Capítulo 6

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Não sabia bem como proceder com aquela informação. Se Eleonor estava certa e meu irmão foi assassinado, não me surpreenderia em nada, mas o fato de Helena afirmar isso com tamanha convicção era no mínimo algo chocante.

— Helena, como assim? Como você pode afirmar isso?

— É verdade, Heitor. Seu irmão foi encontrado enforcado, certo? Tinha um pentagrama vermelho desenhado perto dele, não é mesmo?

Acenei com a cabeça concordando.

— Ele não foi o único. Três pessoas foram encontradas mortas da mesma forma, só no último mês.

— Mas quem faria uma coisa assim? Repetir o mesmo crime três vezes, é como se quisesse ser pego.

Percebi que Helena estava bem séria, seu olhar contemplativo indicava que ela sabia de mais alguma coisa, ou pelo menos suspeitava.

— Eu acho que você nunca ouviu falar sobre essa cidade. Estou enganada? — Ela me questionou.

— Na verdade, só conheço sobre o porto. Por quê?

— Essa cidade é maravilhosa em muitos aspectos, possui muitos empregos, qualidade de vida e educação, um verdadeiro paraíso se comparado à outras cidades. Centenas de anos atrás o homem que fundou esse lugar, conhecido como o Velho Izmael, formou um grupo com diversos integrantes que debatiam os rumos da cidade e ele se mantém hoje. Muitos dizem que o grupo de moradores chamado "Cavalheiros e Damas por Porto Izmael" é responsável por esse desenvolvimento até hoje.

Aquilo parecia um texto retirado do Wikipédia, mas achei que sorrir poderia parecer sarcástico de uma forma que só a Eleonor poderia fazer. Em vez disso, resolvi com um ar de seriedade saber mais:

— Tudo bem, Helena, mas como isso tem ligação com meu irmão?

— Acontece que os rumores que rondam a cidade é que o tal grupo é apenas uma fachada para uma sociedade formada pelos membros mais ricos e influentes da cidade a "Sociedade de Porto Izmael". Eles controlam tudo que acontece por aqui, dizem que o espírito do velho Izmael fala com eles e quando alguém faz algo que os desagrada, o fim é quase sempre o mesmo, a morte e o tal pentagrama vermelho.

Mesmo que algo naquela história fantástica fosse realmente verdade, nada poderíamos fazer. Como enfrentar algo tão vago como "membros mais ricos e influentes", ou pior, como provar a ligação de meu irmão com essa gente? De qualquer forma era uma excelente história.

— Helena, isso parece uma lenda urbana.

— Eu sei que parece, é só que... Bem, tudo é tão estranho por aqui, Heitor.

— Estranho? O que quer dizer?

— Eu não sei explicar. As pessoas são diferentes aqui, como se tivessem segredos. Não duvido que tenha algo de muito errado com essa cidade, entende? O velho Izmael era conhecido por ser um bruxo, as memórias que ele deixou narram coisas sobrenaturais que aconteciam na cidade e até hoje as pessoas guardam os manuscritos dele e recitam em assembléias. Eu não sei o que você acha disso, mas me assusta. Tô falando umas coisas doidas, né? Me desculpa.

Não resisti e engatei uma leve risada, que foi seguida de uma risada de Helena.

— Não ri de mim, seu besta! Tô falando sério!

— É mesmo, Helena? Você tem medo do espírito do velho que fundou a cidade?

Gargalhamos um pouco mais, ela sabia que aquilo era muito absurdo.

— Tudo bem, tudo bem. Eu admito que parece besteira, mas pelo menos eu te contei.

Algum tempo depois Eleonor e Vitória apareceram, a garota parecia muito feliz enquanto caminhava na direção de sua mãe trazendo um desenho que minha esposa a ajudou a colorir. Passamos mais algumas horas conversando, Helena nos contou sobre sua vida, seu trabalho como secretária em uma empresa do ramo alimentício e sobre a escola de Vitória, minha sobrinha era sem dúvida alguma uma criança muito inteligente e divertida.

A Sociedade de Porto Izmael (Mistério/Policial/Aventura)Onde histórias criam vida. Descubra agora