Pizzas devoradas, refrigerante bebido, tv assistida e, depois, Mamãe dormindo. Depois de passar uns instantes na sala olhando para a televisão sem realmente assistir nada, ouvi passos descendo a escada e não pude deixar de tremer involuntariamente com a memória de meu pai. Mas era o pé de Bruno, amém. Ele desceu, cabelos molhados pingando na camiseta de futebol e… um cigarro?
– Tem um isqueiro? Eu perdi o meu. – ele disse. Parecia mais uma desculpa que um pedido comum. Peguei o isqueiro no bolso da minha bermuda, sem nem perguntar por que diabos meu irmão de 15 anos fumava.
– Sentaí, Bruno.
Ele se sentou na outra ponta do sofá, de pernas cruzadas apreciando seu cigarro. Olhou para a TV, falsamente concentrado, e pôs uma mecha de cabelo atrás da orelha.
– A mamãe sabe?
– Que eu fumo? – perguntou. Assenti com a cabeça. – Acho que não. Só a Marie sabe.
– Deve ser mesmo uma boa garota.
– Ela é. Sabe, Junior, eu acho que te devo desculpas.
Ele me encarou, tão igual ao Frank e ao mesmo tempo tão diferente. Bruno parecia sincero. Parecia um homem. Eu era o rato e ele era o rapaz; trocamos os papéis. Ele soltou a fumaça tóxica pelo nariz, tornando seu ponto um pedido de tempo. Tinha mais a falar.
– Eu fui uma criança tão babaca com você, fui um moleque contigo. Um moleque idiota e mimado pelo papai. Eu queria ser como ele. – Bruno riu amargamente. – Eu queria ser forte como ele, e achava que pra isso eu tinha que te odiar. E, bem, virar adulto na marra me mostrou que não é assim.
– Você é forte, Bruno.
– Ainda não. Eu… eu percebi com a ausência que o nosso pai não era lá um cara muito forte, e eu juro que tô dando o meu melhor pra manter a mamãe de pé, mas ela precisa de algo que eu não consigo dar. Hoje ela tava feliz, mas não é assim sempre. Ela passa muito tempo chorando pelos cantos, e eu… é complicado, Junior.
– Eu sei que é. Ela sente falta dele, a minha falta, mas você tá fazendo muito bem. Você é o homem da casa de um jeito que eu nunca poderia ser. Você abandonou o futebol que você amava pra cuidar da Mamãe, e eu sinto muito por te jogar tudo isso nos ombros e correr pra Nova Iorque. Eu cometi erros, eu fui bem babaca ultimamente, mas eu quero que isso melhore.
– Vamos fazer assim: eu esqueço suas cicatrizes e você esquece meus cigarros. – ele sugeriu. Parecia muito bom. Vamos perdoar nossos erros cometidos por conta dos excessos. O mesmo excesso, na verdade: auto piedade. Bruno estendeu a mão e tentou um sorriso, mas seus olhos não pareciam ter alcançado a alegria. – Irmãos?
Apertei sua mão de bom grado. Áspera mão, a de meu irmãozinho.
– Irmãos. – sorri de verdade com aquela. – Aliás, mano, como você cresceu tanto? Tá da altura da porta!
Bruno riu, e conversamos como nunca fizemos enquanto eu morava com ele. Estava realmente mudado. Não lembrava em nada aquela criança irritante de antes. Ele me deu um cigarro (meu irmão fumando Hollywood, que vergonha!) e fumamos juntos, falando de amenidades. Lá pela meia noite ele foi dormir, alegando que precisava acordar cedo pro colégio, e me desejou boa noite. Eu desliguei a tv e subi também, rapidamente alcançando Bruno ainda no corredor.
– Junior? O que…
Abracei meu irmão com firmeza, fechando os olhos com a cabeça encostada em seu peito largo. Ele não parecia nem um pouco habituado a abraços, e demorou a me corresponder. Mas o fez, com braços fortes ao redor de meu corpo fino. Ficamos nos apertando por um tempo até eu sentir algo pingando na minha cabeça. Não questionei as lágrimas de Bruno, apenas o abracei mais fortemente e passei a mão por seus cabelos 'inda úmidos. Não disse que o amava, mas espero que tenha ficado subentendido. Estava tão triste por ele.
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The Radio Guy Hates The Actor
FanficTinha esse garoto que estudava no colégio católico que o meu, o Gerard Way. E eu não gostava dele. Até aí comum, eu não gosto de muita gente. Mas aconteceu uma coisa. E essa coisa gerou muitas outras coisas diferentes que explicam por que acontece o...