Apanhei por algum tempo, devo admitir que Boris era criativo o que compensava as mãos macias de contador. Seu soco não era grande coisa, então compensava com utensílios pouco ortodoxos para tortura, contudo acredito que seja um desperdício de tempo detalhar meu tempo sendo torturado.
Após esse divertido tempo com Boris, me deram um banho, um outro eufemismo para jato de água gelada contra a parede. Me vestiram com uma estranha manta preta, um dos caprichos de seitas, evidentemente a roupa era simples, afinal, não sou um membro. Vendaram meus olhos e me levaram de carro, pensei que atirariam na minha cabeça e jogariam meu corpo no mar, isso não aconteceu.
Algum tempo depois, a única coisa que percebi ao descer do carro foi que caminhei um longo percurso em uma escada estreita e circular.
Um dos homens que me acompanhava me empurrou no chão e arrancou a venda, pude enfim contemplar algo que esperava desde que conversei com Helena: uma escura e bizarra sala de reuniões, digna de uma Ordem Secreta.
Aquele lugar tinha tudo que uma seita precisa para assustar seus fieis e criar lendas: Uma mesa gigante com cinco cadeiras bem alinhadas, a do meio, ainda que vazia, era a mais bem artisticamente tratada e ornamentada. Atrás da bela mesa, uma enorme estatua do poderoso fundador Izmael, as duas mãos abertas estavam perfeitamente alinhadas com as pontas da mesa, que reluzia o esplendor fictício do medo com aquele estranho castiçal e todas aquelas velas acesas.
O tablado do chão em xadrez, clichê fundamental de seitas satânicas e outras não tão satânicas, era digno de minha atenção. Não sei se foi proposital, mas o local onde me jogaram era sobre um pentagrama, o famoso pentagrama vermelho da ordem de Izmael.
Os dois homens que me guaivam se posicionaram ao lado de uma das cadeiras, ficaram lá em pé e calados, eram os únicos no local. Entretanto, era meio que evidente que não seria assim por muito tempo, em breve toda a Ordem estaria naquele lugar.
Assim aconteceu, após alguns minutos, cinco portas de madeira robustas se abriram e de cada uma delas saiu uma pessoa usando uma capa preta e um capuz cobrindo o rosto, obviamente cada um dos encapuzados possuía dois guarda-costas que se posicionaram perto das respectivas cadeiras de seus chefes.
A pessoa sentada na cadeira principal removeu o capuz, era Catarina Parezz, da mesma forma que aconteceu na Assembleia, aqui ela teria as palavras de abertura:
— Juro por toda minha vida e por minha extensão espiritual, guiar o gado desorientado e com seu sangue purificar os perdidos de minha casa das mãos dos impuros. — Recitou a mulher.
— Obedientes animae! Obedientes animae! Obedientes animae! — Repetiram os presentes.
Palavras pesadas e Latim. Aquilo foi um pouco assustador e não parecia em nada com aquela conversa de receber o estrangeiro da abertura realizada na Assembleia. Seja como for, após aquilo, todos removeram o capuz.
Entre os presentes, além de Catarina tínhamos quatro pessoas, os três membros da "Cavalheiros e Damas por Porto Izmael": O ex-marido de Catarina, Felipe, o senador Tobias Mackenzie e o descendente do velho Izmael, Ricardo Gorim. O último membro da Ordem era o simpático contador e aspirante a torturador Boris.
— Então, senhor Heitor, seja bem-vindo à Sociedade de Porto Izmael, também conhecida como A Ordem. Espero que Boris tenha o tratado de forma adequada.
Ainda com os lábios inchados cuspi um pouco de sangue no pentagrama e a encarei em silêncio.
— Deve estar preocupado com sua esposa, não? Eleonor, correto? — Apenas a fitei com os olhos. — Vocês fizeram um bom trabalho encobrindo suas informações, sei que ela já foi policial e você serviu o exército nas tropas de paz, contudo não tenho mais informações.
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A Sociedade de Porto Izmael (Mistério/Policial/Aventura)
Mistério / SuspenseLIVRO COMPLETO O casal de investigadores, Eleonor e Heitor, recebem a noticia do suicídio de Alexandre, o irmão de Heitor, e resolvem dar o último adeus ao caçula da família Garcia Torres, contudo o casal descobre o passado sombrio do rapaz e os in...