XXXIX - Café da manhã

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Sophie havia saído da clínica, com alta e visível melhora. Ela estava tomando medicamentos fortes, por conta da tentativa de suicídio. Realmente eu achava que era apenas um bandeide em um vaso totalmente quebrado, ela estava melhor, mas não curada. Eu a conhecia bem para ter certeza de que ela não estava em perfeito estado.

Noah conseguiu a bolsa na universidade da capital, jogaria futebol americano pela universidade, havia recebido a notícia assim que chegamos para contar a notícia devastadora de Becca, então ele esperou para contar. Depois a tentativa de Sophie, não o dando oportunidade para nos dar a novidade.

Thomas não conseguiu uma bolsa, mas seus pais pagariam por seu ensino. O que o deixou extremamente irritado. As notas de Thomas não eram as melhores, mas ele sempre foi esforçado.

Sophie estudaria em Harvard, não como bolsista. Os pais bancariam. Eles deixaram os surtos e o suicídio escondidos debaixo dos panos. O pai de Sophie era amigo do reitor e de alguns professores da universidade, que lhes escreveram ótimas cartas de recomendações.

Becca voltou para casa e o assunto gravidez nunca foi colocado como pauta, não que ela me desse justificativas. Noah havia me contado.

Eu estava sentindo um frio na barriga terrível.

-Pronta? - Tessa falou em meu ouvido. Suas mãos estavam em minha cintura. Todos estavam sentados no quintal. Havíamos montado um tipo de palco para o aniversário. Minhas mãos tremiam. Eu estava vestida à caráter. Dustin havia se recusado a usar roupas coladas. Ele não faria tanto, então isso não suas vestimentas não o atrapalhariam. Ela beijou suavemente meu rosto. - Você é ótima, não esqueça disso.

Quando aparecemos todos começaram a gritar, me deixando com mais vergonha. Fazia anos que eu não me apresentava, ainda mais sem Jhon. Aquilo significava tanto para mim.

Eu estava completamente descrente que esse momento aconteceria, por conta do câncer.

Eu não me tornei a pessoa que eu pensei que seria, acabei me tornando uma pessoa completamente diferente, infinitamente melhor e intensamente feliz.

Eu não era a filha que eu costumava ser. Foi importante mudar, me tornar uma filha melhor. Eu aprendi a entender meus pais, seus motivos. Eles também perderam alguém, entender isso me deixou menos egoísta.

Eu deixei de ser irmã, mas acabei por abrir meu coração para que eu pudesse ver a evolução de uma pessoa que eu nem considerava um parente distante, nem em pensamentos um irmão, mas que agora me seguraria e dançaria na frente de pessoas desconhecidas por mim, pelo nosso pai. E no final simplesmente saber que Jhon nunca me deixaria, e que Dustin faria parte da minha vida. Eu jamais deixaria de ser irmã.

Eu me perdi tantas vezes, incontáveis. Aprendi que isso é completamente normal, é necessário se perder para encontrar seu verdadeiro eu.

Mudar sempre foi assustador para mim. Aquela sensação, de novo, de ansiedade, de medo, me assustava terrivelmente. Mas mudar me ajudou, me melhorou.

Muitos dizem que amores de adolescência são passageiros, mas com toda certeza eu achei o meu amor. Mesmo que não fiquemos juntas, eu sabia que ela sempre estaria em meu coração. Eu sabia que nunca viveria algo com tanta paixão, intensidade, amor. Não podíamos pedir uma a outra para que desistíssemos dos nossos sonhos. Ela sabia disso tanto quanto eu. Em um futuro distante eu nos via juntas, em uma casa antiga, de frente a uma lareira. Infelizmente o tempo não era bondoso. Ele é cruel.

-Pronta? - Dustin sorriu. Eu assenti.

