Capítulo 14

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Parada na porta de sua sala, a delegada nos encarou e com a mão fez um sinal para que entrássemos, uma recepção pouco cortês para quem nos fez esperar tanto tempo. Eu olhei para Cassius que estava dando atenção a Vitória, os dois pareciam felizes, era incrível como a criança se dava bem com todos.

— Pode ir, eu dou uma olhada nela enquanto vocês conversam.— Disse Cassius em um tom de família.

Thábata revirou os olhos e moveu a palma mão na direção da sala para que entrássemos logo, não parecia uma pessoa muito receptiva.

Entramos na sala, ela fechou a porta do lugar e nos fez um gesto para que sentássemos nas cadeiras de frente para sua mesa. O lugar era muito organizado, na mesa se destacava uma foto emoldurada de duas meninas um pouco mais velhas que minha sobrinha, uma caneca com uma estampa da delegacia e um quadro com o termo de posse da delegada.

— Desculpem o atraso. O trabalho aqui é imenso, milhares de processos passam pela minha mesa todos os dias. Estou exausta, mas sou a única aqui que pode cuidar disso.

Eleonor me presenteou com um imenso sorriso de deboche, Thábata fez exatamente o que minha esposa disse que ela faria. Enalteceu seu atraso e pontuou tanto a quantidade de trabalho como o cansaço do cargo de chefia.

— Não tem problema.— Respondi na tentativa de evitar que a delegada percebesse o deboche de minha esposa.

Minha vida inteira lidei com pessoas que gostam de demonstrar poder, na escola tive professores rígidos, em casa meu pai nos tratava como um chefe de uma empresa, e depois no exército, um festival de medalhas indicavam homens que enalteciam a hierarquia militar como o suprassumo da base organizacional das forças armadas.

Minha esposa era totalmente diferente, só respeitava uma forma de hierarquia: a intelectual. Não ligava para parentesco, medalha, cargo ou qualquer outro tipo de imposição moral. Se um chefe cometia um erro era menosprezado como qualquer outro funcionário, tolices são tolices independentemente de quem as cometesse. Não preciso dizer que isso já lhe custou muito.

— Vocês são parentes da vítima, certo? No caso você é ex-cunhado dela, Heitor, não é mesmo?— Assenti com a cabeça.— Nosso investigador Sérgio disse que vocês foram até a cena do crime ontem.

— Sim. — Respondi.

— Por quê?

— Como é?— Não entendi a indagação da delegada.

— Eu pedi para você se dirigir até a delegacia, vocês não vieram e foram até lá. Por quê?

— Bem... ela era minha cunhada e minha sobrinha...

— Penso que fui bem direta, precisava de informações sobre a vítima e você era a pessoa mais próxima dela, na cidade, seu contato estava salvo no celular da mulher. Se ela morreu a presença de vocês lá era irrelevante...

Eleonor resolveu interromper.

— Ele contou a parte em que achamos a criança ou a que entreguei de bandeja como achar o assassino?

A delegada se voltou para minha esposa com o semblante sisudo.

— Ele me disse que você entrou na cena do crime. Disse que você pegou a menina em um forro do banheiro, o que significa que a mulher com certeza lhe mostrou anteriormente...

— Como é?— Eleonor levantou a sobrancelha.— Sou uma investigadora e ajudei os policiais daqui mais de uma vez, eu não...

A delegada entregou um sorriso de escárnio para minha esposa e balançou a cabeça.

A Sociedade de Porto Izmael (Mistério/Policial/Aventura)Onde histórias criam vida. Descubra agora