Capítulo 33

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O homem que adentrou a sala, com seus passos mansos e cuidadosos, era uma figura conhecida. Simplesmente alguém que passou pelo filtro de Eleonor sem levantar suspeitas, seu cliente casado com a jovem esposa infiel: Carlos Veiga.

Quando o velho se aproximou da mesa, Catarina ofereceu seu assento para o homem, que rejeitou veementemente.

— Essa cadeira é sua, minha querida. Você é a lider agora.

Ele optou por ficar em pé, e agradeceu a gentileza com um leve aceno de mãos.

— Carlos, meu velho amigo, fico muito feliz por atender meu chamado. — Disse Felipe.

— Não precisa agradecer, Felipe. Me aposentei do conselho, mas ainda sou um membro obediente de nossa ordem.

O velho deu uma bela olhada em toda a situação, fitou bem os seguranças que estavam aflitos depois do impasse que acabara de acontecer. Olhou nos olhos de cada um dos membros que estavam sentados, e claro, encarou bem nos meus olhos.

— Parece que vocês estão com um dilema, certo?

— Patriarca! Estamos sendo chantageados por uma cretina! Aquele homem é o marido dela, o maldito que matou o Ygor. — Esbravejou, Ricardo.

— Sim, eu conheço a mulher. Uma investigadora de outra cidade, Eleonor. Aquele deve ser Heitor. O Ygor fez aquilo com ele ou vocês deixaram ele com o Boris?

O maldito contador sorriu confirmando sua participação no meu estado.

O velho caminhou na minha direção, o rosto passava a mesma impressão de cansaço da Assembleia, contudo, algo estava grotescamente diferente em sua face sem a máscara de velho bondoso. Carlos Veiga pediu para que os seguranças me levantassem para olhar melhor.

— Você deve saber que pedi para sua esposa investigar minha jovem mulher, Verônica Veiga, não? — Me lembrava bem, a mulher na Assembleia, a do celular. — Sua esposa pensou que isso enganaria todos, contudo, permaneci observando vocês. Fico me perguntando quantos amantes da minha querida esposa ela descobriu, dois? Três? Possivelmente mais.

Então, o velho já sabia das traições da jovem esposa. Eleonor cometeu um erro? Possivelmente sim, apesar de Carlos ter se aposentado da Ordem, ele continuava influente. Com certeza ele informava a Ordem sobre os passos de Eleonor, deve ter colocado alguém mais qualificado para segui-la, já que minha esposa não percebeu que estava sendo vigiada.

O velho voltou para junto de seus colegas de seita, ele se posicionou de pé, bem ao lado de Catarina.

— Patriarca, estamos em um impasse. A esposa desse homem tem fotos da casa de Ygor, incluindo uma foto de Alecxey Brummo e de "mercadorias" aprisionadas na casa dele. Em duas horas a mulher quer me encontrar, no local onde morava Ygor, para providenciar uma troca de suas provas pelo marido. Ricardo, Senador Tobias e Boris acham que é uma armadilha. — Disse Catarina.

Ricardo Gorin Levantou, novamente exaltado, para se posicionar:

— Carlos, esse desgraçado matou o Ygor e a mulher dele está nos chantageando! É uma armadilha! Coloca um pouco de juízo na sua sucessora!

Carlos Veiga balançou a cabeça e sorriu.

— Ricardo, você tem o sangue de Izmael nas veias, entretanto não está seguindo seus ensinamentos. O tal, Alecxey o estrangeiro, eu soube que você cedeu aos caprichos daquele estrangeiro para agradá-lo.

— Carlos, isso não é verdade, estava apenas fazendo um favor para um sócio...

— Não minta pra mim, Ricardo. Usar nosso porto para exportar drogas foi uma boa ideia, mas mulheres? Você enviou nosso povo para sofrer nas mãos de estrangeiros, e por que mantiveram mulheres presas na casa de Ygor? Isso era uma bomba prestes a explodir. O Ygor tinha seus caprichos, eu sei, mas ele não deveria ter um número tão grande de provas vivas em casa. Você era responsável por mantê-lo na linha, lembra?