A música que meu pai tanto cantava começou a soar. Ela significava tanto com poucas palavras. Começamos, perfeitamente. Dustin me girou, me segurou e me apoiou durante todo a apresentação. Eu não pensei que seria ele ali comigo, mas eu estava surpreendentemente feliz que seja. Eu podia ver os olhos de Edgar completamente marejados. Seus olhos, que todos seus filhos haviam puxados. A apresentação era curta, mas significativa. A música estava acabando e chegaria a hora do salto. Fizemos como todas as vezes, Dustin me segurou e rodou majestosamente. Eu sentia que meu coração explodiria.

-Foi lindo, querida. - Era um abraço de quatro. Meus pais se desvencilharam e pediram que nós sentássemos em seus lugares. Eles teriam algo para falar. Segurei a mão de Dustin assim que mamãe puxou um microfone, das instalações de som, e o entregou para Edgar.

-Dois dias depois do meu aniversário, meses antes do meu filho partir, descobri que tinha uma doença terrível. Eu tive medo de deixar minha família, tive medo todos os dias. O tempo se passou e eu estava me tratando. Comecei a sentir tanta dor, eu já estava sem forças. Eu ainda não havia contado para Sam sobre, como eu poderia? Ela estava devastada pelo irmão, como eu poderia falar que perderia o pai também. Eu não tinha esperança, eu só vivia, dia após dia. Um bendito dia eu passei muito mal, achei que minha hora havia chegado, e se não havia chegado, estava próxima. Tive que conta-la. Quando eu disse para minha adorável filha, minha bonequinha, que eu tinha câncer e que talvez eu teria que deixa-las, eu pude ver o medo em seus olhos. Naquele momento eu não estava mais acreditando, eu estava tão cansado de lutar, mas naquele mesmo instante, em que eu a olhei nos olhos eu senti uma força incrível. - Ele limpou o rosto. Edgar nunca chorava, mas naquele momento ele chorou. - Normalmente são os pais que dão forças aos filhos, mas ela quem me deu forças. Seu abraço me deu esperança. Hoje de manhã fui recebido com um café da manhã, pelos meus dois filhos e por minha esposa maravilhosa. Todo esse tempo eles me sustentaram, sem chances de que eu desabasse. Tiveram péssimos dias, minhas garotas cuidaram de mim. Se preocuparam o tempo inteiro. Hoje de manhã, depois do café. Eu recebi uma ligação. Havia feito exames padrão, eu os faço toda semana. Me disseram que eu teria que ir até o hospital. Então eu arranjei uma desculpa e fui até lá sozinho, tomado por um medo absurdo. Eu não poderia deixa-las. - Ele suspirou. - Havia tantos médicos na sala. Cada um deles era responsável por cada tipo de procedimento que eu fui submetido. - Ele parou por alguns segundos para respirar. Meus olhos estavam ardendo. Eu podia lembrar de cada momento difícil durante o tratamento, cada parte dolorosa. Dustin apertou minha mão e passou o braço por meu pescoço, acalentando-me. - Todos me olhavam, me pediram para que eu sentasse. Eles teriam uma notícia, esperavam que minha família estivessem comigo. - Mamãe o olhava, provavelmente não sabia de nada disso. Era nítido a preocupação e a surpresa em seu rosto - Hoje de manhã, no meu aniversário, eu descobri que nasci de novo. Não há mais celular cancerígenas. Hoje eu posso dizer que venci o câncer, estou vivo... - Meu coração estava tão acelerado. Minhas mãos estavam tremulas. Caí da cadeira com os joelhos diretamente na grama verde. Coloquei a mão no rosto e deixei que todas aquelas sensações me tomassem. - Eu nunca conseguiria sem minha família.

Senti braços me envolverem, também ali ajoelhados no chão.

Todas aquelas noites sem dormir, todas aquelas lágrimas de preocupação.

Nós conseguimos. Vencemos.  

O azul dos teus olhos  (Billie Eilish)Onde histórias criam vida. Descubra agora