XXV - Frente à lareira.

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-Porque tá tão obcecado por essa música? - Eu disse ouvindo-o tocar o ukulele. Ele sorriu e parou. Eu estava cortando alguns papeis para enfeitar seus convites de aniversário.

-Acho que ela é sobre você. - Ele atraiu meu olhar. - Ouça-a. Interprete-a. Eu gosto de como ela soa também... - Ele resgatou uma das minhas mãos e me olhou profundamente. - Pode canta-la para mim?

Eu assenti e sorri. Edgar voltou a dedilhar o instrumento e eu a canta-la, ainda cortando os papeis. Dessa vez eu prestava atenção em cada verso que saia da minha boca. Meus olhos estavam marejados, mas eu não deixei que ele percebesse.

-Eu te amo filha. - Ele sorriu. - Tessa está vindo para cá?

-Não, hoje eu disse que ficaria com você. - Eu já havia chegado da escola, o dia foi com menos lágrimas. Billie havia conversado com todos normalmente. Eu havia dito que aquilo não poderia interferir na amizade dela com o grupo. Era sua decisão e eu não poderia crucifica-la por se priorizar.

Eu me descobri ao seu lado, e teria que fazê-lo sem ela. Estava doendo mais do que o previsto. Eu sabia que uma hora que as férias chegariam ao fim e eu teria que lidar com aquela situação, fingir que está tudo bem. Soltei um longo suspiro. Terminei de cortar e comecei a observa-lo.

-Vocês duas estão... - Ele fez uma carinha sapeca me fazendo empurrar sua perna com a ponta do pé. Ele se referia a Tessa.

-Não. - Dei de ombros. - Acho que ela é hetero.

-A Sam... - Ele fez um tom de voz fino e afeminado, imitando-a. - Ela é tão... - Continuou. Ele começou a rir e a tossir.

-Não faça tanto esforço. - Eu disse rindo, mas preocupada.

-Eu vi Billie sair daqui ontem... - Ele tentou não ser invasivo. Eu suspirei e sorri.

-Nós conversamos, ela pediu desculpas... Nada de mais, somos amigas. - Dei de ombros. - Estou feliz em vê-la com todo o sucesso...

-As coisas vão ficar bem meu amor. - Ele deu-me uma piscadela. - Faça um grande favor e pegue uma sorte para seu velho e doente pai.

-Nossa quanto drama para um sorvete. - Comecei a rir o fazendo sorrir.

-Claro que eu não adotaria uma lhama. - Disse indignada. Comecei a rir com a suposição. Era noite de jogos na casa do lago. Eu não iria, mas fui praticamente obrigada a ir. Minha mãe ficaria de olho em meu pai, o que me deixou mais tranquila. Um dos motivos para minha hesitação tinha nome e sobrenome. Billie Eilish.

-Como não? - Ela fez uma voz infantilizada. - Lhamas são tão fofas. - Rolei os olhos e tornei a beber o conteúdo alcoólico do meu copo.

-Eu só não quero ter uma. - Eu disse, sentindo minha barriga doer de tanto rir. Isso se chama maturidade. Eu não odiava Billie, muito pelo contrário. Eu odiava ama-la.

-Elas são engraçadas. - Sophie disse, já alcoolizada. - Eu amo vocês. - Ela disse melodramática. - Vamos jogar "EU NUNCA".

-Não. - Eu joguei a cabeça para trás, sentindo um calor absurdo. Talvez fosse o álcool agindo.

-Eu começo. - Thomas disse, aumentando o tom de voz. - Eu nunca beijei a Samanta.

Uma risada estridente e vergonhosa saiu da minha boca. Todos na roda beberam.

-Espero que tenham apreciado. - Eu disse erguendo o copo e depois bebendo.

-Quando vocês se beijaram? - Sophie disparou para Thomas. Billie pigarreou, bebendo seu suco. Ela nunca colocava álcool na boca, chegava a ser irritante.

O azul dos teus olhos  (Billie Eilish)Onde histórias criam vida. Descubra agora