A Sociedade de Porto Izmael (Mistério/Policial/Aventura)

Capítulo 1. A mensagem

Estou quase sem tempo, mas não posso morrer sem me despedir. Tenho muito medo que algo colocado nessa mensagem possa ser usado contra minha filha e minha ex-esposa, por isso estou mandando para você meus últimos pensamentos, meu irmão.

Sei que não fui correto com você durante a minha vida, não foi pessoal, eu fui um cretino com todos , inclusive comigo. Não tenho vergonha de nenhum dos meus pecados, quando chegar do outro lado vou admitir todos e pagar pela eternidade. Contudo, existem certos erros que nem um verme como eu pode cometer, e é sobre isso que quero falar.

Não posso dar detalhes, como já mencionei, não quero que algo seja usado contra minha família, inclusive nossos parentes, tente absorver estas palavras e tirar o que lhe for conveniente. Dentre todos os nossos irmãos você sempre foi o de bom coração, sei porque eu já machuquei muitos e só você seria capaz de não ignorar minhas últimas palavras.

Em uma noite, no dia 15 de maio, conheci o pai de todos os pecados e era um homem de carne e osso, ou pelo menos assim me pareceu. Ele me ofereceu, tudo o que sempre sonhei: dinheiro para toda uma vida, mas em troca ele queria minha alma, um mal tão grande que nada poderia redimir, algo que nem Deus perdoaria.

A principio fui tocado pela ganância desenfreada — que como você bem se lembra é meu segundo pior pecado depois da lascívia —, e até aquele momento nada me impediria de fazer às vontades daquele monstro e ser sua mão peçonhenta corroendo tudo que é bom e puro.

Em meados de junho, eu já estava com tanto dinheiro que poderia viver o resto de minha vida em outro país, digo poderia porque quando alguém faz um acordo com um anjo caído ele nunca mais pode sair, você se torna um deles. Sinto nojo de mim quando penso que até certo momento da minha vida isso não faria a menor diferença, poderia facilmente prosseguir naquele inferno desde que meus vícios fossem saciados.

Mas foi naquela noite que tudo mudou, me vi nos olhos daquela inocente e entendi que o mal requer um limite, até um nada pode perceber que existem certas linhas que não devem ser cruzadas. Larguei tudo, fiquei escondido por uma semana, irmão, não podia confiar em ninguém dessa cidade, tudo indica que os demônios tem me cercado desde que aceitei fazer parte de tudo isso, desde que decidi fazer coisas deploráveis para seres sem alma.

Meu objetivo é fugir com esse dinheiro sujo que acumulei, se for necessário dar um destino digno a ele — seria tolo da minha parte pagar o mal com o bem? —, entretanto percebi que essa casa está tomada por olhos, sair vivo daqui parece impossível, as almas atormentadas estão lá fora esperando o momento certo para me levar.

Diga a minha filha que meus erros não tem perdão e que ela nunca deve seguir meu exemplo, diga a minha ex que apesar de tudo que nós passamos eu ainda espero que ela seja feliz. Acredito que meus pecados não chegarão até elas.

Termino esse recado implorando seu perdão, meu irmão, percebi que nunca dei os parabéns pelo seu casamento, não é mesmo? Me disseram que sua esposa é uma mulher incrível e muito inteligente, você deve estar muito feliz, imagino. Acredito que se alguém merece uma pessoa assim, esse alguém é você. Se minha memória não falha o nome de sua esposa é Eleonor, certo? Espero não ter errado, desejo toda a felicidade do mundo a vocês. Adeus, meu irmão, seja feliz e nunca se esqueça desse caçula desajustado, pode parecer hipócrita, mas se eu pudesse renascer como outra pessoa eu gostaria de ser você, eu sempre te admirei, irmãozão. Eu te amo, Heitor. Adeus, cara.

Alexandre Garcia Torres, 19 de Julho, Porto Izmael.

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Eleonor ou Eleanor?

Optei por uma questão de enredo por utilizar Eleonor, e não o tradicional Eleanor como conhecemos em músicas e filmes, o motivo da escolha é fazer uma ligação com a rainha Leonor da Aquitânia sem perder esse "E" inicial de uma das variantes do nome na língua portuguesa, além é claro da sonoridade agradável quando em união com o nome Heitor.