XXIX - Alta

2.6K 226 40
                                    


Abri meus olhos com certa dificuldade. A luz entrava impiedosamente pelas janelas enormes, de vidro, da sala. Meus olhos ardiam. Tomei cuidado para me mover, já que Billie estava debaixo de mim. Pisquei algumas vezes e pude vê-la u estava deitada na volta de seu pescoço e ombro. Eu estava com a lateral do corpo apoiada no sofá e a outra sobre seu corpo. Minha perna estava sobre as suas e meus braços em sua cintura. Apoiei meu cotovelo no sofá e levantei suavemente para encarar seu rosto. Estávamos cobertas por um edredom grosso e macio. Havíamos ficado acordadas até o amanhecer e depois de várias risadas acabamos pegando no sono. Billie havia dormido primeiro e eu apenas me deitei ali para observar sua respiração calma e profunda. Eu podia ouvir vozes do lado de fora, eles haviam acordado. Arregalei os olhos e beijei suavemente os lábios de Billie. Ela nem se moveu. Queria acorda-la de um jeito romântico, mas nosso tempo estava pelo fim. Antes de irmos para o sofá eu havia trancado à porta. Sophie apareceu na janela da sala me fazendo arregalar os olhos. Puxei o edredom para cobrir meus seios e fiz sinais para que ela saísse. Ela abriu a boca em surpresa e assentiu.

-Billie. - Minha voz saiu esganiçada e rouca. Comecei a sacudi-la. Ela respirou fundo e começou a abrir os olhos. - Precisamos vestir roupas... - Ela estava com os olhos semiabertos. Ela bocejou e acariciou minha cintura. Era visível sua feição de sono. Acho que ela sequer ouviu o que eu falei. - Vadia. - Ela fez uma careta.

-Nossa, eu ainda nem fiz nada...

-Bebê eu quero evitar que todos nos vejam peladas. - Beijei novamente seus lábios e escorreguei do sofá e observei a mesa de centro. Nossas roupas estavam dobradas em duas pilhas. Senti meu coração palpitar. - Alguém dobrou e colocou nossas roupas aqui... - Não percebi que eu estava completamente nua em frente à uma grande janela. Cocei a cabeça e comecei a pegar minhas roupas. Bllie prendeu o edredom sobre seu corpo e se esgueirou para pegas as roupas. Ela se cobriu por inteira e vestiu suas roupas debaixo do edredom. Eu deveria ter feito o mesmo já que Sophie assistia de camarote.

-Terminou? - Ela gritou do outro lado me fazendo abrir a boca de surpresa. Aquela vadia... Rolei os olhos e mostrei o dedo do meio. - Nem quero saber onde esse dedo 'tava'. - Ela deu uma piscadela e voltou para a porta da cozinha.

-Sua empregada dorme por aqui? - Eu disse baixo para Sophie. Estávamos tomando café da manhã. Suzie havia feito quase um banquete.

-Dorme lá em cima, porque? - Ela respondeu na mesma altura.

-Minhas roupas estavam dobradas na mesinha de centro. - Eu sussurrei, Sophie sorriu prendendo uma risada.

-Ela é um amor. - Ela deu uma piscadela e voltou a comer. Ótimo, muita humilhação para um começo de dia.

-Comprei seu suco senhorita Samanta. - Suzie disse sorrindo.

-Obrigada Suzie. - Meu rosto pegava fogo, presumo que ele estava vermelho.

-Você vai para o hospital agora? - Estávamos dentro do meu carro. Eu havia oferecido uma carona para Billie. O carro ia diminuindo a velocidade periodicamente, quando finalmente parei frente à sua casa.

-Vou sim, minha mãe precisa comer tomar banho... - Desliguei o carro e me virei suavemente para encara-la.

-Seu pai está melhor? - Ela também se virou.

-Sim. - Eu disse abrindo um enorme sorriso. - A cirurgia foi um sucesso... Ele só vai precisa continuar com as sessões de quimeo... - Mordi o lábio inferior. Eu estava radiante. Billie segurou minha mão, apertando-a suavemente. - Você pode ir vê-lo quando quiser. - Ficamos algum tempo em silencio, apenas nos olhando.

-Sam... A gente voltou? - Ela soou em um tom de voz tão fofo que não consegui reprimir o sorriso.

-Você quer voltar? - Ela mordeu o lábio inferior e sorriu. Ela se aproximou e selou nossos lábios rapidamente.

-Vou pensar. - Ela disse em um tom de voz infantil. Colocou o dedo na boca e olhou para cima. Empurrei seu ombro a fazendo rir. - Nada me parece mais certo que estar com você garota.

-Samanta, você pode parar de passar creme em mim. - Papai fez uma careta. - Eu agradeço todo seu cuidado querida, mas esse tanto de creme é desnecessário.

-Não quero você todo seco. - Rolei os olhos e coloquei o pote de creme sobre a mesa, passando em seus braços. Ele não me impediu, apenas me olhou frustrado.

-Eu não sou um bebê. - Ele falou com voz de criança. - Você falava isso quando eu passava repelente em você. - Dei uma risada balançando a cabeça negativamente. - Você está diferente hoje...

-Pai eu ouvi a música que você tanto cantarola quando estou perto. - Puxei a cadeira para sentar-me ao seu lado. Segurei em sua mão com firmeza. Ele entendeu completamente e sorriu.

Eu achava que era uma pessoa completamente fraca, dependente daqueles que amo. Ao passar dos dias, os piores possíveis, acordando dia após dia eu descobri que sou completamente capaz. E isso não interfere nos meus sentimentos e na demonstração deles. Eu me mantive firme por cada decepção, mesmo triste e chorando, eu estava lá. Eu acordei no dia seguinte e fiz outros passos.

-Você é capaz querida. - Ela segurou em minha mão e beijou as costas dele. - Você era minha bonequinha de porcelana, fiquei com receio de te contar sobre a doença por medo de te estragar, te machucar. Então Jhon nos deixou e você segurou a barra quando sua mãe não conseguia sair da cama. Você acordou e tentou, tentou e conseguiu... Me sinto orgulhoso de você. Quando nós te contamos eu pensei que você desmoronaria, mas você ficou firme ao meu lado. Sorria frequentemente, mesmo chateada e de coração partido, você continuou lá. - Seus olhos se encheram de lágrimas. - Você é forte...

-Licença. - Limpei meus olhos, que estavam marejados, e me levantei. Era um dos médicos do meu pai. Entraram mais dois na sequência. Meu coração começou a se acelerar, todos estavam com uma feição séria.

-Senhor Becker... - O cirurgião deu um passo para frente e nos cumprimentou. - Fui o responsável por sua cirurgia, tudo correu melhor do que o esperado. Estou te dando alta, seu pós-operatório andou muito bem. - Ele assinou um papel e colocou na mesinha ao lado da cama.

-Você está liberado para voltar para casa, mas tem quimioterapia... - Pipper sorriu e fez o mesmo que o médico anterior. Meu coração parecia que explodiria de felicidade. Os outros médicos explicaram mais algumas coisas... Ele não precisaria do tanque de oxigênio.

Nós iriamos para casa. Assim que todos saíram não hesitei em ligar para minha mãe. Ela vibrava do outro lado do telefone. Eu tinha medo de uma melhora repentina e milagrosa, elas sempre resultavam em morte, mas a recuperação de Edgar foi lente e gradativa.  

O azul dos teus olhos  (Billie Eilish)Onde histórias criam vida. Descubra agora