Capítulo 9

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O alívio que senti quando abracei minha sobrinha foi imenso, o sentimento de que o mundo não era um lugar tão sujo e horrendo invadiu meu coração. Esperança, essa era a palavra que tomava meu coração naquele instante.

Vitória estava em choque e apesar da tentativa dos policiais nada pôde ser extraído dela, a garota só abriu a boca para perguntar da mãe, e claro, eu menti veementemente dizendo que em breve ela estaria com sua progenitora. Não estaria nunca mais. As doces mentiras que contamos, nos enganamos dizendo que estamos poupando as crianças, mas na verdade só queremos evitar o constrangimento de explicá-las o ciclo de vida, que no caso de Helena foi interrompido cedo demais.

Após alguns minutos minha sobrinha adormeceu no meu colo, Eleonor aproveitou o momento para me lembrar de nossa mais nova motivação para encararmos o caso e investigar o que estava acontecendo:

— Então? Vai ser guerra ou paz? — Ela sussurrou para que os policiais não escutassem.

Inalei o ar daquela noite fria, a brisa do mar acertava meu rosto em cheio, como um tapa me despertando para nosso dever.

— Guerra — afirmei com veemência.

Entreguei Vitória nas mãos de um dos policiais, que ficou na entrada da casa, para que pudéssemos prosseguir com a análise da cena do crime. Estávamos novamente na sala, de frente para a porta de entrada da casa.

— E aí, lobinha? Pode explicar agora como você sabia da garota? — Perguntou, Sérgio.

— Claro, mas antes eu gostaria de saber a visão de vocês. O que acham que aconteceu aqui nessa madrugada?

Nesse momento tanto o investigador Sérgio quanto seus dois colegas, mais inexperientes, entreolharam-se, como se questionassem a validade daquele exercício, porém, por algum motivo o experiente policial concordou e deu a largada investigativa:

— Eu penso que os homens que fizeram isso sabiam que ela era uma mãe solteira, devem estar de olho na vizinhança há algum tempo. Como não usaram armas, nem mesmo armas brancas, tratava-se de pessoas sem experiência na vida de crimes. Podem ter arrombado a porta na expectativa de um assalto rápido, mas quando toparam com a moradora se desesperaram e a mataram.

O policial mais jovem, com um ar confiante, completou:

— ... E se assustaram tanto com os barulhos da quebradeira que não levaram nada de valor quando fugiram apressados.

— Mas e o pentagrama na parede? — Tive que questioná-los.

Sérgio fez uma feição de desinteresse, antes de me responder:

— Esses pentagramas estão espalhados por toda cidade, os vagabundos usam na expectativa de que a polícia culpe uma seita por cada crime que acontece aqui. O único mistério neste local era como a garota parou no forro do banheiro.

Os policiais dessa cidade eram de uma descrença inacreditável, era evidente a ligação entre o assassinato de meu irmão e o de Helena, mesmo sem citar a tal caixa que Alexandre poderia ter entregado para sua ex-mulher.

Sem armas, nem mesmo arma branca, eles disseram. Ignoravam o fato dela ter sido enforcada, com tanta veemência que chegava a ser irritante.

Eleonor escutou tudo, e me indagou:

— E você, Heitor? Você conhece minha metodologia de análise, o que lhe parece ter acontecido aqui?

Era comum esse tipo de conversa entre nós, Eleonor perguntava o que eu pensava enquanto refletia sobre a situação e pensava no que poderia ter deixado passar.

— Tudo bem, deixe-me ver... Primeiramente, eu desconfio que uma única pessoa cometeu o assassinato, afinal tem pegadas lá fora de uma única pessoa e se tivessem entrado aqui em dupla, não precisariam matar a vítima, pois ela não teria força para resistir ou até mesmo pedir socorro.

A Sociedade de Porto Izmael (Mistério/Policial/Aventura)Onde histórias criam vida. Descubra agora