Capítulo 37

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O sol forte me cegou por alguns instantes, tudo que pude escutar foi um estrondo e o susto que me acometeu acabou por me derrubar. Meu rosto foi ao encontro do chão e sem conseguir enxergar o resultado do disparo, comecei a me debater.

Só naquele momento percebi que minhas pernas estavam amarradas.

Tentava gritar, mas a fita na boca me impediu. Se não fosse os malditos ferimentos, a costela, as pernas amarradas e o resto, teria dado um salto e corrido na direção de Eleonor sem me importar com o homem que ainda me apontava sua arma. Sem conseguir raciocinar, me enxergava perdendo minha esposa em uma missão suicida e sem sentido.

Por que estávamos ali? Poderíamos ter deixado tudo aquilo e estaríamos felizes em casa com Vitória. O som daquele tiro minou toda minha esperança, toda nossa arrogância ao pensar que lidaríamos com essa gente sem consequencia me tomou a alma de desespero.

Todos esses dias em Porto Izmael, as pessoas que perdemos, os perigos que nos espreitavam a todo momento naquela maldita cidade, tudo isso não me fez temer tanto quanto aquele momento. Era como se minha confiança em Eleonor tivesse blindado meu bom senso, nunca pensei que poderia perdê-la.

Enquanto me debatia desesperado senti a mão do segurança de Catarina tocar meu ombro.

— Relaxa, imbecil! Olha direito.

Gradualmente consegui focar minha visão novamente, Catarina estava parada com a arma erguida e para meu alívio, Eleonor permanecia na sua frente da mesma forma, sem nenhum ferimento.

Percebi que o alvo daquele projétil não era minha esposa, a líder da Ordem de Izmael atirou no tal Amaro, o capanga de Ricardo que tinha o objetivo de matar Eleonor pelas costas quando recebesse um sinal.

Parece que o homem ignorou a parte do sinal, ele estava muito próximo de Eleonor.

O tiro foi em sua testa, um único disparo certeiro e o homem de confiança do descendente de Izmael deixou a existência naquele mangue. Aos poucos me acalmei e voltei a me concentrar nas dores que afligiam que meu corpo.

O olhar de Catarina era a personificação da calma que apenas a fúria mais intensa é capaz de causar.

— Onde? — Os olhos encaravam Eleonor com seriedade.

— Quando você li...

— Onde? — Catarina repetiu com voz firme.

Eleonor retribuiu a seriedade, em um momento raro ela não fez nenhuma piada sarcástica, nenhum sorriso provocativo ou insinuação maldosa. Minha esposa limitou-se a responder:

— Dirija 30 quilômetros pela principal no sentido contrário à Porto Izmael, pare o carro e em dez minutos mando uma mensagem com uma foto do local em que ele está preso.

— Se algo acontecer ao meu filho, vou caçar vocês até o inferno.

Elas se encararam por mais alguns instantes até que Catarina deu as costas e andou sutilmente na direção do carro. Ela pediu para que os dois homens pegassem o corpo de Amaro e colocassem no porta-malas. Ela nem sequer olhou na minha direção, esperou que os homens fizessem o que mandou e abriu a porta do veículo.

— Nunca mais pisem nessa cidade. — Catarina nos ameaçou antes de entrar no carro.

Assim que o veículo partiu na direção da velha estrada, Eleonor correu na minha direção e me deu um abraço apertado, removeu a fita que tapava minha boca. Doeu um pouco, mas nada comparado aos golpes de Ygor ou a tortura de Boris.

— Essa foi por pouco, heim?

— Você tirou um coelho e tanto desse chapéu azul, ainda não acredito que você sequestrou o filho dela. Onde você escondeu esse caixão?

A Sociedade de Porto Izmael (Mistério/Policial/Aventura)Onde histórias criam vida. Descubra agora