Quando cheguei ao Aeroporto tudo que eu queria era uma boa noite de sono, penso que nunca lidei com tanta papelada na minha vida, contudo estava satisfeita com o resultado obtido na operação "Bruxas de Salém" que culminou na prisão de pessoas poderosas em Porto Izmael.
Bruxas de Salém era um nome estúpido, provavelmente dado por um engraçadinho do setor de inteligência que julgava parecido um esquema de tráfico de mulheres e um dos mais famosos casos de absurdos assassinatos que aconteceu em Massachusetts, por volta de 1600. Na pior das hipóteses, o engraçadinho soube que o fundador da cidade era conhecido por ser um pseudo-bruxo e quis brincar com a palavra "bruxas", o que seria ainda mais ridículo.
Em outra ocasião, hibernaria bem longe de qualquer cidade movimentada, pegaria minhas férias atrasadas e ninguém saberia de mim por um mês ou mais. Contudo, minha irmã merecia esse apoio, ela e o marido ainda que de forma desajeitada me ajudaram a encurralar o contrabando que dominava Porto Izmael.
E lá estava ela me esperando, uma camisa preta e um jeans vermelho surrado, ela sempre precisava de uma cor chamativa em alguma peça. Minha irmã para se vestir, desde pequena, era como um corvo correndo atrás de algo brilhante para seu ninho. Encostada no capô do carro ela sorriu na minha direção e quando me aproximei, ela ignorou minha mala e me abraçou forte.
— Abraço? Por Deus, Eleonor! Você tem passado tempo demais com o Heitor.
— Não posso negar que passar muito tempo com o Heitor, tem me feito pegar esses traquejos sociais, mas será que um abraço na sua irmã caçula é tão ruim? — Eleonor me presenteou com mais um sorriso.
Desde criança minha irmã fazia isso de sorrir para quebrar o gelo, com o tempo ela aperfeiçoou a técnica para conseguir simpatia de seus clientes, parentes, colegas e tudo mais. Era bom saber que ela sabia flertar, dom que não era minha especialidade, contudo me irritava a forma constante com que ela usava essa arma.
— E Então? Agora você pode me dizer porque precisava de mim na capital?
— Não preciso, Bárbara. Contudo, achei que como mãe, você poderia me aconselhar sobre ter uma filha.
Franzi a testa e devo admitir que demorei alguns instantes para juntar as informações que ela me dera durante a semana, só podia ser voo e o trabalho, estava lerda.
— Ah sim! A sobrinha do Heitor. Você veio até aqui para levá-la, se não me engano a garota está com o avô.
— Exato. Me diga, minha querida irmã! Tem algum conselho sobre maternidade?
— No momento tudo que consigo pensar é que o Heitor vai estragar a pobre criança.
Sorrimos e entramos no carro. Apesar de popular, o veículo era levemente confortável e estava limpo. Nosso destino era a casa do sogro de Eleonor, um homem ranzinza com quem me deparei apenas duas vezes, se não me engano seu nome era Apolo. No caminho, resolvi louvar a troca social desnecessária de palavras e perguntar sobre o que eu já sabia:
— Como está o Heitor? Ainda está no hospital?
— Sim, ele ficou uma semana na UTI, mas agora está no leito. Pelo que o médico disse ele deve ficar lá por um mês.
— E você o deixou lá para buscar uma garota? Me parece um esforço exagerado, já que a menina está sendo cuidada pelo avô.
Ela balançou a cabeça levemente.
— Foi o Heitor que pediu para que eu viesse até aqui, ele está preocupado que o pai não trate bem a Vitória. Ele gosta muito da sobrinha e quer ela em um lar agradável.
— Típico do Heitor, homens velhos são sentimentais.
Eleonor riu sarcasticamente.
— Velho? Ele tem sua idade.
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A Sociedade de Porto Izmael (Mistério/Policial/Aventura)
Детектив / ТриллерLIVRO COMPLETO O casal de investigadores, Eleonor e Heitor, recebem a noticia do suicídio de Alexandre, o irmão de Heitor, e resolvem dar o último adeus ao caçula da família Garcia Torres, contudo o casal descobre o passado sombrio do rapaz e os in...