XXVII - Ouvir pelas paredes.

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-Então eu não posso mudar meu horário? - A garota nova insistia. Fiz um total de 0 esforço para não revirar os olhos.

-Eu acabei de te dizer que não. - Eu estava com tantas coisas na cabeça que não consegui ser cordial. Só não desistia do cargo de presidente para não o ceder à Becca. Minhas mãos estavam tremulas. - Pode tentar convencer a vice-diretora...

-Vou falar com ela. - A garota simplesmente me deu as costas e andou rapidamente para o lado contrário. Soltei um longo suspiro e caminhei até o banheiro, eu precisaria lavar o rosto. Adentrei de uma vez, meus olhos pairaram em algo que eu, com certeza, não precisava ver.

Billie e Anny estavam extremamente próximas. Anny estava com a mão no rosto de Billie, que sorria. Elas desviaram um olhar assustado para mim. Respirei fundo e dei alguns passos para trás, saindo do banheiro. Que dia de merda, semana de merda, mês de merda, ano de merda...

-Samanta. - Ouvi meu nome, ela estava em meu encalço. Eu não correria, não mesmo.

-O que? - Tentei soar o menos amigável possível.

-Tem como parar? - Ela havia corrido até mim. Parei abruptamente e me virei instantaneamente, a fazendo parar e quase cair em cima de mim. Dei um passo para trás e cruzei os braços. - Seu pai...

-Se curou do câncer e está bem... Agora você pode parar de sentir essa pena... - Billie rolou os olhos. - Mais alguma coisa Eilish? - Billie estava deixando as coisas bem mais fácil, de uma maneira dolorosa, para mim.

-Eu só estou preocupada com você... - Ela se aproximou. Cerrei os olhos. Ela me pegou em um dia bem ruim.

-Não está não garota. - Balancei a cabeça negativamente. - Sua cota de me magoar acabou, agora volta a me ignorar. Não precisa fingir essa sua preocupação só porque se sente culpada por ter me chutado com um pai com câncer.

Ela piscou e abriu a boca algumas vezes.

-Não estou fingindo porra nenhuma. - Ela levantou o dedo do meio. Abri a boca em espanto.

-Enfia esse dedo em você... - Eu disse indignada.

-Você já fez isso por mim... - Ela engoliu em seco. - Você acha que é a única que se magoa por aqui...

Eu estava emergida em meu livro, sentada em uma das fileiras escondidas da biblioteca. Meu coração batia com angustia e dor, eu só queria um isolamento adequado. Minha cabeça estava nas nuvens então eu tinha feito a grande proeza de esquecer meus fones de ouvido. Mamãe estava no hospital, apenas uma de nós poderia ficar e eu tinha aula, o que me cortava ao meio de aflição. Não queria ficar em casa, era aterrorizante. Encostei minha cabeça na parede. Eu tinha uma boa visão da biblioteca dali, mas era quase impossível me ver, era um labirinto repleto de livros e poeira. Quando eu estava prestes a me levantar pude ouvir uma voz irritantemente conhecida. Ela estava na fileira da frente. Eu podia ver seu sorriso sínico entre os livros, nas frestas. Anny não estava sozinha...

-É aqui. - Billie disse entediada. Aquela estante em especifico tinha um fundo de vidro, daqueles de interrogatório. Ela era espelhada de um lado e do outro era possível ver através. Eu costumava trazer Billie aqui para finalidades interessantes...

-Aqui? - Anny deu um passo em direção a Billie, apontando para um dos livros. Ela o retirou, dando-me uma visão melhor da situação. - Obrigada Bill.

-Eu vou indo... - Mas Anny segurou sem braço e sorriu fraco. Billie não se deu ao trabalho de retribuir.

-Você mudou tanto comigo... Não costumava me tratar dessa maneira. Billie olhou para o chão e soltou um ruidoso suspiro. Eu só queria sair correndo dali, mas elas me veriam se eu saísse.

-Não estou Anny... - Billie jogou a cabeça para trás. - Não é nada com você...

