VII - O Beijo

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O ar puro do campo de futebol me fazia pensar. E naquele momento, era o que eu mais precisava.

-Olá estranha. - Ouvi a voz de Jully em meu ouvido, não foi preciso me virar já que ela logo apareceu. Eu estava encostada no prédio.

-Oi. - Eu disse curiosa. - O que você tá fazendo aqui? - Sorri. Tentei soar simpática, ela retribuiu o sorriso.

-Estou em um estágio aqui... Conselheira, ou alguma coisa de ajuda pedagógica... Não sei. - Ela deu de ombros. - Se precisar de ajuda...

-Orientadora. Você faz psicologia, ou assistência social?

-Psicologia. - Ela tirou um cigarro de sua bolsa, juntamente à um isqueiro.

-Você não pode fumar aqui. - Eu disse, olhando para os lados.

-Sério? - Ela disse, já com o cigarro apoiado nos lábios. Ela o acendeu, sem hesitar. Tragou profundamente e virou o rosto para soltar a fumaça para o lado oposto a mim. - Você é muito certinha. - Olhei para baixo, me sentindo uma tola. - Eu acho fofo. - Mordisquei meu lábio inferior, eu costumava o fazer quando estava com vergonha. Voltei a encara-la. Seu rosto era fino, seus lábios bem avantajados. Seus olhos tinham um claro tom de castanho. Jully tinha o cabelo acima do ombro e uma franjinha acima da sobrancelha. Ela usava um lápis em volta dos olhos, que estava discretamente borrado. Ela cruzou os braços, ainda com o cigarro aceso entre os dedos, estava me olhando fixamente. O que começou a me provocar vergonha.

-Fofo? - Levantei o olhar, olhando em seus olhos. Ela deu um passo para frente, ficando com seu corpo extremamente perto do meu, me deixando perigosamente perto de seus lábios.

-Muito. - Ela disse bem baixo, olhando para meus minha boca entreaberta. Senti minha respiração ficar lenta e compassada. Resolvi não me afastar, o que a fez sorrir perversamente. Colocou uma mecha de meu cabelo atrás da minha orelha. Seu perfume se infundiu com o suave cheiro de cigarro, o que ficou estranhamente agradável. Ela olhou em meus olhos e sorriu de lado. - Quando decidir parar de correr atrás de uma garota hetero, me avisa. - Ela beijou suavemente meu rosto, mais especificamente no canto de minha boca, e saiu andando. Eu mal conseguia respirar. Fechei meus olhos com certa força, cobrindo meu rosto. Havia tanta coisa em minha cabeça que eu mal conseguia assimilar. Respirei fundo, buscando o folego que eu havia perdido, e voltei para as dependências da escola, mas me arrependi profundamente. Billie, Noah, Sophie e Thomas estavam em uma rodinha. Assim que pisei no corredor, todos me encararam já que Sophie gritou meu nome. Eu não havia falado com Billie dês de então. Aquele pensamento de rejeição me contaminou, com a suposição que Jully havia feito, e se dissipou por todo meu corpo. Eu não conseguia parar de sentir uma intensa culpa e vergonha. Eu provavelmente acabei com nossa amizade. Nossos olhares se encontraram, senti minha barriga se revirar.

-Senhorita Becker. - Ouvi a voz do diretor, soltei o ar, que eu não havia percebido, que estava prendendo. Completamente aliviada. Eu nunca fiquei tão feliz em ouvi-lo. Me virei quase imediatamente, abrindo um enorme sorriso. - Temos uma nova conselheira, você poderia a colocar à par da situação? A senhora Kindle está de licença maternidade. - Gerard era um homem de 50 anos, bem magro com cabelo grisalho e um grosso bigode, também branco. Seus olhos tinham um tom forte de azul. Pisquei algumas vezes, andando ao seu lado no corredor.

-Claro. - Disse baixo, teria que me encontrar com Jully outra vez. Apenas o acompanhei por um longo período, na minha opinião, mas eu não estava o ouvindo... Só conseguia pensar no maldito beijo e na feição de Billie.

-Samanta? - Ele disse, tocando em meu ombro. O que me fez saltar de susto, parando abruptamente para encara-lo.

-Me perdoe... Estou com tantas coisas para organizar... Pode repetir? - Fui honesta, o que o fez assentir e sorrir.

O azul dos teus olhos  (Billie Eilish)Onde histórias criam vida. Descubra agora