Capítulo 7

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Com a negativa de Helena, não nos restou outra opção a não ser partir. Fizemos reserva em um hotel à beira mar, a vista do décimo segundo andar do histórico Izmael Palace era sublime: as ondas batiam na areia com suavidade e os navios só podiam ser vistos ao longe, aquela praia era em si um cartão de visitas daquela cidade.

Nos acomodamos em nosso quarto e ao longo do dia caminhamos pela praia e nos servimos da bela comida local, um peixe sem espinho, cujo sabor maravilhoso era como uma explosão magnífica em nossas papilas gustativas.

As pessoas eram sempre solicitas e educadas, os vendedores nos tratavam como família e os moradores eram receptivos e pacientes com os turistas curiosos. Confesso que em momento algum senti o ar de mistério narrado por Helena, talvez o fato de sermos apenas visitantes em uma cidade que precisa muito do turismo tenha limitado minha perspectiva.

Acredito que certos mistérios cotidianos só possam ser percebidos pelos moradores, entretanto Eleonor não me pareceu incomodada com nada e geralmente minha esposa repara situações incomuns.

Enquanto degustava minha refeição, não conseguia parar de pensar na reação de Helena, foi rude a forma como minha esposa a interrogou sobre a caixa, contudo a explosão dela foi desmedida. Queria mandar uma mensagem, perguntar despretensiosamente sobre minha sobrinha, como se nada tivesse ocorrido, só não encontrava a coragem.

Eleonor me observou, encarando o celular, e resolveu opinar:

— Você quer ligar para ela?

— Sim... mas...— cocei a cabeça em sinal de inquietação — não me parece certo, ela pode estar magoada.

Eleonor sorriu.

— Eu não a conheço, só sei que ela estava atuando. Aquela raiva não era verdadeira.

— O que quer dizer com isso?

— Como eu posso explicar... Minha irmã Bárbara fazia algo parecido comigo. É o chamado não quero falar sobre isso, você extrapola sua indignação para não ter que dar satisfação ao outro.

— Faz sentido...

De fato, em momento algum durante nossa visita, Helena reagiu de maneira tão incisiva. Quando a conheci éramos jovens, contudo nunca a vi reagir daquele modo. As palavras de Eleonor me trouxeram a mente lembranças, de alguém que de fato fazia isso: Alexandre.

Era exatamente como ela disse, meu irmão caçula cometia erros, alguns absurdos, e esbravejava antes de sair do local, ele não respondia pergunta alguma, apenas se fazia de vítima.

Após nossa briga, foi exatamente o que aconteceu. Me recordo que Átila pegou as roupas jogadas no chão e foi ao encontro de Helena para que a moça pudesse sair de nossa casa com o mínimo de dignidade que a situação lhe permitia. Permaneci no quarto, remoendo meu ódio e decidindo meu futuro. Do outro lado da porta meus pais tinham mais um dos intermináveis diálogos com meu irmão, meu pai gritava o ameaçando, lembro que algum dos termos usados pelo meu velho para designar seu filho foi "cobra peçonhenta, que criei debaixo do meu calcanhar", Alexandre dizia apenas que meu pai não o entendia.

Chega a ser cômico, ele cometeu uma ação horrível e mesmo assim não disse uma única palavra de arrependimento, e ainda acusou nosso pai de me favorecer em tudo.

Resolvi mandar uma mensagem para Helena, perguntei de forma casual se elas estavam bem e disse que minha sobrinha era maravilhosa, e que não via a hora de me encontrar outra vez com Vitória.

Eleonor achou graça da forma como pisei em ovos para não falar da discussão que tivemos na porta da casa dela, contudo concordou que minha abordagem foi discreta e suficiente.

A Sociedade de Porto Izmael (Mistério/Policial/Aventura)Onde histórias criam vida. Descubra agora