Capítulo 13

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A mulher em questão estava no limite de todos os aspectos físicos, o corpo arqueado dava traços de alguém exausto, o cabelo estava despenteado e os olhos fundos — de alguém que não dormia o necessário há muito tempo.

Cassius, tão gentil e receptivo, tentava acalmar a senhora que desesperada repetia aos gritos que precisava de informações sobre o sequestrador de sua filha, suas manifestações acaloradas despertaram a atenção dos policiais que estavam do lado de fora da delegacia.

— O que está acontecendo aqui? — Disse um deles com tom intimidador.

— Nada, é apenas a senhora Oliveira. Ela está um pouco tensa, mas é só por causa da situação da filha. Vou buscar um copo com água e ela vai se acalmar.

— Eu quero minha filha, Cassius! Por que ninguém faz alguma coisa? Uma semana, uma semana...

A mulher soluçava aos prantos, Cassius fez um sinal para que nos aproximássemos para pegar Vitória. Eleonor aproveitou a deixa para participar do assunto:

— Bom dia, o que aconteceu com sua filha? Ela desapareceu?

— Quem é você? Você é policial?

Eleonor balançou a cabeça negativamente.

— Meu nome é Eleonor e esse é o Heitor. Estamos aqui para dar um depoimento, você deve ter visto a história dessa linda garota aqui — fez um sinal para indicar Vitória — , ela apareceu nos jornais ontem.

A mulher respirou fundo e conteve as lágrimas, possivelmente ela sabia da morte de Helena e entendeu que minha esposa não poderia falar diretamente, por causa da criança.

— Sim, eu sei sim. Meus pêsames... — Graças a Deus, minha sobrinha não sabia o significado de pêsames.

— Então, será que você pode nos fazer companhia, enquanto aguardamos a delegada?

Olhei pelo vidro da sala de Thábata, ela tinha ameaçado deixar seu refúgio, já estava com as mãos na mesa e o corpo em pé, mas quando percebeu a diminuição da gritaria, simplesmente bufou e retornou ao assento.

Sentamos novamente na fileira de cadeiras, enquanto Cassius entregava um copo de água para a senhora Oliveira, a mulher segurou com a mão direita enquanto a esquerda permanecia agarrada a bolsa, após alguns instantes ele voltou ao seu posto na recepção. Vitória me pediu para ficar com o amável senhor com quem ela tanto brincou, e eu balancei a cabeça positivamente, nessa situação era melhor que ela não ficasse por perto.

— Então, senhora...

— Ruthe, Ruthe Oliveira... não precisa me chamar de senhora, por favor.

— Ótimo, então Ruthe. O que aconteceu com sua filha? — Perguntei.

— Minha filha, Fátima, desapareceu cinco meses atrás. Foi quando comecei a vir aqui todos os dias. A delegada me disse que em uma semana me daria respostas, ela falou para esperar uma semana...

A voz retomou o tom de sofrimento e seus olhos lacrimejaram.

— Vocês não são daqui, certo? — Perguntou, Eleonor.

— Como você...

— Sua pele, parece que você não está acostumada à praia. Sua bolsa de couro é de uma confecção não industrializada, com costuras em zigue-zague típicas do interior de... enfim, sou uma investigadora. Vocês viajaram para essa cidade e sua filha desapareceu?

— Não, não diga que ela desapareceu. Não use essa palavra! Ela foi sequestrada!

— Por que tem tanta certeza?— A questionei.

Ruthe pegou seu celular que estava na desgastada bolsa de couro, abriu uma troca de mensagens e nos mostrou a última mensagem de sua filha:

" Mãe, a festa se estendeu, a gente vai passar em um lugar e de manhã eu volto para o hotel."

— Ela me mandou isso às 22:00, viemos com um grupo da nossa cidade para passar férias. Ela saiu com as amigas para aproveitar a noite de Porto Izmael, e nós, os pais, ficamos no hotel. Suas amigas me disseram que ela deixou a boate com um homem, ele era loiro e estava bem-vestido.

Eleonor balançou a cabeça em concordância.

— Minha filha, ela é tudo que eu tenho. Todos voltaram, mas eu não vou embora! Não saio daqui até saber o que aconteceu com a Fátima.

— Eu entendo você perfeitamente, meu irmão e minha ex-cunhada foram encontrados mortos. Afirmaram que meu irmão cometeu suicídio e...

— Não, não acredite neles!— A mulher se aproximou para cochichar — eles mentem, nada nessa cidade é o que parece. Quando minha filha desapareceu, ninguém queria investigar, eles nem quiseram tomar o depoimento das amigas dela. Por isso estou sempre aqui, alguém precisa cobrá-los, alguém...

— Tudo bem, Ruthe. Não precisa dizer mais nada, estamos no mesmo barco, meu marido e eu estamos investigando os assassinatos com o pentagrama vermelho.

— Sim, você disse que é investigadora. Você acha que pode me ajudar? Algum conselho profissional... digo, sei que você deve estar ocupada, e não tenho muito dinheiro, estou gastando minhas últimas reservas para me manter nessa cidade...

Enxergando todo aquele desespero que Ruthe estava enfrentando, resolvi tentar ajudá-la e oferecer nossos serviços:

— Claro, nós podemos...

— Nós não podemos te ajudar. — Eleonor me interrompeu antes que pudesse estabelecer qualquer apoio.

A mulher se assustou com a mudança de expressão de minha esposa, Eleonor estava com um olhar firme e muito menos gentil.

— Se dinheiro é problema... Talvez, eu possa arrumar um emprego ou pedir emprestado...

— Não, não é uma questão de dinheiro.

Olhei para Eleonor em uma tentativa desesperada de contê-la antes que ela descarregasse seu lado analítico na pobre mulher, foi em vão:

— Você deveria voltar para sua cidade.

— Como ousa... Não vou desistir da minha filha...

— Você pediu orientação profissional, estou dando a mais sincera de todas. Sua filha desapareceu há cinco meses, você não acredita na polícia local e não tem recursos para se manter aqui, não sabe a característica física do suspeito, apenas que ele é loiro. Se ela foi sequestrada e você não confia na polícia, não adianta perseguir a delegada, tudo que você vai conseguir é um processo e o rancor dos homens e mulheres que trabalham aqui.

— Você, como você... Eu não preciso disso! Minha filha está viva, vou encontrá-la ainda que passe o resto de minha vida aqui!

A mulher se levantou e arremessou o copo vazio na lixeira, segurando sua bolsa marchou para fora da delegacia, sua determinação para deixar o local foi tão grande que ela ignorou Cassius e os policiais, ignorou até mesmo a delegada que acabara de abrir a porta da sala para nos receber.


A Sociedade de Porto Izmael (Mistério/Policial/Aventura)Onde histórias criam vida. Descubra agora