Ricardo Gorin, com o suor percorrendo seu rosto, não esbravejou, não disse absolutamente nada. Apenas se calou e permaneceu em seu lugar. Obviamente seu aliado na mesa tentou justificá-lo:

— Patriarca, nossos negócios com Alecxey movimentam muito dinheiro, as mulheres que enviamos eram em sua maioria turistas, não eram filhas de nossa terra. Apesar de estrangeiro aquele homem já fazia negócios conosco há décadas, o senhor mesmo já negociou com ele. — Disse o senador.

O senador falava de tráfico humano como algo normal, eu não saberia dizer qual era o problema daquelas pessoas.

— Nós nunca cometemos tantos erros assim, senador. Quando a justiça descobre um carregamento ilegal de madeira ou álcool, esses objetos são difíceis de ser rastreados. Sabe o motivo? Porque uma garrafa de álcool não fala, Tobias. Uma tabua não tem parentes desesperados procurando por elas.

O senador constrangido optou por seguir o exemplo de Ricardo e não se manifestar.

— O estrago já foi feito. O que você sugere, patriarca? Devo ir até lá? — Perguntou Catarina.

O homem suspirou fundo, colocou às mãos sobre a mesa e observou cada um dos membros, tinha algo no olhar do velho que me irritava, uma mistura de arrogância e falsa sabedoria que chafurdam nas almas de pessoas sem escrúpulos.

— Meu avô me contava uma antiga história sobre o velho bruxo Izmael, nunca esqueci. Certa vez, um grupo de escravos, liderados por um recém-chegado guerreiro africano, resolveu fazer uma revolta. Aqueles homens tomaram toda a área do Porto de nossa cidade e mantiveram várias pessoas como reféns. Nossos soldados não podiam invadir e desesperados pediram ajuda para nosso fundador Izmael. Ele foi até lá sozinho e prometeu ao guerreiro e seus homens que teriam liberdade, terra e trabalho em troca da liberdade de todos. Foi acordado um tratado, que seria assinado assim que libertassem os reféns, e os escravos confiaram na palavra dele, afinal ele era o homem mais honrado da cidade. Vocês sabem o que aconteceu?

Todos balançaram a cabeça negativamente. Parece que essa história não foi muito divulgada, contudo alguém sabia, Ricardo Gorin respondeu:

— Eles trancaram os escravos no estaleiro, em seguida colocaram fogo. Alguns fugiram pela água, mas foram capturados e enforcados. Não deixaram nenhum sobrevivente.

— Exatamente, Ricardo. — Disse o velho sorrindo. — Sabe o que isso significa?

Eu sei seu cretino, a resposta é: além de ser um manipulador xenófobo, aparentemente o velho Izmael era também um mentiroso racista, pensei. Obviamente não foi a resposta de Carlos:

— Não negociamos com estrangeiros que nos ameaçam, deixem que pensem que eles têm o poder e no final, nós mostramos o valor de nossa terra. Aqueles escravos foram arrogantes, acharam que poderiam colocar nossa cidade contra a parede e nos chantagear, essa mulher está fazendo o mesmo com vocês. Não deixem que ela coloque uns contra os outros, vocês representam a dignidade e a força de seus ancestrais.

— Então, o que você julga que deve ser feito? — Perguntou Catarina.

— Você deve ir ao encontro dela, mas ela não pode sair viva daquele lugar. Precisamos matar a mulher e o marido.


** Eu cometi um erro gigantesco no capitulo 13 e troquei o nome da irmã da Eleonor, Bárbara, pelo nome da mulher de Carlos Veiga, Verônica. Mil perdões por ter deixado isso passar.


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Obrigado pela leitura!!!!!

Uma ótima semana pra você!^^

A Sociedade de Porto Izmael (Mistério/Policial/Aventura)Onde histórias criam vida. Descubra agora