Capítulo 27

129 58 112
                                    

Meus olhos ardiam com o ar lúgubre daquele covil, as goteiras e a pouca luminosidade levavam minha atenção diretamente para aquela visão horrível e triste.

Dentro daquele pequeno local, escondido na cozinha de Ygor, me deparei com uma cela de cerca de apenas três metros quadrados, com barras de ferro velhas, porém grossas, que mantinham em cativeiro nove mulheres, das quais oito estavam com os braços acorrentados.

Suas roupas encardidas e sua aparência desnutrida davam a certeza de que estavam passando fome e sede, um pequeno balde de madeira indicava o local onde suas necessidades básicas deveriam ser feitas, não saberia dizer ao certo quais delas estavam à beira da morte e quais já estavam mortas.

Pessoas trancafiadas e presas por correntes, os pulsos sangravam e as mãos estavam em total situação de dormência, conclui.

Com toda certeza elas não eram apenas mercadoria, aquelas garotas serviam de um brinquedo para o sádico Ygor. Aquilo me fez odiá-lo como nunca odiei um criminoso em toda minha vida.

— Maldição! Maldição! — Exclamava, enquanto imediatamente telefonava para Eleonor.

Assim que o celular de minha esposa aceitou minha chamada, descarreguei sobre ela minha surpresa:

— Droga, Eleonor! Tem mulheres acorrentadas aqui, é uma droga de jaula! Acho que é tráfico humano, ou pior, são prisioneiras desse sádico.

— Calma, Heitor! Eu já esperava algo assim, estudando os passos do seu irmão, cheguei até essa possibilidade, está lembrado? A Sociedade de Porto Izmael é diretamente envolvida com tráfico de mulheres. Era sobre isso que ele nos alertou na mensagem, ele estava envolvido nisso.

— Você não entende, elas estão em situação de miséria, não acho que eles queiram mandá-las para Europa, penso que elas estão aqui para morrer na mão desse psicopata.

— Faz sentido. Eu preciso que você tire foto dessa jaula e dessas mulheres, e me envie agora.

Fotos? Ela quer fotos? Aquele pensamento caiu sobre mim como uma rocha, ela não poderia ter falado isso com seriedade.

— Sem chance! Eu não vou ficar tirando foto disso, preciso soltá-las agora e tirá-las daqui.

— Heitor, me escuta. Você disse que elas estão acorrentadas, o Ygor deve ter as chaves, sem ele não tem como libertá-las. Procure as chaves pelos cômodos, se não encontrar saia da casa sem deixar rastros, esse local inteiro é uma prova.

— Eu...Droga, eu posso dar um tiro na fechadura ou arrebentar com o martelo que encontrei na cozinha.

— Não tem jeito, Heitor. Mesmo que você consiga, vai fazer um barulho imenso, você vai ser descoberto.

Cheio de ódio, passava a mão no rosto enquanto tentava bolar algo, era besteira. Se existisse alguma forma rápida de tirar aquelas mulheres, que mal podiam andar, daquele buraco, Eleonor com certeza já saberia.

— Tudo bem, estou te mandando fotos daqui. Preciso desligar.

— Sério, não faça nada precipitado! Ele deve estar chegando.— O tom de voz de Eleonor era firme e calmo.

Desliguei o celular e comecei a tirar fotos, tomei um susto daqueles quando uma das garotas, a que estava solta abriu os olhos e quase sem forças me chamou:

— Socorro, por favor. Tira a gente daqui.

Ela estava quase sem voz, me agachei e me posicionei perto da grade para falar com a garota.

— Qual é o seu nome?

— Fátima.

Aquele nome caiu com uma bomba, era a filha da senhora que nos abordou na delegacia. Contrariando todas as expectativas, estava viva, sua mãe tinha razão em pensar que ela ainda estava na cidade. Pobre moça, seu olhar triste e amedrontado carregava os horrores de Porto Izmael, a vergonha que aquelas pessoas escondiam do mundo estava bem ali representado na imagem daqueles mulheres aprisionadas.

A Sociedade de Porto Izmael (Mistério/Policial/Aventura)Onde histórias criam vida. Descubra agora