Capítulo 10

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Chegamos ao hotel, minha sobrinha continuava dormindo, já estava amanhecendo. Aproveitamos o momento para conversar, em passos silenciosos nos posicionamos na varanda do quarto, não queríamos acordar a pequena.

— Eleonor, você vai me contar o que realmente sabe sobre o assassinato de Helena?

— Claro, mas antes temos um assunto um pouco mais urgente — ela disse, olhando na direção da minha sobrinha.

— Como assim? O que tem ela?

— Eu conheço você Heitor. Quer ficar com a Vitória, certo?

Nesse momento fiquei encabulado, meu cérebro me dizia que a garota não estaria bem conosco, mas depois daquele susto, o medo de perdê-la, não poderia me imaginar longe da criança.

— Ela não tem família, Eleonor. Precisamos cuidar dela.

— Ela tem uma família. Eu já mandei mensagem para o seu pai. Ele está de acordo, em receber a garota na casa dele.

Nesse momento balancei a cabeça em negação.

— Não, não. De jeito nenhum! Ele odeia crianças.

A ideia de uma criança com meu pai era absurdamente inimaginável, não que meu velho não tenha ajudado em nossa criação, contudo agora era diferente. Meu pai estava mais velho e mais ranzinza que nunca, sem falar que Vitória era a filha de Alexandre, nada mais que o filho que ele expulsou.

— Calma, Heitor. Você não está sendo racional. — Nesse momento ela colocou sua mão no meu ombro e olhou fixamente nos meus olhos. — Pense bem, se você quer justiça pelo Alexandre e a Helena, não podemos ter uma criança por perto. Seu pai mora em outra cidade e ninguém aqui o conhece.

— Ela não pode crescer sendo criada pelo meu pai, você não entende...

— Entendo sim. Ela não vai ser criada por ele. Vitória vai ser criada por nós dois.

Fui tomado por um breve espanto. A mesma mulher que achava perigoso demais ter um filho estava disposta a criar uma criança que ela nem conhece?

— Você quer dizer que seremos como os pais dela?

— Se ela quiser. Não vejo porque não. Contudo, precisamos resolver o assassinato primeiro. Quando ela crescer e descobrir, tenho certeza que só terá paz se tudo for resolvido agora.

As palavras dela de alguma forma me trouxeram conforto. Olhei em direção a Vitória que dormia, em um raro momento de tranquilidade. Não é isso que representa a vida adulta? Garantir que as crianças possam ter paz.

— Tudo bem. Vamos deixar ela na casa do meu pai e depois voltamos para Porto Izmael.

— Errado — ela me corrigiu. — Você vai de avião e volta o mais rápido possível. Preciso começar a investigação.

— Nossa, de jeito nenhum. Não vai ficar sozinha nessa cidade, você mesma disse que tem pessoas nos seguindo.

— Não estou em perigo. Até o momento a única coisa que sabem é que somos parentes de Alexandre e se perdermos essa janela de oportunidade, pode ser tarde demais.

Lembrei da forma dissimulada com que minha esposa lidou com os policiais, precisava de mais informação sobre o que estava acontecendo naquela cidade.

— Amor. Me conta o que aconteceu, preciso ter certeza do tamanho do nosso perigo.

— Muito bem. Vamos começar pelo assassinato desta madrugada: Quando descemos do carro, você deve se lembrar que fui procurar algo, antes de nos encontrarmos na frente da casa. Não foi em vão, analisei a rota de fuga e a rua na frente da casa de Helena, encontrei marcas de pneu no asfalto, o assassino em sua pressa deixou um rastro. Tenho quase certeza que era uma picape, o que me frustrou um pouco.

A Sociedade de Porto Izmael (Mistério/Policial/Aventura)Onde histórias criam vida. Descubra agora