XIII - Brigas e mais brigas.

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-Samanta Becker. - A professor Jones disse, interrompendo minha conversa com Billie. Nos entreolhamos seguindo o olhar para ela. - A orientadora está te chamando, se puder...

-Jully? - Billie disse como um sopro. Engoli em seco e a encarei, temendo pelo que aquilo faria com nossa... Bem, relação? - Tenta não enfiar a língua na boca dela de novo. - Ela disse em meu ouvido, lançando-me um olhar furioso. Ela estava com ciúmes? Eu assenti e me levantei, caminhando para fora da sala.

-Vamos até minha sala. - Foi o que ela disse, assim que fechei a porta atrás de mim. Eu não disse nada, apenas a acompanhei. Me sentei na cadeira de frente à sua mesa. Ela acendeu um cigarro, me fazendo olha-la com receio. Ela tragou algumas vezes, mexendo em alguns papeis. - Olha, sobre a faculdade... Amanhã é sua corrida, certo?

-Isso. - Engoli em seco. Eu estava inquieta e ela só me fez relembrar do grande dia...

-O diretor me pediu para conversar com você, e também pediu para não contar que foi ele. - Ela deu de ombros. - Bom... EU. - Ela ressaltou a palavra. - Queria conversar com você sobre suas opções, te orientar... Olheiros vão vir de longe para assistir à competição estadual. Você tem alguma pergunta? Você vai nos representar, então se eu puder de ajudar em alguma coisa.

-Eu "to" bem. - Me levantei. - Obrigada.

-Não me trate assim, primeiro que foi você quem me beijou. - Jully disse. Eu já estava de costas, parada de frente à porta. - E tá tudo bem, não vai acontecer de novo... - Eu assenti, sem me virar. -Pode por favor vir até aqui? Eu preciso falar sobre outra coisa com você. - Respirei fundo e voltei a me sentar. - Sam... Eu sei que você está brava, mas sua corrida é amanhã. Acho que se você e Sophie conversarem e se resolverem... Vai ser bom.

-Tá me falando isso porque ela é sua amiga, ou porque é seu trabalho? Eu tenho a leve impressão que você não está nem aí para a droga da corrida.

-Você contou da sua sexualidade para ela? - Aquela pergunta me fez engolir em seco. - Acho que todos tem direito de se preservar por um tempo, direito de não expor tudo.

-Era meu irmão, minha casa, minha cama... - Eu disse pausadamente. Eu nem estava tão brava assim com Sophie. Eu fiquei tão irritada por ter sido Stacy, porque no fundo eu sentia algo por ela e foi desolador saber que ela teria feito aquilo comigo. Sophie e Jhon sempre flertaram na minha cara, e eu no fundo os achava fofo. Eu não estava pronta para admitir que era só drama e ressentimento. Me levantei antes que ela dissesse mais alguma coisa. - Se ela quisesse se desculpar, teria vindo falar comigo e não pediria a você.

-Ela não pediu nada para mim. - Ela fez uma pausa. - Ela só me contou o que fez e que tinha sido sincera com você. Talvez você devesse seguir o exemplo dela.

-Talvez você devesse não se meter na minha vida. - Eu disse ríspida. - Sou eu quem vai decidir o que eu devo ou não fazer e na hora que eu vou ou não fazer.

Sai da sala quase pegando fogo de ódio. Caminhei com passos largos e pesados. A aula havia acabado e pude ver Billie no corredor, conversando com alguém. A peguei pelo braço e a arrastei para uma sala vazia. Era nítido a confusão em seu semblante. Contei o que havíamos conversado, e anteriormente eu havia falado sobre Sophie e o que ela havia dito. Ela balançava a cabeça e me observava surtar de raiva. Assim que eu acabei de gesticular e gritar percebi que ela estava me olhando como se eu fosse um filhote de cachorrinho. Rolei os olhos e não pude evitar um sorriso.

-Eu poderia morder você... - Ela disse em um tom infantil. Não consegui conter a alta risada que aquelas vozes, que ela costumava fazer, me arrancava.

O azul dos teus olhos  (Billie Eilish)Onde histórias criam vida. Descubra agora