XV - Quem vai escolher?

3.2K 340 307
                                    


Sophie contava como as coisas estavam estranhas em sua casa, todos pisando em ovos e como ela estava dando uma de maluca, para sua própria diversão.

-Seus pais vão te internar, isso sim. - Comecei a rir, ela deu de ombros.

-Eu os processaria. - Aquilo me fez dar uma alta e engraçada gargalhada. Ela havia usado um tom ameaçador. Meu sorriso logo se dissipou ao encontrar os de Noah. Parei abruptamente, fazendo Sophie cambalear para trás, já estávamos de braços dados. - Caralho Sammy.

Eu havia tentado me convencer de que havia sido só uma alucinação da minha crise de pânico, mas seu olhar culpado e medroso... Ele havia se denunciado. Funguei, sentindo meu corpo doer.

-Samanta? - Anny se aproximou, o que ela estava fazendo na escola? Respirei fundo e direcionei o olhar para ela. - Me disseram que você me ajudaria... Sou nova na escola. - Billie estava se aproximando, elas haviam vindo jutas? ATA.

-Quem disse? - Foi o que eu consegui dizer. Billie mal olhou em meus olhos, apenas cumprimentou a Sophie.

-O diretor, e a moça da secretária... - Ela coçou a cabeça, parecia perdida. - Eu mudei de escola, então...

-Quem muda de escola nessa época? - Rolei os olhos. Todas me olharam, espantadas. - Sophie vai te mostrar, ela é minha vice.

Soltei Sophie e dei as costas para todos, caminhando vagamente. Quando as coisas começam a ficar ruins, elas não param. Entrei em uma sala vazia e desabei. Cerca de quinze minutos passaram e eu ainda não havia parado de chorar. Tirei a cabeça dos meus joelhos e percebi em que sala eu estava... Eu havia passado muito tempo beijando Billie aqui. Eu precisava desabafar, e eu sabia para quem ligar...

-Fico feliz que tenha me ligado... - Elliot sorriu, prendendo o longo cabelo loiro. Seus olhos me fitavam com preocupação. Limpei o rosto e soltei o ar pesadamente. - Sammy... - Ele acariciou meu rosto. Apesar de ser um dos pais de Noah, ele sempre foi uma pessoa que eu poderia contar a qualquer momento.

-Eu não sei o que fazer... - Coloquei o pé no banco e abracei minhas pernas, apoiando a cabeça nos joelhos de forma lateralizada em sua direção. - Vocês são tão incríveis, como seu filho conseguiu ser tão idiota?

-O que ele fez? - Ele começou a passar a mão em minha cabeça, acariciando meus cabelos.

O contei todo o histórico de maldade gratuita que Becca havia acumulado em relação a mim. Acrescentei o que havia visto, a mensagem e depois a pegação. Ele tinha uma cara de horror estampada.

-Vou falar com esse fedelho... - Ele cerrou os olhos e balançou a cabeça negativamente.

-Não faça isso... - Levantei a cabeça e me encostei no banco do carro. - Não quero que ele termine isso por terceiros, quero que ele mesmo tome essa decisão. Quero que ele testemunhe a idiota que ela é... Droga, será que ele não vê que ela está o usando para me atingir?

Ficamos um longo tempo em silencio.

-Parece que isso não é a única coisa que está lhe atingindo... - Ele virou suavemente no banco, para me olhar melhor.

-Quando você chegou à conclusão de que era gay? E não só beijava homens... - Eu perguntei cuidadosamente.

-Comigo eu percebi que beijar garotas não era legal, e que eu não queria mais fazer aquilo. Eu sempre soube, mas ser filho de militares me provocou uma negação terrível. Eu me odiava, odiava aquele sentimento. Eu não falava para ninguém. Nem para meus melhores amigos, eu sentia um medo terrível e capcioso. No final meus pais não ligaram e me acolheram. Meus amigos verdadeiros não mudaram comigo.

O azul dos teus olhos  (Billie Eilish)Onde histórias criam vida. Descubra agora