Capítulo 20

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Me sentei no banco de madeira no quintal da casa, acenei para um jardineiro que não conhecia. O homem cuidava das plantas, gramados e do pequeno chafariz, geralmente meu pai não renunciava a fazer isso, acredito que a idade o impedia de fazer a manutenção de sua casa como antes.

É uma pena, um dos poucos locais em que meu velho sorria era em seu jardim, contudo o novo jardineiro fazia um excelente trabalho, o lugar continuava acolhedor. Sempre foi meu lugar favorito da casa, naquele mesmo banco me sentava com minha mãe e conversávamos durante horas. Ela me dava todo tipo de conselho útil, com aquela voz mansa e carregada de sabedoria.

Notei a voz de Vitória, ela perguntava por mim, e quando me virei para a porta percebi que ela corria na minha direção com um bicho de pelúcia encardido, um porco que originalmente era rosa, mas que agora pouco tinha daquela cor viva e chamativa de outrora.

— Tio Heitor, tio Heitor! Olha o que a Bertha me deu!

Ela se aproximou esticando o brinquedo, minha recordação foi instantânea, era um brinquedo da infância de Alexandre.

— Puxa vida, faz uns vinte e cinco anos que não vejo esse brinquedo... É o senhor Bacon...

— Que nome engraçado! — Dizia Vitória, dando risada.

Bertha se aproximou depois de um tempo, era difícil acompanhar o ritmo de minha sobrinha.

— Bertha, onde foi que você achou isso? É incrível que ainda exista.

— Sua mãe pediu para guardar no sótão quando seu irmão fez sete anos. Tem muita coisa da infância de vocês.

— Puxa vida. Me lembro muito desse brinquedo do Alexandre. Quando ele era criança e meus pais queriam que ele dormisse sozinho, fiquei com pena dele e fui até a loja da esquina comprar isso. Disse a ele que o nome era senhor Bacon e que o bichinho não gostava de dormir sozinho também, disse que os dois podiam cuidar um do outro.

Bertha levemente emocionada se surpreendeu com minha história.

— Eu não sabia, Heitor. Pensei que era só um brinquedo qualquer, vocês tinham tantos.

— Depois de um tempo acho que passou a ser só mais um, à medida que Alexandre crescia ele passou a ser menos cuidadoso com o senhor Bacon. "Brinquedo de criança", ele dizia.

Vitória por algum motivo inexplicável amou o brinquedo, abraçava o velho e encardido porco como um filhote de cachorro ou outro animal de estimação.

Enquanto brincávamos, meu irmão Átila se aproximou do quintal e acenou para nós, com todo seu bom humor que lhe era a característica mais marcante. Penso que cabe aqui, ressaltar e indicar os filhos da família Garcia, do mais novo ao mais velho: o caçula e agora falecido Alexandre, Aquiles meu esquecido, porém mais astuto irmão, Átila o mais justo e bem-humorado e eu o primogênito que renunciou a tudo.

Átila sempre foi a salvaguarda da família, a estrutura emocional dele para não surtar com os delírios de egoísmo de cada um de nós, era sua marca registrada. Se por um lado eu estava sempre fugindo, e Alexandre causando o caos, por outro Átila tentava ser a sustentação.

— Heitor, seu grande safado! Que saudade de você! — Disse Átila ao me abraçar. — Essa deve ser minha sobrinha, Vitória!

A menina ficou tímida e se escondeu atrás de Bertha.

— Não se preocupe, ela só precisa de alguns minutos para se acostumar com você, Átila.

— Tudo bem, meus filhos não se acostumaram até hoje! — Afirmou Átila, em um tom divertido.

A Sociedade de Porto Izmael (Mistério/Policial/Aventura)Onde histórias criam vida. Descubra agora