O azul dos teus olhos (Billie Eilish)

XXIII - Dear Daddy

Mamãe decidiu tirar férias e me acompanhar pelos shows de Billie. A melhor semana da minha vida. Ela estava em todos os shows comigo, vibrava e cantava todas as músicas. Mas nossa pequena viagem chegou ao fim. Tereza e eu voltaríamos para casa.

Estávamos no hotel terminando de arrumar as malas. Batidas na porta me fizeram saltar, de susto.

-Vou levar essas aqui para o carro, deve ser Billie. - Mamãe beijou meu rosto e caminhou, carregada de malas, para a porta. Ela tinha razão, era Billie. Meu sorriso se intensificou. Ela entrou no quarto e me envolveu em um abraço forte e carinhoso. Fechei meus olhos e aproveitei aquele abraço... Parecia um abraço de adeus. Ela beijou meu rosto e deu dois passos para trás. Um "frio na barriga" havia se instalado. Meus instintos estavam aguçados.

-Sam... - Ela segurou em minha mão. - Eu te amo tanto.... As vezes chega a doer, machucar. Eu não sei o que fazer com tanto amor. - Seu tom de voz estava diferente. Ela se aproximou e selou nossos lábios.

-Vai me pedir em casamento? - Eu disse rindo, a fazendo rolar os olhos.

-Escuta Samanta... - Ela acariciou meu rosto. Eu podia sentir o contato de seus anéis com meu rosto. Suspirei.

-Vamos ter que ficar mais um tempo viajando. Conseguimos propostas maravilhosas. Vai alavancar nossa carreira. - Um sorriso brotou em meu rosto. Eu sentiria sua falta, mas seria por uma boa cause. Eu almejava seu sucesso tanto quanto ela. Selei nossos lábios com força e me afastei.

-Estou tão feliz por você. - Mas logo meu sorriso se desfez. Mamãe entrou de uma vez no quarto.

-Querida, precisamos ir... - Seu tom de voz estava falho. Algo havia acontecido. - Não demore, por favor.

Ela pegou o restante das malas e desapareceu. Billie sorriu e me beijou. Seus dedos entrelaçaram em meu cabelo. Soltei um longo e pesado suspiro. Tinha tanta emoção e sensações naquele beijo. Parecíamos fora de órbita. Seus lábios desgrudaram dos meus. Sua testa estava colada na minha e suas mãos em meu rosto.

-Eu te amo. - Tentei manter o tom de voz, falhando miseravelmente. Olhei em seus olhos. Eles estavam marejados. Limpei a lagrima que escorria por seu rosto e selei uma última vez nossos lábios. - Vou esperar por você.

-Eu te amo - Ela beijou minha testa e desvencilhou suas mãos de mim, as deixando cair pesadamente ao lado do corpo.

-Porque não me contaram? - Eu mal conseguia respirar. Papai segurou em minha mão com força. Seu rosto estava pálido e seus lábios arroxeados. Ele usava um cateter no nariz, para respirar melhor. Lágrimas escorriam livremente por minhas bochechas. Me sentei na poltrona ao lado da cama de hospital, sem soltar sua mão. Em meio aos devaneios percebi que sua mão estava gelada

-Vai ficar tudo bem, querida... - Mamãe disse, acariciando o cabelo de Edgar.

Meu pai ficava muito fora de casa, mas nunca durante dias. Sempre voltava à noite para o jantar. Um mês antes da morte de Jhonatan ele começou a passar noites fora, sempre cansado e estressado. Nossa mãe passou a trabalhar e a cozinhar mais. Edgar adorava cozinhar, sempre fazia questão de preparar o jantar. Cheguei a cogitar que ele estava tendo um caso, nada justificava todo esse sumiço repentino.

Edgar fora diagnosticado com câncer há cerca de um ano e meio. Ele se afastou do trabalho e passou a fazer um intenso tratamento. Minha família parecia atrair coisas ruins. Meu coração estava pesado, doído. Chegamos em LA e fomos direto para o hospital. Eu achei que papai havia se acidentado, quebrado o pé ou algo do tipo. Mamãe dizia frases curtas e só perguntava sobre Billie, faculdade e coisas banais durante o percurso de volta. Estava tentando disfarçar o nervosismo. Ela não parava de olhar para o celular, quase desatenta ao trânsito. Minha cabeça estava produzindo milhões de pensamentos por segundo. Me levantei, desvencilhando de sua mão. Edgar me olhou e sorriu.