O plano deles fazia sentido, não existia hipótese de Eleonor provar que todas as fotos enviadas não foram repassadas, então qual era a estratégia? Será que ela estaria esperando sozinha por esses sujeitos e confiando em um acordo às escuras? Seria ingênuo demais, isso não fazia o estilo de minha esposa.
— E como fazemos isso? Eu simplesmente peço para explodirem a cabeça deles? — Perguntou Catarina.
— Não acho recomendável, penso que você deve escutar o que ela tem a dizer, deve ser alguma mentira astuta, não dê ouvidos, contudo é melhor conseguirmos toda a informação disponível.
— Então por que não a capturamos e tiramos toda a informação dela? — Pontuou Boris, com todo seu sadismo disfarçado.
— Não, sem reféns. Se ela tem contato com a segurança federal, ainda mais uma irmã, ela deve ter alguém rastreando fora do mangue. Aproveitamos a oportunidade e deixamos os dois corpos por lá mesmo. — Disse o senador Tobias.
Nesse momento, Catarina teve uma feição mais reflexiva.
— Como ela vai chegar até a casa do Ygor em duas horas? — Todos fizeram uma cara de dúvida. — Digo, sei que existe uma rota alternativa que pode ser feita de carro, mas tem gente lá vigiando e ela não passaria de carro. A rota pelo mangue é difícil de ser feita, assim em tão pouco tempo. Então, por que apenas duas horas?
— Ela já está lá, deve ter analisado todo o terreno antes de uma possível troca. Esperta. — Disse Felipe Parezz com um sorriso. — Sugiro um terceiro homem. Alguém que faça um cerco e a pegue desprevenida, seria uma morte rápida.
Catarina não viu problema em quebrar o acordo e ofereceu o terceiro homem:
— Eu posso levar um terceiro homem...
— Um dos seus não, vai ser um meu. — Boris fez um sinal com a mão chamando um de seus guarda-costas. — Amaro, você vai pelo mangue e surpreende ela, quando a Catarina fizer um sinal, você mata a mulher.
Catarina sorriu com desprezo pela evidente falta de confiança de seu colega, mas a líder da Sociedade de Izmael era uma mulher fria e não se deixou provocar, apenas consentiu com a cabeça.
Senador Tobias, como um político experiente, aproveitou para dizer o óbvio:
— Bem, acredito que não temos mais nenhuma dúvida, certo? Podemos acabar com isso de uma vez e esperar os resultados daquelas fotos. Se é que ela encaminhou aquilo para alguém.
— Eu não faço mais parte dessa cúpula, mas gostaria de pedir um último favor. — Todos olharam para o velho senhor Veiga. — Não façam mais acordos com o estrangeiro, cancelem tudo, até mesmo o tráfico de drogas.
— Mas, Patriarca o senhor não entende...
— Sim, senador. Eu entendo sim. Aquele homem deixa muitos rastros, se continuarmos negociando atrairemos não apenas nosso governo, estaremos chamando a atenção em outros países. Confiem em Catarina, ela controla o porto como ninguém, em breve teremos contratos melhores e sem tantos riscos.
O senador e o descendente do velho Izmael trocaram olhares, após todos os acontecimentos não seriam estúpidos ao ponto de discordar.
— Tudo bem, uma carga parte hoje, ela será nossa última troca com Alecxey. Gostaria de cancelar tudo agora mesmo, mas toda a mercadoria já está pronta na Marina e seria impossível rescindir.
— Tudo bem, essa será a última vez então. Acredito que ninguém discorde. — Concluiu, Catarina.
Carlos Veiga tocou o ombro de Catarina e Ricardo.
— Trabalhem juntos e nossa irmandade vai prosperar. O Velho Izmael não era um bruxo de verdade, seu único feitiço era decifrar os caminhos que essa cidade deve tomar.
Todos pareciam satisfeitos, contudo eu mal podia respirar, algo entre meu embate com Ygor e a tortura de Boris fraturou minha costela. Apesar de meu estado, aquele homem ainda me encarava com ódio. Ricardo me fitava com fúria.
— Se essa é a última vez que vejo nosso convidado, preciso me despedir. — Disse Ricardo, pegando novamente sua faca.
Catarina prontamente se posicionou e um de seus homens levou a mão até sua arma.
— Relaxem, eu não sou imbecil. Não vou matar o sujeito, só quero dar um presente de despedida.
Ricardo caminhou com seus dois lacaios na minha direção, eles me ajudaram a levantar. O odioso homem, sedento por vingança, segurou meu rosto pelo queixo.
— Você é fortão, não parece com seu irmão. Ele tinha outros dons, certo? Uma noite vi ele flertando com uma garota, o jeito vadio e aquele sorriso falso eram feitos para enganar qualquer um. Foi então que o convoquei, o trabalho dele era simples: enganar moças jovens, turistas, ele parecia ter nascido pra isso e pagava bem, uma combinação perfeita!Mas é claro que um covarde sempre será um covarde. Me disseram que um belo dia ele surtou e queria soltar uma garota, depois se escondeu em casa como um rato.
Claro, ele era o pai de todos os pecados que Alexandre disse naquela mensagem. Ricardo Gorin era o responsável por tudo de ruim que aconteceu ao meu irmão e Helena. Em meus olhos o ódio ardia tanto quanto o dele, ambos queríamos nos matar, mas eu mal podia me mover e ele devia aceitar às ordens impostas.
— Mandei o Ygor acabar com ele, ninguém ligaria para a morte de um verme. — Neste momento ele pegou um colar de ouro no bolso. — Mas ele comprou isso aqui e levou para ex-mulher, quem manda joias para a ex, não é mesmo? Eu podia deixar passar, isso não vale nada pra mim e ele estava morto, mas o Ygor me pediu pra matar a maldita.
Minha vontade de agredir o tal Ricardo, foi limitada pelos dois homens me segurando.
— Você sabe quem matou naquele mangue? É Óbvio que não. Meu primo sempre foi considerado estranho, ele não tinha amarras sociais, sabe? Contudo sempre foi forte, mesmo quando criança. A primeira vez que ele matou alguém foi um garoto que disse que ele era retardado, nossa! O Ygor esmagou a cabeça dele contra o meio fio. Mesmo com todo dinheiro da família, era impossível continuar escondendo os atos de violência dele com o passar dos anos. Foi o que disseram, mas eu sempre cuidei dele, deve ser porque ele era como um irmão mais novo. Ele não me questionava, aceitava todo serviço sem fazer perguntas. Então, você apareceu e o matou, meu soldado mais fiel, a única pessoa em quem eu confiava de verdade no mundo, e tenho uma esposa e três filhos.
Ele fez um sinal e um dos dois homens dobrou a manga que escondia meu braço, tentei me debater em vão, enquanto ele destacava meu antebraço. Com a faca, Ricardo desenhou um pentagrama em minha pele.
— Quando o Amaro, aqui, matar sua esposa na sua frente, olhe para esse pentagrama e lembre-se da minha cara. — Ele pegou a joia e colocou pendurou no meu pescoço. — Pode levar essa porcaria também, ela não é prova de nada.
Alguns instantes depois, acabei desmaiando sem descobrir como aquela estranha reunião acabou.
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Aquele Abraço!
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A Sociedade de Porto Izmael (Mistério/Policial/Aventura)
Mistero / ThrillerLIVRO COMPLETO O casal de investigadores, Eleonor e Heitor, recebem a noticia do suicídio de Alexandre, o irmão de Heitor, e resolvem dar o último adeus ao caçula da família Garcia Torres, contudo o casal descobre o passado sombrio do rapaz e os in...