XVII - Funny Day

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Eu estava compenetrada em meu livro, jogada sobre a cama. Ouvi um estrondoso barulho, o que me levou a encarar sua origem. Era a porta se abrindo e Billie se jogando em cima de mim. Não consegui conter a risada, mesmo estando irritada, e a ouvi gritar. Ela pulava e segurava em meus ombros, tentando que eu fizesse o mesmo.

-Você viu vadia? - Ela se levantou, puxando-me pelo braço.

-O que Billie? - Voltei a prender o cabelo e peguei seu celular, cujo ela estendia. - Meu Deus... Quantas pessoas... Isso é incrível... - Eu estava tão feliz. Era algo indescritível.

-Vou gravar minha outra faixa segunda. - Ela mordeu o lábio inferior. Parecia uma criança que acabara de ganhar um brinquedo novo. Ela estava radiante. - Eu fui notada.

-Você é incrível, eu sabia que isso iria acontecer. - Segurei em sua mão.

-Fineas está vibrando, é a música dele... Minha voz, porra... - Ela se jogou em minha cama soltando um longo suspiro. - É bom ver algo dando certo...

-Quer fazer compras?

-Calma aí riquinha. - Ela riu, me fazendo revirar os olhos. - Eu, ainda, não estou rica.

-Aposto, quando você ficar, com toda certeza não vai gastar dinheiro. Você odeia pagar por um bolinho. - Dei de ombros. - Lembro de quando você surtou porque eu comprei aquele vestido.

-Setecentos Samanta. - Ela arregalou os olhos, como da primeira vez. - Quem gasta tudo isso em roupa.

-Isso não é nada. - Me senti mimada com seu tom de voz.

-Às vezes eu me sinto de outro mundo perto de vocês. Sophie tem tanto dinheiro que nem sabe o que fazer com ele, Thomas ganha um carro a cada aniversário... Você também ganha carros, gasta tudo isso em um vestido.

-Nem sempre foi assim. - Dei de ombros. - Não para mim.

-Não quero te atingir ou te deixar chateada Sam... Só estou falando que temos realidades diferentes...

-Billie eu morava em um trailer. Meus pais nunca estavam em casa. No natal eu e meu irmão dividimos um congelado, não tínhamos dinheiro para mais. - Pude perceber a surpresa em seu olhar. - Quando abusávamos no café da manhã ficávamos sem a janta. Meu pai resolveu dar um salto no escuro e investir tudo que tínhamos... Deu certo, ou moraríamos de baixo de uma ponte. - Sorri fraco e segurei sua outra mão. - Tenho certeza que você vai continuar indignada com o preço de qualquer coisa, mesmo ganhando milhões.

-Você acha que vou ganhar milhões?

-Eu tenho certeza. - Dei uma piscadela. - E eu não ganho mais carros...

-Porque? - Ela soltou e começou a rolar na cama.

-Matei meu irmão com o último. - Ela não riu.

-Você sabe que não matou ele. - Ela se sentou. - Para de ser ridícula.

-Estou brincando. - Comecei a rir, com sua cara de horror.

-Você é péssima. - Ela empurrou meu ombro. Um silencio constrangedor se instalou. Eu não queria conversar sobre o beijo ou nada que tenha vindo depois dele. Não estava brava por ela não querer, mas por dar desculpas. - Você pelo menos tem aquele vestido?

-Tenho, eu não jogo as coisas fora. - Disse como se fosse obvio.

-Me empresta uma roupa? Estou morrendo de calor. - Ela disse afrouxando a gola rolê que usava.

Billie estava vestindo uma blusa de gola alta preta, bem justa ao corpo. Eu sorri ao vê-la pedir. Seria engraçado vê-la usando minhas roupas. Me levantei e fui até o closet.

O azul dos teus olhos  (Billie Eilish)Onde histórias criam vida. Descubra agora