Capítulo 5

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Naquela sala, diante de Helena, me veio a evidente conclusão de que o passado quase sempre é uma mancha da qual fugimos inutilmente. Mais de uma década sem olhar nos olhos daquela mulher, sem ouvir sua voz, mas a raiva de meu irmão ainda me consumia como naqueles tempos sombrios.

Nunca me ressenti dela, de certa forma, fui maduro o suficiente para compreender que nossa relação estava fadada ao fracasso. Oito meses de relacionamento e nenhum plano para o futuro, hoje eu entendo que ela não faria planos com o homem que ela não amava, contudo ainda não sei explicar porque não conseguia falar sobre meus planos, meus desejos e minhas expectativas.

Talvez, algo em um nível íntimo, aquela voz sombria e constante, tenha me alertado, de que aquilo era passageiro. Nem todo relacionamento confortável é sinônimo de amor, às vezes só estamos nos enganando, às vezes só estamos fugindo da solidão.

— Helena, agora que elas não estão aqui preciso te contar uma coisa — dei um gole no café — o Alexandre me deixou uma mensagem antes do... bem, antes do ocorrido. Preciso que você veja.

Ela ficou um tanto confusa, estiquei o celular para que pudesse ler a última mensagem e decidir se algo naquilo deveria ser passado adiante.

Após alguns instantes, em silêncio, olhando fixamente para a tela, ela me devolveu o celular. Helena recostou na cadeira e suspirou. Deus, não saberia dizer o que significava aquele suspiro de olhos fechados. Saudade? Remorso? Alivio? Realmente eu não saberia dizer.

Depois do constrangimento daquele dia em que briguei com Alexandre, ela fugiu de nossa casa e durante algum tempo minha família não teve noticias de Helena. Tanta coisa aconteceu naquele período: Saí de casa, minha mãe adoeceu ainda mais e Alexandre aprontou toda sorte de absurdos, para o desespero de meus pais.

Meu pai nunca se deu bem com seu caçula, e ovelha negra, o tempo só fez piorar a situação. Ele tentava tolerar os abusos de Alexandre, para não irritar minha mãe, lembro que ele tentou colocar meu irmão no caminho que ele julgava certo, pagou cursos, viagens, investiu em um negócio para que Alexandre pudesse administrar, mas nada dava certo.

A ambição de Alexandre era diferente daquela do nosso pai. Ambos achavam necessário ter muito dinheiro, mas meu irmão não acreditava na vida aristocrata que meu pai tanto defendia, ele gostava de gastar e muitos desses gastos eram ilícitos e o colocavam em encrenca.

Quando minha mãe morreu, ele foi expulso da vida de minha família da pior maneira possível. Meu pai o renegou e o proibiu de entrar na sua casa, se me lembro bem foi neste período que ele reencontrou Helena e começou a segunda etapa de sua vida.

Helena ergueu os olhos na minha direção.

— Ele te mandou isso de madrugada, né?

— Sim, confesso que na hora mal dei importância. No dia seguinte me contaram o que aconteceu. Sinto muito.

— Nossa, não se sinta assim, por favor. Você sabe, o Alexandre andava muito esquisito. Não sabia dizer ao certo, mas agora que eu vi essa mensagem, imagino que ele estivesse ligado a uma coisa ruim, muito ruim.

A expressão dela, sua fisionomia, era como se não estivesse mais ligada ao pai de sua filha, quem poderia culpá-la? Imagino quantas oportunidades ela deu para que Alexandre se redimisse.

— Sim, você tem razão. Meu irmão sempre teve esse defeito. Me desculpe te mostrar isso. Imagino que tenha sido difícil pra você absorver tudo.

— Heitor, eu amei seu irmão. Amei muito, de verdade. Não sei em quantos problemas acabei envolvida por causa desse sentimento — ela passou as mãos no rosto, era como se estivesse refletindo sobre sua vida.— Quando a Vitória nasceu, cresci muito, criei juízo. O Alexandre continuou o mesmo e percebi que ele destruiria nossas vidas, desculpa eu sei que ele era seu irmão.

A Sociedade de Porto Izmael (Mistério/Policial/Aventura)Onde histórias criam vida. Descubra agora