Capítulo 36

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Palavras tem um poder curioso que nenhuma arma ou exército pode exercer sobre nós: elas nos causam aflição e nossas mentes ficam desorientadas. Era o que Catarina descobriria naquele dia enquanto aquele cheiro, das cinzas da casa destruída de Ygor, se juntava ao odor do mangue.

— Você quer que eu acredite que tem algo para barganhar, minha cara? Me diga o que é, então!

— Eu tenho a coisa mais importante de toda a sua vida, algo que você valoriza mais que sua fortuna, mais que seu poder ou seu saltos caríssimos.

A mulher mais poderosa daquela cidade, a líder de uma sociedade antiga, estava desdenhosa de que minha esposa pudesse oferecer algo que nem sequer valesse sua ida até aquele lugar, que ela julgava ser asqueroso.

— Ela não tem nada, senhora. Me deixa matar esse cara antes que a policia chegue, ela está ganhando tempo. — Disse um dos homens que já estava aflito com a demora.

Catarina fez um sinal para que ele esperasse, possivelmente ela não estava preocupada pelo simples fato de que a qualquer momento um homem previamente designado pela ordem apareceria por trás de Eleonor e a mataria, minha situação me impedia de fazer qualquer coisa e aquilo me deixava aflito.

— Vou perguntar pela última vez: O que você me oferece?

— Um refém. — Respondeu Eleonor com toda a calma desse mundo.

Até mesmo eu fiquei perdido com essa frase, não sabia de refém algum. Pensava se aquilo era algum tipo de blefe e rezava para que não fosse, pois, a líder daquela Ordem não era o tipo de pessoa que aceitava com bom humor, trapaças em uma negociação.

— E quem é o seu refém? Posso saber?

— Claro, estou com seu filho Victor.

O semblante de Catarina mudou, os olhos tinham um ódio gigantesco. Se me lembrava bem, Eleonor havia dito que o filho era o Calcanhar de Aquiles daquela mulher aparentemente fria e calculista.

— Se a polícia encostou no meu filho, juro por tudo que me é sagrado que vocês...

— Relaxa, não foi a polícia. Eu capturei seu filho.

Catarina, seus homens e eu olhávamos ao redor em busca de alguém, Eleonor não estava com ninguém no carro, estava sozinha, parada na nossa frente. O que levou a pergunta básica da mãe de Victor:

— Onde está meu filho? O que você fez com ele?

— Ele está preso em um lugar seguro. Troco meu marido por sua localização.

— Você está mentindo pra mim, sua cobra. — Antes que Eleonor dissesse algo, Catarina pela primeira vez deixou sua classe de lado e esbravejou. — Meu filho está em uma clínica de reabilitação há uma semana, ele está seguro.

— Será mesmo? — Minha esposa expressava um ar levemente irônico.

Catarina furiosa deu as costas para Eleonor e foi até um de seus homens com passos errantes, provocados por seu calçado inapropriado para o local.

— Me dê sua arma.

O homem prontamente entregou sua arma para a chefe, que possivelmente ele nunca vira perder a compostura como naquele dia. Catarina andou novamente para perto de minha esposa, destravou a arma com uma facilidade que me surpreendera e a apontou na direção de Eleonor.

— Você está mentindo. Admita agora!

— Não estou mentindo, estou com seu filho. — Insistiu.

O homem que estava me vigiando resolveu opinar sobre a situação na tentativa de acalmá-la ou fazer com que ela tomasse uma atitude violenta.

— Liga pra ele, senhora. Quando ele atender você mata os dois.

A Sociedade de Porto Izmael (Mistério/Policial/Aventura)Onde histórias criam vida. Descubra agora