquer mortal e ir de carro — racionaliza através de bebidas e sexo. É o que eu faço para fugir de questões que para mim não fazem sentido. Por isso eu liguei para Corey e o arrastei para meu apartamento. Ele havia me dado um presente e eu me sentia na obrigação de compensá-lo, mesmo tendo a estranha sensação de que ele me odiava. E ele era lindo. Seu corpo parecia delicadamente esculpido — como se ele fosse um dos garotos de Michelangelo —, nada era muito desproporcional. Ele era muito bonito. Muito. Assim como uma escultura, ele não tinha pelos pelo corpo (o que eu acho estranho), mas isso não atrapalhava. Nós bebemos e nos beijamos. Nos atracamos no sofá da sala intensamente, seminus, enquanto a temperatura do ambiente parecia aumentar. Ah, o sexo! Ao menos nisso eu posso me fiar!

– Frankie… – ele murmurou ofegante em minha orelha e beijou meu pescoço. Sua ereção roçava em minha perna. Fechei os olhos com aquela instintiva expectativa sexual que nos faz esperar sensações maravilhosas.

Mas eu não senti nada.

Corey também percebeu, e enfiou uma mão por dentro de minhas calças como se explorasse. Eu o encarei, frustrado.

– Olha, não vou mentir e dizer que é a primeira vez que isso me acontece, mas…

– Não, tá tudo bem. Você passou por muita coisa recentemente. Eu achei que podia te fazer relaxar um pouco.

– Eu sinto muito. – me ajeitei no sofá e o olhei. Corey deu de ombros e acendeu um cigarro.

– É normal. – ele passou uma mão pelos cabelos e soltou a fumaça tóxica do cigarro pelo nariz. Corey não parecia frustrado pela minha repentina impotência sexual. Na verdade, ele só parecia cansado. Como se transar comigo fosse um favor que ele precisasse fazer e se livrar dessa tarefa fosse de certa forma um alívio. Ele era velho. Devia ter uma noção melhor do que a minha sobre o que sexo significa. – Italiano, eu posso te pedir uma coisa?

– Eu ia oferecer a punheta…

Ele riu. Foi a primeira vez que vi Corey rir. Ele geralmente tinha os olhos estranhamente mortos. Daquela vez ele riu com os olhos.

– Não é isso… eu ia pedir pra você me ensinar a ler. Eu tenho minhas economias, mas preciso de um emprego e ninguém contrataria um gigolô analfabeto. Eu posso te pagar pelas aulas--

– Não precisa. Eu ensino. E de graça! – sorri. A verdade era que seria bom finalmente ter uma ligação com Corey. Eu me sinto muito sozinho. Nós poderíamos nos tornar amigos. – Mas antes me responde uma coisa… o que Michael Way falou pra você?

– Ah, você deve saber. Ele sabe um bocado sobre você. Queria que você fosse à Jersey pra mostrar umas coisas, mas não me contou o quê. Eu penso que ele te ama.

– Eu penso que ele me odeia.

– Como foi a viagem? – Corey deitou no sofá e esticou as pernas sobre as minhas.

– Foi… inesperada. Não sei o que eu tinha na cabeça para aceitar ir.

– Tão ruim assim?

Não respondi. Eu estava pensando, tentando processar o que tinha ouvido e sentido no boliche, porque nas duas oportunidades que tive para pensar naquilo numa eu bebi com Jamia e na outra bebi com Corey. Gerard era um vítima e eu aparentemente era um merdinha. Pessoas me odiavam por eu ser um merdinha. Alicia me chamou de rato.

Tentei processar por uns 30 segundos, porque abstrair era mais fácil. Logo eu estava apenas prestando atenção nos dedos dos pés de Corey. Será que ele tem pelos nos pés e tem que depilar ali também?

– Você magoou alguém. Você fez alguma coisa, porque me parece que você veio fugido pra NY.

– É. Sim para as duas afirmações.

– Quer me contar o que houve?

– Não. – passei distraidamente um dedo pelo dedão do pé de Corey. A pele ali era áspera.

– Sabe, ser puto é quase como ser psicólogo. A gente acaba aprendendo muito sobre as pessoas através do sexo. E eu sei que uma coisa séria te incomoda. – ele recolheu os pés, e se sentou ao meu lado no sofá. Apagou o cigarro e me olhou intensamente. – Vamos fazer assim: você finge que eu sou essa pessoa que você magoou e tira essa merda de peso das costas. Pode me falar o que quer que você tenha para dizer a essa pessoa.

– Você precisaria ter um topete. – ri, nervoso. Não queria pensar em psicologia.

– Isso é fácil de resolver. – ele riu, e passou as mãos pelo cabelo numa tentativa falha de manter sua franja de pé. – Ok, isso se resolve com água.

Ele levantou e foi andando em direção ao banheiro. Eu o segui. Corey molhou a cabeça e conseguiu, finalmente, manter um topete bem duvidoso. Tentei ajeitar seu cabelo também, porque seus fios loiros lembravam terrivelmente os de Gerard quando ele pintava o cabelo e eu adorava passar os dedos pelos cabelos de Gerard.

Não percebi quando meus olhos começaram a arder, mas logo eu estava chorando. Corey, psicologicamente transfigurado em Gerard, apenas me olhava.

– Desculpa. Desculpa. Eu não sabia… eu juro que não sabia. Eu me sinto um lixo. – disparei antes de soluçar. Respirei fundo e prossegui. – Qual é a diferença entre eu e meu pai, afinal? Nós dois somos uns desgraçados que só destroem tudo no caminho. Eu sinto tanto, eu não queria ser assim…

– Tá tudo bem. Respira. – ele murmurou, e passou o dedo em meu rosto para secar uma lágrima.

– Eu queria ter sido um namorado melhor. E o pior é que eu sinto que poderia ter feito mais do que eu fiz. Eu te amo, mas quantas vezes eu disse isso? Eu devia ter feito mais…

– Talvez, mas o que está feito está feito. Você não pode mudar o passado, Frankie.

– Eu sei. Mas também tem um problema… o meu futuro depende de mim.

– Você deve fazer mais agora.

Eu o beijei. O mais engraçado era que eu não precisei fingir estar beijando Gerard ou coisa do tipo. Porque eu estava, intencionalmente, beijando Corey. E ele sabia disso. Era o meu jeito de agradecer. Eu senti o gosto das minhas próprias lágrimas em sua boca, mas não via motivo para parar. Não foi um beijo sexual — e não levou ao eventual sexo —, foi um beijo sincero. Um beijo tão puro e intenso quanto os que eu dava no St. Jude escondido nos corredores.

Mesmo beijando Corey, eu estava beijando Gerard.

•••

– Bom dia, Nova Iorque. – disse como dizia quase todas as manhãs. Eu me sentia bem. Bebi uns goles de vodca e tomei banho, animado. Não sentia fome.

Eu me sentia bem mas entendia plenamente que não estava bem. Provavelmente eu não iria comer nada em dias. Mas já estava bem melhor que antes. Recapitulei por cima a noite anterior enquanto pedalava para a escola, ignorando as partes dolorosas, e percebi: eu broxei com o homem mais lindo do mundo porque estou apaixonado… por que pênis e coração funcionam desse jeito estranho? Era curioso.

Larguei a bicicleta encostada na entrada do colégio e sorri. Finalmente havia decidido o que fazer sobre Gerard. Eu devo fazer o que posso agora.

The Radio Guy Hates The ActorOnde histórias criam vida. Descubra agora