-É aquela garota? - Billie cruzou os braços e enrugou a testa, juntando as sobrancelhas. - Soube que terminaram. - Anny pareceu sentida, colocou a mão no ombro de Billie e a faz carinho. Rolei os olhos. Claro que ela estava triste... Ridículo.

-O que você quer Anny? - Billie pareceu desanimada.

-Você sabe o que eu quero... - Anny deu de ombros. - Mas não vou pressiona-la... - Billie forçou um riso sem humor. - O que ela fez para você chutar ela? - Eu queria xinga-la...

-Como é? - Billie afastou-se, parecendo ofendida. Anny rolou os olhos e sorriu perversamente.

-Você é o ser humano mais meigo e gentil que eu conheço, ela deve ter feito algo muito ruim... - Anny instigou.

-Olha, eu não sou assim... Eu fui na casa dela e pedi um tempo, ela tinha acabo de descobrir que o pai tem câncer... Eu fui da maneira mais terrível egoísta, por medo. - Billie deu de ombros. - Eu magoei, rejeitei a pessoa que eu sou completamente apaixonada... Eu disse que queria focar em minha carreira, mas não consegui pensar em absolutamente nada além de "Samanta". - Anny olhou para baixo. - Quer saber o motivo? - Anny não disse ou expressou nenhuma palavra. - Porque eu a amo tanto que fiquei com um medo absurdo de perde-la, de ser rejeitada. Dela perceber que eu sou um lixo... Então respondendo a sua pergunta... Ela não fez nada, eu que sou uma babaca... - Billie passou a mão no rosto.

-Não gosto de te ver assim. - A morena disse, parecia estar sendo sincera.

-Você está me magoando também Anastasia... Eu não estou interessada em nada além de amizade, se não pode ser minha amiga... - Billie fungou. - Então por favor não me procure...

E eu pensando que Billie me facilitaria esquece-la. Droga, eu não precisava ouvir aquilo tudo.

-A gente estava se entendendo Anny, mas eu sei como você pode ser manipuladora... - Billie respirou fundo. - Eu tinha esperança, agora eu tenho um grande e profundo luto. Você queria afasta-la, então sinta-se orgulhosa.

-Eu não fiz nada Billie....

-Você brotou no banheiro e disse que tinha algo sujo no meu rosto, em vez de me deixar olhar no espelho você me encurralou e ficou passando a mão no meu rosto. - Billie riu sem humor. - Você acha que eu sou inocente como antes, que pode me manipular sem que eu perceba...

-Billie. - Anny falava com uma voz falha, parecia que choraria, mas Billie saiu... Anny suspirou e voltou a chama-la, em seu encalço.

-Você interpreta todos os personagens quando lê-. Noah brincou. Descansei o livro sobre minha perna. Uma boa noticia tomou meu peito, meu pai iria para o apartamento do hospital. Então ele estava, quase, sem risco do pós-operatório.

-Eu acho uma gracinha, ela fazia quando criança... - Papai disse com calma, ele estava usando menos oxigênio e saturando melhor. Eu estava deitada ao seu lado na cama.

-Eu sou uma gracinha mesmo. - Coloquei a mão em meu queixo. Pequenas coisas como: saturação em 92% com oxigênio, em menor quantidade, me enchia de felicidade. Costumava ficar em 78% mesmo com litros de oxigênio. Segurei em sua mão com certa força. Não estava tão gelada como antes. Encostei minha cabeça em seu ombro e algumas lágrimas escorreram.

-Porque está chorando filha? - Não pude ver sua expressão, mas senti sua mão apertar a minha.

-Nada... Só estou feliz. - Noah sorriu e caminhou até meu lado, beijando suavemente meu ombro.


N/A: Não me xinga caralho, postei esse menorzinho, pois vou postar outro ainda hoje. Aqueta o cu. Amo vocês <3

*ps: amo tanto os comentários de você, fico igual boba rindo sozinha. Vocês são top, eu leio todos.  

O azul dos teus olhos  (Billie Eilish)Onde histórias criam vida. Descubra agora